O grupo parlamentar do PSD vai apresentar um requerimento para ouvir João Wengorovius Meneses no Parlamento. Os sociais-democratas querem que o ex-secretário de Estado da Juventude e Desporto conte todos os detalhes sobre o caso das licenciaturas inexistentes de Nuno Félix, seu antigo chefe de gabinete, e esclareça o que sabe, de facto, sobre o nível de envolvimento de Brandão Rodrigues.

O requerimento do PSD, que vai dar entrada já na quarta-feira, surge na sequência da audição parlamentar de Tiago Brandão Rodrigues. Isto porque, confrontado com as perguntas de PSD e CDS sobre o caso, o ministro da Educação preferiu não falar sobre o tema, o que motivou o protesto dos sociais-democratas e um reparo do grupo parlamentar do CDS.

O tiro de partida, de resto, foi dado pelo deputado do PSD Amadeu Soares Albergaria. “É ou não verdade que, no que diz respeito a nomeações e exonerações consulta o Partido Socialista e a Juventude Socialista?”, começou por perguntar o social-democrata. O deputado não ficaria por aqui. “Interferiu ou não na escolha de Nuno Félix para a nomeação como chefe de gabinete do secretário de Estado João Meneses?” Mais: “Pediu ou não, por email, para que seu antigo secretário de Estado adiasse a exoneração de Nuno Félix? E se o fez, porquê?”, atirou.

O deputado social-democrata acabaria a intervenção a sugerir que se Tiago Brandão Rodrigues não esclarecesse todo o caso estaria “condenado a sair do Ministério pela porta pequena”.

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O ministro da Educação preferiu não responder ao repto do deputado social-democrata, frisando que estava ali para responder apenas a questões sobre o arranque do ano letivo — afinal, tinha sido o PSD a apresentar o pedido de audição de Tiago Brandão Rodrigues para que o governante se pronunciasse precisamente sobre aquele tema.

Os sociais-democratas não gostaram da resposta de Brandão Rodrigues e ameaçaram, logo no arranque da audição, apresentar um requerimento para ouvir Wengorovius Meneses. A insistência do PSD motivou o protesto dos socialistas e a troca de argumentos acabou por subir de tom, com Porfírio Silva a acusar os sociais-democratas de estarem interessados em discutir “casos e histórias” e “não a Educação”. “É uma falta de respeito para a comunidade educativa e para o Parlamento”, atirou o socialista. Os ânimos exaltaram-se de tal forma que Alexandre Quintanilha, presidente da Comissão da Educação, chegou mesmo a ameaçar interromper a audição do ministro se os trabalhos não prosseguissem de “forma civilizada”.

Com os deputados do Bloco e do PCP a repetirem, tal como os socialistas o fizeram, que o PSD não estava interessado em discutir o arranque do ano letivo, a deputada do CDS Ana Rita Bessa acabou por voltar à carga: a democrata-cristã desafiou Brandão Rodrigues a revelar a troca de correspondência eletrónica com João Wengorovius Meneses. “Não se queira transformar na Hillary Clinton portuguesa”, ironizou Ana Rita Bessa, referindo-se ao emailgate que envolve a ex-secretária de Estado dos Estados Unidos e atual candidata presidencial norte-americana.

Apesar das várias questões deixadas por PSD e CDS, Tiago Brandão Rodrigues não desarmou — aquele era um não assunto e o ministro fez questão de ignorar todas as investidas das bancadas mais à direita. Por isso mesmo, os sociais-democratas querem agora ouvir a versão dos factos apresentada por João Wengorovius Meneses e confrontá-la com a versão apresentada pelo ministro da Educação. O requerimento, que conta com o apoio do CDS, tem ainda de ser votado e aprovado pelos restantes partidos. A ser aprovado, a audição do ex-secretário de Estado só deve acontecer depois da discussão do Orçamento do Estado para 2017.