O Valor da Arte é o mais recente livro de José Carlos Pereira, uma publicação integrada na coleção Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS). A apresentação decorreu no passado dia 26 de outubro no El Corte Inglés, perante uma plateia repleta de convidados, amigos e alunos do professor de Estética, História da Arte Contemporânea, Teoria e História da Escultura e Teoria da Arte Contemporânea, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. A sessão foi moderada por António Araújo, da FFMS, e apresentada por Alexandre Melo, escritor e crítico de arte.

José Carlos Pereira explicou ao Observador que O Valor da Arte procura “alertar para um conjunto de aspetos e valores das obras de arte e procura contextualizá-las”, tratando-se de uma síntese que “procura tornar acessível algumas questões que estão intrincadas na obra de arte”, e que são aqui desdobradas. Mas, para explicar o que é a arte? “Não tanto”, respondeu-nos, explicando: “não faz sentido perguntar ‘o que é a arte’”, porque “cada tempo tem uma resposta para essa pergunta”.

E como é que eu sei que estou perante uma obra de arte? “A resposta é sempre dada por cada tempo, obra, artista e por cada experiência estética”. A experiência, uma palavra muito utilizada pelo autor, sublinha a ausência de uma resposta definitiva para a frase que dá nome ao livro.

Consciente do desafio, José Carlos Pereira relaciona autores e pensadores que refletem sobre a arte contemporânea, com o objetivo de conseguir aproximar, divulgar conhecimento, inquietar para uma busca, sobretudo para a “atitude mais acolhedora” da arte contemporânea. É portanto um livro de divulgação e reflexão, sem entrar numa deriva negativa ou otimista (“tudo é arte ou nada é arte”).

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Subjacente a esta análise há uma outra, bem presente nesta obra, que foi também devidamente assinalada pelo escritor e crítico de arte Alexandre Melo: a arte está sempre “em crise”. Por um lado, porque a arte tem uma dimensão política, o que implica sempre uma mudança no modo como se organiza e como se pensa. Por outro, a arte é transformadora por natureza, como nos explicou o autor, “a arte é um modo de transformação individual e social, tem essa força, esse momento”. Usando ainda as palavras de José Carlos Pereira, “é da relação das pessoas com a arte que permanentemente se transforma o mundo. E por isso, por definição, é ou está sempre em crise.”

E em Portugal, somos sensíveis à arte? Estamos a tratar bem dela? O autor responde sem hesitar: “Sim. Há uma transformação enorme da relação da arte com as pessoas, da relação do poder político com a arte [contemporânea]”. O professor da Faculdade de Belas Artes admite que tem havido um grande trabalho de sensibilização por parte da administração pública, quer do poder central, quer do poder local. “Estamos a anos-luz daquilo que era, por exemplo, na década de 80″, acrescenta. José Carlos Pereira não tem dúvidas de que “a arte contemporânea portuguesa é de grande qualidade” e que, apesar de estar paulatinamente a internacionalizar-se, “merecia mais exposição.”

Tal como toda a arte, este último capítulo literário de José Carlos Pereira não tem, nem pode ter, uma resposta definitiva, um ponto final, mas constitui uma reflexão importante sobre a arte contemporânea portuguesa e, sobretudo, aponta caminho.

O Valor da Arte, da autoria de José Carlos Pereira, é um livro integrado na coleção Ensaios da FFMS. Pode ser adquirido nas livrarias e online, na página oficial da Fundação.