Se a memória me atraiçoasse, se o YouTube não guardasse dele os melhores dribles, os golos todos, diria que não é o mesmo. Falo-lhe de André Carrillo. Carrillo foi novela mexicana, ou peruana, durou e durou, mas lá teve final, seria uma “bicada” do Benfica no rival. Diz-se dele, Carrillo, que foi a custo zero para a Luz — mas são muitos os zeros à direita que o seu prémio de assinatura levou –, e diz-se também que apesar de ter estado um ano a ver jogos do alto da tribuna, assim que recuperasse o “pulmão” era ele e mais dez. Não foi. Não é. Dificilmente o será.

No Restelo, e diante do Real Massamá para os “oitavos” da Taça, Carrillo voltaria a ser titular — é só a quarta vez que o é em toda a época –, tinha ali a oportunidade que tanto aguardava, mas o que fez conta-se assim: remate enroscado a0s 37′. Não mais se viu antes ou após. Não se viria no recomeço, pois Rui Vitória trocou-o por Guedes ao intervalo.

A antítese de Carrillo foi Brampoque. Brampoque Serra Silva Sá. Certamente que o primeiro nome lhe saltava da camisola e na ficha de jogo surge somente como “Brás”. Se não o viu frente ao Benfica, digo-lhe que “tem pinta” de Claude Makélélé. A cara é de menino, o B.I. não mente, meia-leca, guineense, camisola desfraldada e a tapar os calções de tão larga, os muitos quilómetros que Brás calcorreou esta noite quase lhe permitiram ir daqui à Bissau natal e voltar. Correu mais Brás esta noite do que Carrillo. Teve mais arreganho Brás esta noite do que Carrillo. Corrijo: teve mais arreganho e correu mais Brás esta noite do que Carrillo numa temporada inteira. Mas um dia de ordenado de Carrillo quase pagará uma época inteira a Brás. É caso para dizer: “Oh André, tu põe os olhos no Brampoque!”

Quanto ao jogo propriamente dito, da primeira parte só há um remate com a direção da baliza para contar. O Benfica até foi melhor – paupérrimo, mas melhor –, mas quem acertou com a pontaria foi o Real.

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Aos 28’, valeu Ederson ao Benfica — como tem valido em muitos jogos desta época e valeria no último dérbi também. E tudo começou num erro: Danilo foi pressionado por Guti no meio-campo defensivo do Benfica, caiu, pediu falta, não lhe escutaria os lamentos o árbitro Jorge Ferreira, Brás atirou-se em contra-ataque, desmarcou Guti — que entretanto correu desalmadamente e deu-lhe uma linha de passe à esquerda –, este driblou André Almeida na esquina da área e rematou em jeito, na direção do poste contrário. E é então que Ederson voa e desvia para canto.

Rui Vitória não gostou do que viu. Carrillo não voltou. Os restante voltaram, mas com vontade de não voltar a “ouvir das boas” – que foi certamente o que Vitória lhes deu ao intervalo: um sermão. 47’. E melhor recomeço o Benfica não podia pedir. De um canto, à direita, Zivkovic cruzou para o primeiro poste com o pé canhoto, Mitrolgou (e mesmo rodeado por adversários, todos pespegados sobre a pequena área) saltou sozinho e desviou de cabeça para o golo. Foi o 7.º golo de Mitroglou esta época. Nos últimos três jogos o grego ficou a zeros.

O Real ia tentando surpreender o Benfica, sobretudo com passes longos para as costas de Lisandro e Jardel — a defesa do Benfica estava quase no centro do meio-campo. Sem sucesso. Érico Castro (sim, o rapaz é “Érico” de batismo) acumulava foras-de-jogo. Não conseguiu chegar ao golo o Real, chegou o Benfica.

Guedes não sabe (desde há muito) jogar mal. E aos 79’ acelerou pela direita, Nuno Tomás tentou acompanha-lo ombro-a-ombro, Guedes escapou-lhe, entrou na área pela direita e, quase sobre a linha de fundo, caiu. É derrubado, sim. Na área? Rés-vés Campo de Ourique, mas sim. Culpa de Tomás, que foi imprudente. Depois, com direito a “paradinha” e tudo, devagar, devagarinho, Mitroglou avançou para a bola de canhota, rematou colocado para a esquerda, Costinha ainda adivinhou o lado, mas nem com asas lá ia buscá-la. O grego gosta da Taça. É o segundo bis (em três no total do ano e das provas) que por cá faz.

Mas não era tudo. Jiménez entrou aos 83’. E três minutos depois, voltou a fazer o que vem fazendo desde há três jogos: “molhar a sopa”. Vindo da esquerda, Guedes leva meio Real atrás de si, desmarca (sem olhar!) Jiménez na área, o mexicano troca a bola de pé, troca com isso as voltas a Nuno Tomás e, apenas com Costinha à sua frente, rematou forte e colocado para o terceiro da noite (com chuva miudinha e futebol miudinho) do Restelo.

O Benfica está nos “quartos” da Taça. Carrillo (que até é do Benfica) dificilmente lá jogará. Pela amostra, não jogará.