Quando percorria as estantes carregadas de livros empoeirados na casa onde os pais viveram, em Ontário, Canadá, Jon Kramer não esperava encontrar aquilo: dois livros, requisitados pelos pais na década de 70 e que nunca chegaram a ser devolvidos à biblioteca. O primeiro instinto foi manter as obras sem levantar grandes ondas. Afinal, quem é que haveria de reclamar os livros 40 anos depois? Mas, depois, mudou de ideias: decidiu escrever uma carta à biblioteca, pedindo desculpas pela prevaricação, fez as contas e passou um cheque no valor de 1.552 dólares, cerca de 1.483 euros, para pagar as coimas combinadas dos dois livros em falta. A decisão deixou os responsáveis boquiabertos.

A história é contada detalhadamente pela Bethesda Beat Magazine e mereceu o destaque da Fox News. De acordo, com a publicação norte-americana, Jon Kramer, de 59 anos, escreveu à biblioteca de Montgomery, em Maryland, Estados Unidos, explicando, com algum humor à mistura, que o amor da família por aquela biblioteca era tal que, aparentemente, decidiram fugir com parte dela.

Antes de passarem pelo Minnesota e de se fixarem no Canadá, os pais de Kramer começaram por viver em Maryland, na costa Este dos Estados Unidos. Foi aí, numa das bibliotecas locais, que requisitaram os dois livros que nunca chegaram a devolver. Kramer haveria de os descobrir de forma fortuita durante uma viagem à casa de família, em Ontário, quando fazia arrumações. Com os livros nas mãos, fez as contas ao que devia e escreveu uma carta à instituição, pedindo para ficar com as obras como parte da herança familiar.

“Tínhamos considerado devolvê-los à biblioteca. No entanto, estes livros tornaram-se (…) uma herança [da família]. Nós, como mordomos da nossa própria história, acreditamos que os livros estarão melhores nas prateleiras que têm ocupado de forma feliz até ao momento”, escreveu Jon Kramer.

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Na carta, o homem de 59 anos pedia, em tom de brincadeira, que os responsáveis da biblioteca não envolvessem o FBI. “Temos a esperança de que não chamem o FBI para denunciar isto como tráfico internacional de bens roubados e que nos permitam manter os dois livros”, apelou Kramer.

Parker Hamilton, responsável pela rede de bibliotecas local, respondeu com fairplay, admitindo que nunca tinha recebido uma carta daquelas em 35 anos de carreira e garantido que o FBI não ia ser envolvido. Mais a sério, Hamilton não escondeu a alegria que aquele gesto lhe causou.

“Estou certa de que os pais dele estarão muito orgulhosas. Acredito que foi criado por pais extraordinários que lhe transmitiram os valores do carácter, da leitura e do amor pela literatura”, elogiou a responsável, citada pela Bethesda Beat Magazine.

Agora, o donativo do homem de 59 anos vai permitir à biblioteca adquirir novos livros. “[O gesto de Jon Kramer] foi um raio de luz”, sublinhou Parker Hamilton. Uma dívida com final feliz.