Um motim na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, a maior prisão do estado de Roraima, no Brasil, provocou a morte de, pelo menos, 33 pessoas. O número, de acordo com as autoridades, pode ainda vir a aumentar, uma vez que os corpos ainda não foram todos contabilizados.

A informação foi divulgada esta sexta-feira pela Secretaria de Justiça e Cidadania brasileira, que confirmou ainda a presença do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e da Polícia Militar no local, garantindo que a situação se encontra “sob controlo”.

Os relatos iniciais davam conta de uma rixa entre duas organizações ligadas ao crime organizado e ao tráfico de droga, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), numa retaliação aos incidentes de segunda-feira no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, que resultaram na morte de 56 reclusos, ligados ao PCC. A hipótese foi entretanto afastada pelo ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes.

À margem da apresentação do Plano Nacional de Segurança Pública, em Brasília, Alexandre de Moraes explicou aos jornalistas que “todos [os que estavam na prisão] eram da mesma fação, do PCC”. Em 2016, na sequência de um motim, os membros da Família do Norte, um braço do PV, foram transferidos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo para um outro estabelecimento.

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“A informação que nós temos é que foi um acerto de contas interno”, entre vários membros do PCC, esclareceu Moraes, citado pelo Estadão.

A Penitenciária Agrícola de Monte Cristo é a maior prisão do estado de Roraima e acolhe mais de 1,4 mil reclusos — o que equivale ao dobro da sua lotação. Também por isso, pela sobrelotação, os incidentes são comuns em Monte Cristo. Em outubro, outros dez reclusos morreram, igualmente vítimas de confrontos entre fações rivais.

Os incidentes desta sexta-feira surgem apenas cinco dias depois de outros 56 reclusos terem sido assassinados no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus. Na terça-feira, o estado do Amazonas (onde fica o Complexo Penitenciário Anísio Jobim) emitiu um alerta para Roraima, alertando para possíveis conflitos entre Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho, conflitos esses que se viriam a registar esta madrugada.

Também se registaram motins noutras cadeias da região de Manaus e dezenas de presos fugiram do Instituto Penal Antonio Trindade. Muitos deles ainda são procurados pela polícia. Outras duas pessoas morreram o estado nordestino de Paraíba.

Os motins prisionais evidenciam a crise do sistema penitenciário brasileiro, cujas prisões estão superlotadas com milhares de presos vivendo em condições sub-humanas. O Governo federal lançou na quinta-feira um plano de segurança nacional, mas não houve sinal de que a iniciativa irá conter no curto prazo a guerra entre membros do PCC, CV e Família Do Norte, consideradas atualmente as três grandes fações que disputam o controlo do tráfico de drogas no Brasil.