Um funcionário do BPI suicidou-se com um tiro de caçadeira nas instalações daquele banco na rua Braamcamp, em Lisboa, esta sexta-feira. Ao Observador, o porta-voz do BPI diz que aquele trabalhador “não estava em processo de despedimento” e que não havia nenhum “conflito laboral”.

Segundo a mesma fonte, o funcionário, que tinha 51 anos e desempenhava funções de “responsabilidade comercial”, tinha feito um “pedido de transferência” daquelas instalações de serviços centrais do BPI para um balcão comercial. Esse pedido foi aceite. “A iniciativa foi dele e não nossa”, explica o porta-voz do BPI. “Não há nenhum motivo para encontrar uma razão objetiva para o que aconteceu”, adianta.

O mesmo porta-voz não quis adiantar ao Observador como foi possível um funcionário entrar no local de trabalho com uma caçadeira. “A matéria tem de ser explicada por quem investiga”, disse. Ainda assim, reconhece que “não é muito difícil fazê-lo”. “Uma arma desmancha-se”, explica, acrescentando que o funcionário em questão era caçador.

Ao Observador, a Comissária Isabel Ramos, da PSP de Lisboa, confirma que foi chamada ao local do incidente “cerca das 13h30” desta sexta-feira. Foi apreendida uma “caçadeira normal”, ou seja, sem qualquer tipo de modificação que pudesse facilitar a sua ocultação, como acontece no caso das caçadeiras de canos serrados.

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Apesar de não confirmar a tese de suicídio, a PSP também não a desmente. Além disso, também confirma que o cadáver apresentava “sinais do uso de arma”. Foram identificadas testemunhas e nenhum suspeito.

O cadáver foi transportado para o para Instituto de Medicina Legal, para “possível autópsia”.

“Este sinal de alerta não deve ser ignorado”

Rui Riso, deputado do PS e presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), afeto à UGT, prefere não estabelecer uma “relação de causa-efeito” entre este caso e as reestruturações que foram e estão a ser feitas na banca. Ainda assim, o dirigente sindical considera que talvez seja altura de se fazer “uma reflexão muito profunda” sobre as consequências da crise na vida dos trabalhadores da banca.

O sindicalista lembra, a propósito, que só na última década a banca “perdeu cerca 20% dos trabalhadores” num processo que se agudizou a partir de 2011. “Os trabalhadores estão agora muito pressionados”, continua. Pressionados pelas instituições, pelos clientes e pela incerteza que tomou conta de um setor que era, até há bem pouco tempo, relativamente estável, analisa Rui Riso. “Existem relatos de casos dramáticos. Casos-limite que afetam as pessoas de forma diferente”, concede.

O SBSI oferece através dos seus serviços de assistência médica e social vários cuidados de saúde, incluindo na área da psicologia, lembra o presidente do sindicato, antes de acenar com outro dado: “Nos últimos 5 ou 6 anos, estas consultas são disponibilizadas de forma permanente e têm esgotado sistematicamente a nossa capacidade. E há um dado inegável: registou-se um aumento de procura com o início da crise”. Seja qual for a motivação que esteve na génese deste caso, conclui Rui Riso, “este sinal de alerta não deve ser ignorado”.

[Artigo atualizado às 20h11 de sábado, 11 de março de 2017, com declarações do presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas]