São daquelas frases que jogadores, treinadores e dirigentes desportivos vão repetindo à exaustão, como um mantra, sempre que o adversário que se projeta no horizonte é teoricamente superior: não, a superioridade mede-se em campo; não, os nomes nas camisolas não contam para nada; não, os cifrões e os milhões não ganham jogos; não, os nossos jogadores são tão bons como os deles; e sim, vamos jogar olhos nos olhos e vamos ganhar.

Não é soberba. Nem presunção. É o que se impõe nestes momentos: falar para o balneário, falar para os adeptos e juntar as onze células que compõem David para tentar derrubar as onze células de Golias. Foi isso que tentou Salvio, na antevisão do jogo contra o Manchester United.

“Eles têm grandes jogadores, mas nós também. Eles têm grandes avançados, nós também; têm grandes médios, mas também confio muito nos nossos. Não sei Herrera é melhor do que Pizzi, ou se Lukaku é melhor do que Raúl ou Jonas. Não sei se o central deles tem mais conhecimento do que o Luisão. Não me sinto inferior a ninguém”, atirou o extremo encarnado, na conferência de imprensa de terça-feira.

Mas não, Salvio, os jogadores do Manchester United são melhores do que os teus companheiros. Mais: provaram-no em campo. E nem precisaram de fazer muito: acertaram posições depois de algum desnorte inicial, aceleraram (ligeiramente) o ritmo, aumentaram a pressão e chegaram com naturalidade à vitória. Sabiam o que tinham de fazer, fizeram um jogo compacto e sereno, controlaram a partida e marcaram um golo que, por ironia das ironias, nasce de um erro de Svilar, o jovem guarda-redes de 18 anos que tinha estado irrepreensível até ao momento.

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Ficha de jogo

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Benfica-Man. United, 0-1

3.ª jornada do grupo A da Liga dos Campeões

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Felix Zwayer (Alemanha)

Benfica: Svilar; Douglas, Luisão, Rúben Dias, Grimaldo; Fejsa, Filipe Augusto, Pizzi (Zivkovic, 59’); Salvio (Cervi, 83’), Diogo Gonçalves (Jonas, 69’) e Raúl Jiménez

Suplentes não utilizados: Júlio César, Lisandro López, Samaris e Seferovic

Treinador: Rui Vitória

Manchester United: David de Gea; Valencia, Lindelöf, Smalling, Blind; Herrera, Matic; Juan Mata (Lingard, 83’), Mkhitaryan (McTominay, 90+2’), Rashford (Martial, 76’) e Lukaku

Suplentes não utilizados: Romero, Phil Jones, Darmian e Ashley Young

Treinador: José Mourinho

Golo: Rashford (65’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Luisão (5’ e 90+2’), Valencia (41’) e Diogo Gonçalves (54’); cartão vermelho por acumulação a Luisão (90+2’)

O Benfica entrou com vontade, justiça lhe seja feita. Rui Vitória apostou em quatro miúdos (quatro estreantes) na prova mais exigente da Europa. Durante largos minutos, o United pouco ou nada fez. Estava perdido em bolas longas, lançadas para as costas da defesa encarnada, que teimava (e bem) em deixar o ataque inglês em fora de jogo. Mas as coisas foram mudando, ao mesmo ritmo que as pernas de Matic (que saudades!, devem pensar os adeptos benfiquistas) iam secando tudo à sua volta. E as pernas dos jogadores encarnados iam fraquejando.

Fraquejaram as de Pizzi, que desesperava o Estádio da Luz a cada perda de bola. Fraquejaram as de Fejsa, que, por fundamental que seja, não chega para tudo. Fraquejaram as de Filipe Augusto, que, quando acertava na marcação, chegava sempre com menos força às bolas divididas. E fraquejaram as de Douglas, que insistia em cometer os mesmos erros de transição. Na defesa e no meio-campo benfiquistas, salvavam-se o velhinho Luisão, o miúdo Rúben Dias e o craque Grimaldo. Mas, a partir da meia hora da primeira parte, o ataque do Benfica já não existia.

O intervalo chegou, com o Manchester United a encostar o Benfica às cordas. A corrida para o balneário parecia uma bênção. Mas o início da segunda parte trouxe a tendência dos últimos 15 minutos da primeira: Manchester confortavelmente por cima, Benfica a tentar respirar e sobreviver.

Com Grimaldo preso em tarefas mais defensivas, Douglas continuava perdido perante os dribles de Rashford, Fejsa continuava sem mãos (ou pés) a medir, Pizzi continuava desaparecido em combate e Filipe Augusto, bem, Filipe Augusto continuava a ser Filipe Augusto: pouco pressionante, pouco esclarecido e pouco influente. E o resto da equipa agoniava perante a falência do meio-campo.

Aos 60 minutos, o primeiro aviso. Rashford bate um canto direto a partir da direita, Svilar estava adiantado, mas salva por cima da barra. Novo canto, nova tentativa, os mesmos intervenientes. O Estádio da Luz suspirava de alívio. Cinco minutos depois, chega o balde de água fria.

Livre para o United bem longe da grande área. Rashford repara na posição adiantada de Svilar e remata direto. O belga de 18 anos recua, recua, recua e agarra a bola, aterrando já bem para lá da linha de golo. O guarda-redes ainda diz que não, jura que a bola não entrou. Mas o árbitro não teve dúvidas: golo para os homens de Mourinho.

A partir dos 65 minutos, os adeptos benfiquistas na bancada e os jogadores encarnados em campo tornaram-se dormentes. Por muito que Grimaldo ainda tentasse, por muito que as entradas de Zivkovic, Cervi e Jonas tenham trazido algum inconformismo à equipa, já nada resultava. O Benfica acabou o jogo sem qualquer remate enquadrado. O Manchester United acabou o jogo com o Benfica no bolso.

Com esta derrota, a terceira em três jogos, o Benfica hipotecou praticamente as suas hipóteses de passar aos oitavos de final da Liga dos Campeões. Na próxima jornada, vai a Old Trafford tentar conseguir aquilo que não conseguiu na Luz e somar os primeiros pontos desta edição da prova milionária.