Jupp Heynckes é muitas vezes tratado por Osram, a famosa produtora de lâmpadas. Porquê? Quando aparece com a face mais rosada, nos jogos ou nas conferências, é sinal que já se começa a chatear a sério. Aquela cara torna-se uma espécie de semáforo onde o vermelho proíbe a passagem. E foi para evitar esses cenários que o treinador que regressou agora ao Bayern instituiu uma série de novas regras no balneário dos bávaros.

Se treinadores no ativo aos 72 anos não há muitos, como Jupp Heynckes não há mesmo nenhum. Antigo jogador e internacional alemão que se notabilizou pelo clube da terra onde nasceu, o B. Mönchengladbach, está no comando do Bayern pela quarta vez desde 1987, quando agarrou na equipa após uma inesperada derrota na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus com o FC Porto que foi a gota de água para a saída de Udo Lattek.

Jupp Heynckes reformou-se em maio de 2013 mas recebeu o prémio de melhor treinador do mundo nesse ano (OLIVIER MORIN/AFP/Getty Images)

Andou depois por Espanha (Athl. Bilbao e Tenerife) com um passagem pelo Eintracht Frankfurt pelo meio, foi campeão europeu pelo Real Madrid, teve um percurso curto no Benfica, voltou a Bilbao e estabilizou de novo na Alemanha, orientando o Schalke 04, o B. Mönchengladbach e o Bayer Leverkusen entre as experiências no Bayern: cinco jogos como interino no final de 2008/09, duas temporadas entre 2011 e 2013. Deu lugar a Pep Guardiola no final dessa época, com Champions, Liga, Taça e Supertaça da Alemanha no bolso.

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“Depois de tudo o que aconteceu nos últimos dois anos, estou pronto para algum descanso e paz. Depois deste sucesso, podia transferir-me para qualquer clube na Europa. Tenho um problema com a finalidade de dizer ‘nunca’, mas posso garantir que não tenho intenção de treinar outra vez. Tive um final que valeu a pena”, destacou numa entrevista ao Der Spiegel

Filho de um ferreiro, o nono de dez filhos de uma família há muito radicada em Mönchengladbach queria ser arquiteto, mas acabou por mostrar-se demasiado bom no futebol para não seguir essa carreira. A jogar e a treinar. Quando estava sossegado com a mulher na pequena vila de Nordhein-Westphalian, cedeu ao “bichinho” que, há mais de seis décadas, o levou ao modesto clube do Grön-Weiss Holt, onde jogou antes de ir para o Borussia. Com tanto tempo de futebol, ele sabe melhor do que ninguém como se fazem campeões. E, após quatro anos de reforma, voltou como objetivo de ganhar todas as provas pelo Bayern com regras bem definidas.

Heynckes num treino com o holandês Robben, o brasileiro Rafinha, o chileno Vidal e o francês Coman (CHRISTOF STACHE/AFP/Getty Images)

Como explicou o Bild, o terceiro melhor marcador de sempre da Bundesliga (só atrás de Gerd Müller e Klaus Fischer) e um dos técnicos germânicos mais titulados começou por mudar logo o uso dos telemóveis. Que, com Ancelotti, era livre; agora, na sala de estar, nas zonas de massagens e às refeições, as comunicações estão limitadas.

Mas há mais, muito mais: os jogadores passam agora a fazer juntos no clube as refeições a seguir aos treinos (uma maneira de controlar também a dieta dos jogadores), estão obrigados a deixar o balneário limpo e arrumado depois de cada sessão, são punidos em caso de atraso em qualquer concentração (para treinos ou jogos), têm de ser educados com as pessoas dos restantes departamentos do clube e ficam limitados na criação dos habituais “grupinhos” que se costumam formar em todos os plantéis. Objetivo? Fazer o que Carlo Ancelotti tinha falhado nos últimos tempos – criar uma verdadeira “família”.

Algo vai mal no reino do Bayern (e até havia jogadores que treinavam às escondidas do treinador)

Para já, as coisas estão a correr bem e, além dos elogios dos jogadores, os resultados têm saído: 5-0 ao Friburgo na Liga, 3-0 ao Celtic na Champions. Mas vem aí um ciclo complicado, com Hamburgo (fora), RB Leipzig (casa) e B. Dortmund (fora) entre jogos da Liga dos Campeões (Celtic e Anderlecht). E esse será o primeiro grande teste a este novo Bayern que está a ser criado por um treinador de 72 anos que estava reformado.