Passaram cinco dias. Faltam dois. Caso o submarino argentino San Juan — desaparecido desde quarta-feira — não tenha sofrido um acidente grave, a guarnição de 44 marinheiros deve ter condições para sobreviver pelo menos ao longo de sete dias dentro do navio. “Está estabelecido e calculado internacionalmente que sete dias é o tempo que um submarino acidentado deve e pode esperar pela ajuda externa”, explica ao Observador o comandante Taveira Pinto, diretor técnico-pedagógico do Centro de Instrução de Submarinos e contacto nacional para os organismos internacionais de salvamento de submarinos.

A cada hora que passa, reduzem-se as probabilidades para encontrar o navio argentino desaparecido e salvar os marinheiros, mas um “mar muito mau, com ondas de seis a oito metros”, segundo Taveira Pinto — à hora a que este artigo estava a ser escrito — podem estar a fazer com que o próprio comandante do navio prefira manter o submarino em águas profundas, às espera de um momento mais indicado para ir à superfície. Isto, claro, num cenário em não tenha havido acidente grave.

Com o mar encapelado e ventos muito fortes, “se o San Juan tem o equipamento de rádio estragado ou a antena partida”, explica o comandante português, é preferível resguardar-se “em emersão profunda, do que vir para cima com o mar tão alteroso”. Taveira Pinto, porém, ressalva não conhecer a doutrina de emergência dos argentinos. “Em Portugal, a prioridade seria fazer uma transmissão em segurança”. Ou seja, quando a tempestade acalmasse. Nas últimas horas, chegou a pensar-se que umas comunicações captadas por um satélite pudessem ter origem no San Juan, mas a Marinha da Argentina tem dúvidas sobre a identidade dos breves contactos via satélite recebidos no sábado, noticiou a Lusa.

Poupar energia, água e oxigénio. Primeiro: o submarino deve estar preparado para ter autonomia durante sete dias, mas o San Juan deverá ter água e comida para mais do que isso, pois deixou terra preparado para navegar durante duas semanas. Se neste caso o problema da água estaria resolvido, há outros que se colocam.

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“A gestão destes sistemas, do ar e da energia, é fundamental”, explica Taveira Pinto. “O que se faz é o seguinte: a bordo, não havendo atividade, reduz-se a energia ao máximo. Anda-se ao lusco fusco. Deixa de haver atividade. Toda a gente se deita para gastar menos energia, consumir menos oxigénio e produzir menos dióxido carbono”. Trata-se de aguentar e esperar que a ajuda chegue.

Outra possibilidade seria enviar sinais para o exterior através de uma balsa salva-vidas, que é disparada para a superfície e que emite sinais de rádio. Mas não parece que os argentinos o tenham feito, sobretudo com aquelas condições de mar.

Quanto às comunicações, há uma probabilidade de o submarino ter uma avaria no rádio HF — tanto que deixou de comunicar desde quarta-feira. Em submarinos daquela geração, com mais de 40 anos, como eram os portugueses, já abatidos, da classe Albacora, há um telefone satélite. Mas não tem ligação a partir do interior. Com explica o comandante Taveira Pinto, “tem de ser do exterior. Se tiverem uma avaria no rádio HF, não há muitos comandantes que mandem um operador para a ponte operar um telefone satélite com o mar naquelas condições”.

Como são as operações de salvamento? Uma operação deste tipo pressupõe “três grandes fases”, explica ao Observador o mesmo especialista militar. “Uma de busca e localização, que termina se o submarino vier a superfície e for encontrado”.

A segunda fase inicia-se quando o submarino é encontrado, mas se mantém no fundo do mar. Identifica-se a sua localização exata com um ROV (Remotely Operated Vehicle), ou seja, um robot submarino que verifica o estado do navio, se está inteiro, se adornou, ou se as escotilhas estão em boas condições. “Nesta fase, podem utilizar-se uma espécie de grandes caixas resistentes e entregar no submarino alimentos, água, ou receber da parte do submarino, fotografias do estado da guarnição”, diz o comandante Taveira Pinto.

A terceira fase é a de resgate e salvamento. O oficial da Marinha portuguesa pertence a uma organização internacional que junta quase todos os 40 países que têm submarinos (só a Coreia do Norte, o Irão e o Vietname ficam de fora). A Submarine Espace and Rescue (SMER). Destes países, porém, só 13 têm sistemas de salvamento de submarinos. Por exemplo, Portugal tem capacidade para a primeira fase de localização de um eventual submarino acidentado, mas já não teria capacidade para proceder ao salvamento. Os países cooperam numa lógica de solidariedade submarinista, tanto que o Reino Unido até disponibilizou ajuda a partir das Malvinas — um território disputado com a Argentina, com quem esteve em guerra nos anos 80.

Segundo Taveira Pinto, “um dos meios mais usados é o chamado sino invertido, ou então pequenas naves com hélices que acoplam à escotilha” e que permitem evacuar a guarnição.

Nas buscas, a Marinha argentina conta com apoios internacionais do Chile, Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Colômbia, Uruguai e Peru que se ofereceram para reforçar a operação. No entanto, as condições meteorológicas têm dificultado as operações de busca por causa de ondas com seis a oito metros de altura. O submarino argentino reportou pela última vez a sua posição na madrugada de quarta-feira, pelo que, passado algum tempo sem comunicação, a Armada decidiu ativar, na quinta-feira, o protocolo de busca.