O político Gerry Adams abandonou este sábado oficialmente a presidência do partido irlandês Sinn Féin, após mais de 34 anos no cargo, sucendendo-lhe Mary Lou McDonald.

Numa convenção extraordinária em Dublin, capital da Irlanda, a que assistiram cerca de dois mil militantes do partido, Mary Lou McDonald foi confirmada como presidente do partido nacionalista irlandês.

“Para dissipar as dúvidas, esta não é uma coroação”, disse McDonald, que durante dez anos foi vice-presidente de Adams e seu braço direito.

Mary Lou McDonald, de 48 anos, será a primeira mulher a assumir o cargo, num processo de transição que se adivinha suave.

Gery Adams, de 69 anos, anunciou em novembro passado a sua intenção de passar o testemunho a uma nova geração de dirigentes, depois de presidir ao Sinn Féin durante 34 anos.

Com a nova presidente, Mary Lou McDonald, o Sinn Féin, a terceira formação na República da Irlanda, procura aumentar a sua base eleitoral no sul, onde o passado violento do IRA (sigla em ingês de Exército Republicano Irlandês) ainda lhes tira votos.

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Já na Irlanda do Norte, uma crise política mantém desde janeiro de 2017 suspenso o Governo de poder partilhado entre protestantes e católicos, uma paralisia que poderá levar o Reino Unido a suspender a autonomia e a governar a região diretamente de Londres.

Na convenção deste sábado, McDonald disse que o seu objetivo é “ganhar eleições” e “completar a ambição de estar no Governo, tanto no norte como no sul”. Ou seja, tanto na República da Irlanda como na região britânica da Irlanda do Norte.

“Não temos que estar de acordo sobre o passado, só temos de concordar que o passado nunca mais deve ser repetido. No resto dos assuntos podemos discordar”, afirmou.

Adams, por sua vez, disse em declarações aos jornalistas que não gosta do julgamento da história a seu respeito. “Sempre tentei fazer o meu trabalho da melhor maneira possível, é tudo o que alguém pode fazer”, disse o agora ex-líder do Sinn Féin.

Gerry Adams é controverso pela sua alegada relação com o exército republicano irlandês (IRA), autor de numerosos ataques sangrentos entre os anos 60 e 90. Enquanto famílias de vítimas do IRA o consideram um assassino, para outros é um dos agentes da paz que gradualmente se instalou na Irlanda do Norte há vinte anos.

No discurso em que se despediu da sua carreira política, Adams lamentou precisamente as pessoas mortas pelo IRA. “É claro que me arrependo. Todas as vítimas e as suas famílias merecem conhecer a verdade e obter justiça”, afirmou o político nascido em Belfast (Irlanda do Norte).

O Sinn Féin, antigo braço político do inativo Exército Republicano Irlandês (IRA), é a terceira força política da República da Irlanda e a segunda da Irlanda do Norte, onde é a principal representante da comunidade católica nacionalista.

O Sinn Féin tem atualmente um discurso anti-austeridade e tem uma posição firme contra o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o que granjeia votos particularmente na Irlanda do Norte, que votou maioritariamente (56%) contra a saída do projeto europeu.

McDonald avisou este sábado, sobre o Brexit, que “não se pode impor uma fronteira na ilha da Irlanda” e que “a Irlanda não será o dano colateral do jogo político dos ‘tories’ [Partido Conservador] em Londres”.