O empresário que representa o ex-vice-Presidente angolano, Manuel Vicente, e que está a ser julgado por corrupção de um procurador do Ministério Público (MP), garantiu esta segunda-feira que nunca tinha ouvido falar de Orlando Figueira e que só conheceu o advogado Paulo Blanco em novembro de 2011. Armindo Pires, o único arguido que ainda não tinha prestado declarações, acusou o MP de “aproveitamento indigno” da amizade que mantém com Vicente.
O empresário de 74 anos, que ainda não tinha prestado declarações por motivos de saúde, explicou que o advogado Paulo Blanco lhe foi recomendado pelo então administrador do Banco Privado Atlântico Europa (BPAE), André Navarro, e que o primeiro encontro com ele aconteceu nos últimos dias de novembro de 2011. Armindo Pires contratou os serviços jurídicos de Blanco em nome de Manuel Vicente — o qual representava fiscalmente em Portugal já desde 2007 — por causa da aquisição de um apartamento no Estoril Sol, aquisição esta que motivou um processo-crime por suspeita de branqueamento de capitais.
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As frases do dia
“O Paulo Blanco recomendou-me que tivesse cuidado porque podia estar sob escuta. Eu entendi que fossem os angolanos, não os portugueses”, disse Armindo Pires.
“O Ministério Público fez um aproveitamento indigno da minha amizade com o engenheiro Manuel Vicente”, disse Armindo Pires.
“Nunca tinha ouvido falar de Orlando Figueira”, garantiu Armindo Pires.
Decisões importantes
A defesa de Armindo Pires e de Manuel Vicente, Rui Patrício, entregou mais um requerimento a pedir a audição presencial de mais duas testemunhas: Manuel António Costa, que foi administrador da Primagest, e Agostinho Afonso, beneficiário final da Primagest. O tribunal ainda não deliberou.
Quem foi ouvido
Vítor Carneiro, administrador da Coba.
Quando é a próxima sessão
Terça-feira, 27 de fevereiro.
O MP acusa-o de, juntamente com o advogado Paulo Blanco e em representação de Manuel Vicente, ter corrompido Orlando Figueira, pagando-lhe 260 mil euros para arquivar os processos que tinha em mãos no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). Nestes processos, Vicente era suspeito de branqueamento de capitais.
A procuradora Leonor Machado perguntou-lhe, então, porque é que num mail que enviou a Manuel Vicente referia que Blanco tinha sido indicado pelo banqueiro Carlos Silva. “Porque creio que Manuel Vicente não conhecia André Navarro e assim saberia ter sido indicado pelo BPAE”, garantindo que foi Navarro quem lhe deu referências do advogado, que à data representava o estado angolano em vários processos. Armindo Pires, que conhece Manuel Vicente há mais de 30 anos, garante que Manuel Vicente e Carlos Silva não mantêm relações de amizade ou profissionais. O engenheiro afirmou também desconhecer o procurador Orlando Figueira. “Nunca tinha ouvido falar dele, só depois do processo”, garantiu durante a tarde. De manhã, o representante de Manuel Vicente acusou o MP de ter feito um “aproveitamento indigno” da sua “amizade com o engenheiro Manuel Vicente”.
Armindo Pires explicou que raramente resolvia assuntos por telefone, por causa do seu “problema de audição”, embora Paulo Blanco o tivesse avisado para ter cuidado nas comunicações porque podia estar sob escuta. “O Paulo Blanco recomendou-me que tivesse cuidado porque podia estar sob escuta. Eu entendi que fossem os angolanos, não os portugueses”, disse
— E mails é muito moderno para a nossa idade?, ironizou a procuradora.
— Não, mandava alguns mails, respondeu Armindo Pires.
Um desses mails mostram uma reunião que teve no Millennium BCP, com André Navarro (que antes era do BAPE). E o juiz presidente, Alfredo Costa, aproveitou para perguntar-lhe se, como acusa o MP, essa reunião serviu para “contratar” Orlando Figueira. “Não. A minha agência de viagens vendia mais de um milhão de euros em viagens por ano ao Millennium. A reunião foi para tratar disso. E nessa altura já Orlando Figueira lá trabalhava. E eu não sabia”, disse o empresário.
O empresário explicou que é amigo de Manuel Vicente e que este o vê como alguém bem relacionado em Portugal para os seus negócios. Aliás, acabou por comprar-lhe o apartamento no Estoril Sol por 4,3 milhões e vai agora vendê-lo por 5,2 milhões. “Depois destes processos, o Manuel Vicente disse-me que não queria ter mais bens em Portugal”, disse.