A nova peça coreográfica de Olga Roriz intitula-se “A meio da noite”, é uma homenagem ao realizador sueco Ingmar Bergman e vai ter estreia absoluta a 27 de abril, no Teatro Nacional São João, no Porto. De acordo com a Companhia Olga Roriz, esta nova criação vai ter apresentações a 27, 28 e 29 de abril, resultado de uma coprodução com o Teatro Nacional São João, o Teatro Municipal de Bragança e o Teatro Municipal de Vila Real.

Celebrando o centenário do nascimento do dramaturgo e cineasta Ingmar Bergman (1918—2007) e as comemorações do dia internacional da Dança, a 29 de abril, a peça estreia-se no âmbito do Festival Dias da Dança, de acordo com um comunicado da companhia.

À estreia absoluta antecede-se uma residência artística em Leiria, a convite do Festival de Música de Leiria, que originará uma antestreia do espetáculo, já no sábado, no Teatro José Lúcio da Silva, às 21h30.

A minha abordagem a outras obras, outros autores. Processos e percursos de criação. O método dentro do método. Pesquisa fora e dentro do pensamento. Os intérpretes e os afetos. A mais secreta intimidade”, define assim a coreógrafa este seu trabalho, num texto citado pela companhia.

Revisitando o universo de Bergman, “A meio da noite” reúne “a dança o teatro e o cinema à procura de um outro lugar”.

“Poucos realizadores conseguiram encontrar profundidade no interior do ser humano. Os seus sonhos cheios de pesadelos foram a base inspiradora de muitos dos seus filmes, onde nos quais espaço e tempo se desvanecem do real. A impossibilidade de comunicação, a religião e a morte são as temáticas mais obsessivas de Bergman”, aponta a criadora, sobre a obra de Bergman.

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Olga Roriz recorda ainda que, “apesar de lhe interessar qualquer ser humano, seja homem ou mulher, Bergman não esconde gostar mais de trabalhar com mulheres, afirmando que são melhores atrizes, talvez porque têm uma relação mais aberta com a sua reflexão”.

“A verdade é que as mulheres de Bergman não são um mito, elas existem em todo o seu esplendor e complexidade. As referências são esmagadoras, tanto na quantidade como na dificuldade de análise e interpretação de cada personagem. É nessa visão do realizador que nos iremos inspirar, nesses homens e mulheres assustadoramente reais, na solidão em luta constante com o interior”, explica, sobre a peça inspirada na visão do cineasta.

“A meio da noite”, sendo um espetáculo que se propõe abordar a temática existencialista do encenador e cineasta Ingmar Bergman, é simultaneamente uma peça sobre o processo de criação “numa procura incessante de si próprio e dos outros”. A nova coreografia de Olga Roriz “é uma profunda homenagem a Ingmar Bergman, aos atores dos seus filmes e aos intérpretes da Companhia”.

Com direção de Olga Roriz, a peça tem como intérpretes André de Campos, Beatriz Dias, Bruno Alexandre, Bruno Alves, Catarina Câmara, Francisco Rolo, e Rita Calçada Bastos.

A banda sonora reúne músicas de Johann Sebastian Bach, Erik Satie, Primal Scream, Michelle Gurevich, Franz Schubert, Frédéric Chopin, Piotr Ilitch Tchaikovsky, Richard Wagner, Dolf van der Linden, Erhard Bauschke, Giovanni Fusco, Jefferson Airplane, excertos sonoros do filme “Metropolis” (1927), de Fritz Lang, “Persona” (1966), de Ingmar Bergman, e uma entrevista ao realizador. A seleção musical é de Olga Roriz, João Rapozo e dos intérpretes.

A cenografia e figurinos são de Olga Roriz e Ana Vaz, o desenho de luz de Cristina Piedade, vídeo de Olga Roriz e João Rapozo, desenho de som de Sérgio Milhano, fotografia de Alípio Padilha.

Em 2015, Olga Roriz assinalou 20 anos da companhia em nome próprio e 40 anos de carreira, com a apresentação da peça “Propriedade Privada” (1996), no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. O seu repertório na área da dança, teatro e vídeo é constituído por mais de 90 obras.

Nascida em Viana do Castelo, em 1955, Olga Roriz estudou ballet clássico e dança moderna com Margarida Abreu e Ana Ivanova, ingressou na Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa e tornou-se primeira bailarina do Ballet Gulbenkian, onde foi depois convidada a coreografar.

Em 1995, viria a criar a Companhia Olga Roriz, atualmente instalada no Palácio Pancas Palha, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa. Entre outros prémios, foi distinguida com a insígnia da Ordem do Infante D. Henrique (2004), Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores (2008) e o Prémio da Latinidade (2012). No ano passado foi distinguida com o título de doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro, por distinção nas artes.