No futebol há momentos diferentes, defensivos, ofensivos, momentos em que o que se impõe é o contra golpe, outros há em que o que é preciso é serenar. Que ninguém lhe pedisse um momento!

Se a redonda de cabedal tocasse os pés de Moussa, ele correria, correria sempre, aquela força bruta de Moussa levaria à frente quem viesse pela frente, até ao fim do campo, até ao fim do mundo. Não era teimosia aquilo; aquilo era pureza. Futebol ele jogava desde miúdo, lá na sua rua, uma tal de rua 14, lugar pobre dos subúrbios de Paris. Mas ao futebol, de relvados e não de ringues de cimento, só chegaria tarde, sem ter formação nenhuma, já com 21 anos e para ser avançado do modesto Évry, dos campeonatos distritais parisienses. Isto em 2012. A ascensão foi meteórica. Talvez demais.

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FC PORTO-V. SETÚBAL (5-1)

Estádio do Dragão, no Porto

Primeira Liga NOS 2017/2018 (Jornada 31)

Árbitro: João Pinheiro (AF Porto)

FC Porto:  Casillas; Ricardo Pereira (Maxi Pereira, 73′), Marcano, Felipe e Alex Telles; Sérgio Oliveira, Herrera, Brahimi e Corona; Marega (Óliver Torres, 63′) e Soares (Gonçalo Paciência, 75′)

Suplentes não utilizados: Vaná, Diego Reyes, Paulinho e Hernâni

Treinador: Sérgio Conceição

V. Setúbal: Cristiano; Patrick, Vasco Fernandes, Nuno Reis e Yohan Tavares; José Semedo, Tomás Podstawski, Costinha e Wallyson; João Amaral (Yannick Djaló, 64′) e Edinho (Arnold, 77′)

Suplentes não utilizados: Trigueira, Pedro Pinto, Pedrosa, Jacob e Emrah Bassan

Treinador: José Couceiro

Golos: Marega (6’), Marcano (13’), Brahimi (16’), João Amaral (25’), Corona (35’) e Alex Telles (72′)

Ação disciplinar: Cartão amarelo para Ricardo Pereira (41’), Maxi Pereira (89′) e Arnold (91′)

Três anos volvidos e o Porto recruta Moussa Marega na Madeira. Mas naquela segunda metade da época tudo lhe correia mal e era a chacota dos próprios adeptos. Um remate tanto podia acertar na baliza como no pobre coitado que estivesse atrás desta. Uma receção era coisa que para Marega mais parecia um desafio contra as leis da física. Acabaria emprestado em Guimarães. E regressou para ser decisivo nos portitas, muitos dizem mesmo que ninguém é tão decisivo quanto Moussa Marega, que há um com e um sem ele.

Como é que se tornaria tão decisivo?

Parte do mérito é de Pedro Martins, treinador que no Vitória lhe ensinou o bê-á-bá do futebol que Marega nunca aprendera na meninice. Outra parte tem que ser de Conceição, que apostou nele até quando todos o queriam longe. Mas a “culpar” alguém, culpe-se um francês, Fabien Delporte, amigo de Marega, seu antigo colega no Évry que hoje é o “mental coach” do avançado portista. Delporte serenou-o. A força bruta permanece imaculada. Mas à força aliou a razão.

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Muitos acusaram Conceição de se ter como que acobardado em Alvalade, optando por segurar o encontro com Reyes ao invés de o ter resolvido com Marega, que tudo viu desde o banco. Conceição reagiu. E explicou que se tivesse utilizado Marega naquele jogo o perderia para o resto da época. Se o tivesse perdido, Marega não estaria esta segunda à noite a defrontar o Vitória. E Marega foi decisivo com o Vitória.

Logo ao minuto seis, Telles cruza à esquerda, Soares saltou na grande área mais alto do que Nuno Reis e cabeceou. O desvio é à figura de Cristiano. Problema: o guarda-redes dos sadinos deu uma fífia, largou a bola e deixou-a à mercê da recarga de Marega. Marega não falhou. E fez o seu golo 21. É o goleador-mor dos portistas. Os sadinos, recolhidos à defesa, sufocavam. Ao minuto 13, canto à direita, Telles bateu-o para a pequena área e Felipe cabeceou forte. Cristiano defenderia para a frente, ninguém do Vitória cortou e Marcano, de costas para a baliza, só encontrou uma forma de fazer recarga: acrobaticamente. Não foi à Ronaldo, não vai dar um fotografia de fazer manchetes mundo afora, mas lá que foi de bicicleta, foi. E a bola entraria na baliza por entre as pernas do guarda-redes.

A defesa do Vitória é uma avenida nesta altura. Felipe, lá de trás, abre na frente em Marega, o maliano levou Yohan Tavares à frente, entrou na grande área, cruzou, o crunzamento encontraria Brahimi, e o argelino, com tempo de sobra, escolheu o lado para onde rematar e bateu Cristiano pela terceira vez.

Tudo resolvido? Não. Ainda não. À direita, Patrick lançou rápido, tabelou com Costinha e cruzou na linha. Ao primeiro poste, para desviar de primeira, estava João Amaral. A defesa portista ficou estranhamente sem reação ao ataque rápido do Vitória. O minuto era o 25. Apesar de ter sofrido três golos quase de enfiada em pouco mais de 15 minutos, o Vitória cresceu após o golo de Amaral. Não é que estivesse a incomodar Casillas na baliza. Mas finalmente conseguia ter bola, até atacava, e isso permitia que os avançados portistas viessem incomodar, eles, Cristiano na baliza contrária. Dez minutos volvidos, incomodaram: Felipe encontraria Marega na frente e prontamente o maliano libertou a bola para Ricardo. Na linha de fundo, Ricardo cruza atrasado e Corona rematou de pé esquerdo à entrada da grande área. A bola ainda desviou em Semedo e Cristiano nada podia fazer para evitar o quarto.

Os portistas que frente ao Sporting, na Taça, não fizeram qualquer remate em Alvalade durante 120 minutos, terminavam o primeiro tempo com nove, seis enquadrados.

Marega foi o primeiro a regressar do balneário. E regressou com o preparador físico. Conceição queria ter a certeza que não se lesionaria, que não o perderia para o pouco (mas que vale ou poder valer tanto) que falta jogar ainda. Jogaria mais 18 minutos e acabou por dar a vez a Óliver, saindo aplaudido de pé por bancadas que antes o apuparam. Do banco, Marega ainda viu o quinto golo portista. Foi ao minuto 72: o livre era à entrada da grande área, foi lá que Nuno Reis derrubou Ricardo, ligeiramente descaído para a direita e pedir uma canhota. Chegou-se à frente a de Alex Telles. Sérgio Oliveira também lá foi mas aquela era do Alex. O livre sobrevoou a barreira e entrou no canto superior direito da baliza, aquilo a que no dicionário do futebolês se convencionou denominar a “gaveta”.