Dois vídeos que mostram grupos de brasileiros a assediar mulheres russas durante o Campeonato do Mundo tornaram-se virais e estão a causar revolta no Brasil. Num desses vídeos, três homens — agentes da autoridade ou políticos — surgem a pedir a mulheres russas que não sabem falar português que repitam frases obscenas para a câmara. Os participantes já foram identificados e dois deles foram detidos esta terça-feira pela Polícia Federal.

A identidade dos homens já foi tornada pública pela Polícia Militar de Santa Catarina. Um dos homens é Diego Valença Jatobá, que foi secretário de Turismo de Ipojuca e que é natural de Recife. Outro é o tenente Eduardo Nunes, que está destacado em Lages e contra o qual a Polícia Militar abriu “um processo administrativo-disciplinar para apurar a conduta irregular do militar” assim que ele chegou ao Brasil. O terceiro homem é o engenheiro civil Luciano Gil Mendes Coelho, natural de Picos, que foi secretário de Saúde e da Educação do Estado do Piauí. Luciano também trabalhou como engenheiro civil na Prefeitura de Araripina, em Pernambuco e já foi membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do mesmo estado.

Luciano, que foi detido pela Polícia Federal assim que regressou ao Brasil, já era conhecido das autoridades, recorda a Folha de S. Paulo: o engenheiro civil, que tirou o doutoramento em Portugal, foi detido em 2015 no âmbito de uma operação da Polícia Federal que investigava desvios de recursos públicos e fraudes em licitações na prefeitura de Araripina.

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O envolvimento de Luciano Coelho neste caso — que justifica as atitudes com o consumo excessivo de álcool — levou o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Piauí a enviar uma nota de repúdio sobre o vídeo, que adjetiva de “infame episódio de misoginia e sexismo”: “O exercício da engenharia abrange a promoção da segurança, da qualidade de vida, da sustentabilidade, da proteção aos valores mais caros da experiência profissional e não o protagonismo de cenas lamentáveis e vergonhosas que desrespeitam a mulher, estrangeiros ou qualquer pessoa”.

No segundo vídeo, onde os participantes também pedem a mulheres que não falam português para repetirem frases referentes aos órgãos sexuais femininos, um dos homens que aparecem nas imagens foi identificado como sendo Felipe Wilson, supervisor de voos da LATAM Airlines Brasil. Isto foi confirmado pela própria companhia aérea no Twitter.

Entretanto, Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher, do Centro do Interesse Feminista e de Género, já reagiu aos vídeos: “Infelizmente esse vídeo foi visto por milhares de pessoas. Não é uma brincadeira. Quem não é racista não vai se sentir à vontade para ‘brincar’ com algo que ofenda os negros. Usam essa desculpa de brincadeira para maquiar o racismo, o machismo e por aí vai”.

Segundo ela, o facto das mulheres desconhecerem a língua serviu para as enganar: “A figura que eles representam é a da nossa sociedade hetero, patriarcal, branca, colonial e racista. Resumiram essa mulher e todas as outras, porque também me senti ofendida, agredida e menosprezada, a uma genitália. Não há justificativa para um ato violento e desprezível como esse. Nem o fato de estarem no ambiente, muitas vezes, bélico e violento do futebol. Depõe contra todos nós”.

Entretanto, um terceiro vídeo com homens colombianos a constrangirem mulheres veio à tona da Internet na última terça-feira e também já teve repercussões na América do Sul. Depois do jogo entre a Colômbia e o Japão, um homem filmou-se a pedir a mulheres japonesas que dissessem palavras ofensivas sobre elas mesmas sem que elas soubessem o significado porque não sabiam falar castelhano. Antes disso, homens argentinos filmara mulheres de nacionalidade desconhecida a repetirem palavras em castelhano referentes a práticas sexuais.