O juiz considerou que existem provas suficientes para acusar formalmente o casal que acorrentou os 13 filhos na própria casa, anunciou esta quinta-feira o Ministério Público do Condado de Riverside, na Califórnia (costa Oeste dos Estados Unidos). O juiz Bernard J. Schwartz agendou uma nova sessão no tribunal para 3 de agosto — onde os pais serão formalmente acusados.

Louise e David Turpin (que protagonizaram o caso que chocou os Estados Unidos e o mundo, no início deste ano) declaram-se inocentes face às dezenas de acusações que enfrentam, que incluem tortura, prisão ilegal e abuso infantil. O pai também se declarou inocente pela acusação do crime de um “ato obsceno” contra  “uma das crianças”, por suspeitas de ter tocado “inapropriadamente” numa das filhas menores de 14 anos.

A decisão do juiz foi tomada depois de uma audiência preliminar na quarta-feira em que foram apresentadas as provas recolhidas pelas autoridades. Entre estas está a chamada que a filha de 17 anos fez à polícia quando conseguiu fugir da casa que ficou conhecida como casa dos horrores.

“A casa [dos horrores] estava tão suja que não conseguia respirar”

“Não sei. Nunca saí de casa. Não sei os nomes das ruas”. Esta foi a resposta de Jordan Turpin quando lhe pediram a morada. A jovem de 17 anos tinha conseguido ligar para o 911 (o equivalente norte-americano do 112) para denunciar os pais. Na madrugada de 14 de janeiro, Jordan fugiu de casa através da janela do quarto. Levou consigo o telemóvel que o irmão mais velho tinha posto no lixo. Disse-lhe que só servia para ligar para o 911. Mas era mesmo esse o número para o qual queria ligar.

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Fugi de casa. Somos maltratados. Os meus irmãos estão acorrentados”, disse a filha de 17 anos ao operador.

Foi a chamada que levaria à libertação dos irmãos. Tal só foi possível porque Jordan conseguiu fornecer o código postal. Combinaram um ponto de referência e dois agentes da polícia foram ao seu encontro. Enquanto as autoridades iam a caminho, Jordan relatou ao operador o que viria, dias mais tarde, a aparecer em vários os jornais do mundo. Por exemplo: “A casa estava tão suja que, às vezes, não conseguia respirar. Jordan revelou também que, na altura em que viveram no Texas, os pais ficaram a viver numa rolote durante quatro anos e raramente apareciam na casa onde deixaram os filhos sozinhos.

Dentro da casa dos horrores. As explicações psicológicas para o caso dos 13 filhos acorrentados

Filha fotografou os irmãos magros e sujos, para mostrar à polícia

Os pés descalços de Joanna Turpin, de 14 anos, estão quase pretos. Está acorrentada a um beliche de madeira. Tal como Julissa Turpin, de 11 anos. De cabelo comprido, calças de ganga e uma camisola cor de rosa com uma imagem da Minnie Mouse, olha para o chão com uma expressão triste. Está muito pálida e magra — o diâmetro do seu pulso era do tamanho de um bebé de quatro meses.

As imagens das duas irmãs foram também projetadas no tribunal. Foram apenas algumas daquelas que Jordan Turpin conseguiu tirar com o seu telemóvel. O objetivo seria guardá-las e mostrá-las às autoridades quando conseguisse fugir, como prova daquilo que estava a acontecer na casa dos horrores. Os esforços de Jordan iam além das fotografias: a jovem — que acabaria por conseguir fugir — tinha um canal secreto no YouTube onde denunciava os pais através de músicas. “Culpam-me por tudo, culpam-me de todas as formas, culpam-me pelo que eles dizem, o que eles dizem”, revela numa das letras.

[Veja os vídeos que a jovem publicava no Youtube e uma conversa em que falam sobre o pai]

Os inspetores mostraram ainda fotografias tiradas já depois dos 13 filhos dos Turpin terem sido hospitalizados. Além dos braços magros — que revelam “desnutrição severa” –, as imagens mostram também a sujidade que apresentavam depois de serem resgatados. De tal forma que era possível ver as marcas das correntes: nessas zonas, a pele estava branca. Outras fotografias mostravas as roupas que as crianças estavam a usar no momento em que foram resgatadas. Os inspetores explicaram que as peças de roupa estavam tão sujas que tinham bastante peso.

Os 13 filhos revelaram às autoridades que eram agredidos e viviam na escuridão. Acordavam às 23h00 da noite e iam dormir às três da madrugada: em média, dormiam cerca de 15 horas por dia. Só saiam do quarto para comer, lavar as mãos e os dentes. A mãe, Louise, chamava os 13 filhos, um a um, para comer. Eles iam até à cozinha, comiam em pé — só havia sandes de manteiga de amendoim e burritos congelados — e depois voltavam para o quarto.

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