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Cadela terá sido a única a detetar som do disparo que tirou a vida do suspeito de ter sequestrado agente do Corpo de Segurança Pessoal
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Cadela terá sido a única a detetar som do disparo que tirou a vida do suspeito de ter sequestrado agente do Corpo de Segurança Pessoal

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Cadela terá sido a única a detetar som do disparo que tirou a vida do suspeito de ter sequestrado agente do Corpo de Segurança Pessoal

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Sequestro de PSP. Cadela ladrou, mas vizinho só despertou com desespero: "Ajuda-me!". Os 4 minutos após o tiro e as 2h até PJ ser acionada

Morador do prédio revela ao Observador que vizinho que auxiliou polícia terá sido alertado às 3h, tendo a equipa da PSP chegado quatro minutos depois. Já a PJ só foi acionada às 5h10.

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A cadela já tinha ladrado, mas no apartamento ao lado só se terão apercebido quando a campainha tocou com um pedido de socorro: “Ajuda-me! Fui assaltado”. O vizinho, também polícia, estaria ainda meio adormecido mas apressou-se a ir até ao patamar da escada. Nunca terá entrado no apartamento onde o disparo foi feito, mas apercebeu-se logo da gravidade do que tinha acontecido — lá dentro estava um homem morto. Entre os vizinhos do prédio, onde só vivem agentes da PSP e respetivas famílias — e que só falam sob anonimato –, sabe-se que foi nessa altura que foram chamados reforços e entrou em ação uma equipa da Divisão de Investigação Criminal da PSP. Eram 3h04 de segunda-feira. Daí até à comunicação ao piquete da PJ — que tem competência para investigar homicídios — passaram mais de duas horas.

Se parede com parede ninguém terá dado conta, é ainda mais improvável que os outros vizinhos se tivessem apercebido. Um deles diz mesmo ao Observador que o tiro no peito do alegado assaltante deve ter sido à “queima roupa”. Como polícia, sabe que de outra forma o “som do fumo que sai após o disparo” tinha sido audível em todo o prédio, apesar de as casas, diz, “terem um bom isolamento acústico”. “Mas também não sei se foi isso que aconteceu. Só quem conhece a casa sabe o quão curto é o espaço de manobra. Eu não faço a mínima ideia”, assegura.

Foi só após o prédio, na Rua Actriz Maria Matos, em Benfica, ter sido alertado pelo comportamento pouco habitual do animal, que o polícia, do Corpo de Segurança Pessoal da Unidade Especial, terá tocado à campainha do vizinho do lado, pedindo que chamasse reforços.

"Claro que, se chega a casa e tem acesso à arma, dispara. O que ele fez, qualquer um fazia, não tenho a menor dúvida. Eu faria, sem hesitar. Portanto, não errou, esteve bem a 100%."
Vizinho de agente da PSP, que falou sob anonimato

O vizinho, segundo apurou o Observador, terá ligado imediatamente para o 112, cerca das 3h01, tendo os polícias de serviço chegado às 3h04. Nesse momento, junto ao prédio continuava, dentro do carro, uma mulher que seria cúmplice do assaltante, de acordo com a versão apresentada pelo autor do disparo. Esta quarta-feira, aliás, esta suspeita ficou em prisão preventiva, por estar fortemente indiciada pelos crimes de sequestro e roubo.

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Da abordagem com uma pistola em Algés ao disparo que tirou a vida ao suspeito. A tentativa de assalto a um PSP que durou uma hora e meia

Naquela rua pouco se sabe sobre o que aconteceu ali e muito menos sobre a viagem entre Algés e Benfica — o eixo em que tudo terá acontecido. O que se sabe foi o que a PSP se apressou a dizer na segunda-feira, com muita prudência — inclusivamente com a ressalva de que se tratava da reprodução da versão apresentada pelo agente: “Tendo por base as informações disponíveis de momento e apenas facultadas pelo polícia visado […], um polícia do efetivo da Unidade Especial de Polícia (UEP) da PSP, na zona de Algés, terá sido alvo de roubo com ameaça de arma”. Seria por volta das 2h00.

[Já saiu o sexto e último episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui, o quarto episódio aqui e o quinto episódio aqui]

“Um suspeito terá entrado na sua viatura e obrigado a vítima a entrar numa outra viatura (conduzida por outro suspeito) e à posteriori a deslocar-se a um multibanco e de seguida à sua residência”, refere a PSP, baseando-se na versão do seu agente. Depois disso, “já no interior da residência, a vítima terá conseguido chegar à sua arma de serviço, tendo usado a mesma, neutralizando o suspeito, que acabou por perder a vida no local”.

No prédio onde tudo aconteceu, a maioria dos vizinhos alegam não ter ouvido o tiro e não saber de nada

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

As pontas soltas que ainda existem e que são referidas por um dos vizinhos é o que a investigação, a cargo da Polícia Judiciária, tenta agora esclarecer, não descartando para já outras linhas de investigação que não a do sequestro. O Observador sabe que os trabalhos estão numa fase inicial, estando por isso tudo em aberto.

“Emboscada? Ele até disse que tinha a filha em casa para tocar no coração deles”

“Fala-se [nas notícias] numa emboscada. Como assim? A pessoa está a ser assaltada e faz uma emboscada ao assaltante?”, questiona um vizinho do prédio, assegurando que, na versão que conhece da história, o polícia não atraiu os suspeitos até casa para matar um deles.

“Os outros é que o obrigaram a vir para cá”, segundo lhe contaram. “Ele até disse que tinha a filha em casa para ver se lhes tocava no coração, mas eles não quiseram saber”, adianta. A verdade é que tanto a filha, como a mulher do agente estavam  de férias. Tinham ido à terra, no norte do país, passar a Páscoa.

“Mas claro que se chega a casa e tem acesso à arma, dispara. O que ele fez, qualquer um fazia, não tenho a menor dúvida. Eu faria, sem hesitar. Portanto, não errou, esteve bem a 100%“, acrescenta o vizinho.

“Os outros é que o obrigaram a vir para cá. Ele até disse que tinha a filha em casa para ver se lhes tocava no coração, mas eles não quiseram saber.”
Vizinho de agente da PSP, que falou sob anonimato

Desde a madrugada de segunda-feira, nunca mais ninguém viu, nem falou com o agente — já antes, aliás, havia pouco contacto com aquele vizinho, apesar de serem todos polícias. Um dos moradores do prédio da Rua Actriz Maria Matos, estava fora quando tudo aconteceu e ainda hoje só sabe o que vê nas notícias. “Estava de férias. Vi tudo pela televisão e perguntei aos outros o que se tinha passado, mas não sabiam de nada além do que era público”, recorda ao Observador.

O mesmo morador admite que, tal como o anterior, ainda não se cruzou com o agente e também que “não o tem visto ou falado com ele”. No entanto, tendo já trabalhado com ele em tempos, avança com uma descrição: é “uma pessoa super tranquila”, que não costuma levar pessoas de fora do seu círculo para casa.

Também outro vizinho descreve o polícia do Corpo de Segurança Pessoal como “uma pessoa muito reservada”, que fala quando necessário, mas que não conversa sobre detalhes da vida privada. “Ele mora aqui há vários anos e eu nem sabia que ele conduzia, quanto mais que tinha carro”, acrescenta, referindo-se ao carro do agente que foi recuperado pela PSP no descampado para onde alegadamente foi levado.

PSP abre processo disciplinar a agente que disparou mortalmente contra suposto assaltante

“Nunca tinha acontecido nada do género por aqui”

A poucos metros do prédio onde tudo aconteceu, no Café Lima, as atenções estão bem longe deste homicídio. “Não, quem morreu foi o velhote Luís”, ouve-se um homem a dizer a outro, numa conversa que nada tem a ver com o alegado sequestro. Ao balcão, a funcionária, que também não quis identificar-se, confirma ao Observador que por ali pouco se tem falado sobre o caso.

“Alguns comentam a dizer que não acreditam que isto tenha acontecido, mas a maior parte não fala sequer sobre o assunto. Também ninguém conhecia o PSP”, garante ao Observador.

E um caso com estes contornos nem sequer é comum naquele bairro, explica, acrescentando que, apesar de “passar pouco tempo no café” – está lá apenas umas horas para substituir o filho antes de entrar num outro trabalho – “nunca tinha ouvido nada do género”.

Moradores dizem ter sido alertados pelo "aparato" dos carros da PSP e não se lembrarem de já ter acontecido algo semelhante na rua

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A mesma memória é partilhada por uma moradora do prédio em frente ao do agente. “Nunca tinha acontecido nada do género por aqui. Nem mesmo com O Companheiro aqui ao lado”, diz, referindo-se à Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que dá apoio na inclusão socio-profissional de ex-reclusos, que fica na rua paralela à rua Actriz Maria Matos.

Também esta mulher diz não ter ouvido nada do que se passou na segunda-feira, culpando os “comprimidos para dormir” por a terem colocado num sono ferrado. “Mas falei com outros vizinhos aqui do prédio e também não deram por nada“, assegura ao Observador.

PSP chegou ao local e deteve suspeita no carro

Pouco passava das 3h, quando os elementos fardados da PSP chegaram ao prédio da Rua Actriz Maria Matos. A partir desse momento, o que aconteceu já é do conhecimento da polícia. De facto, quando os agentes de serviço — da Divisão de Investigação Criminal da PSP — chegaram, estava dentro do apartamento do agente um cadáver, com sinais de ter sido baleado.

Além disso, como confirmou a PSP logo na segunda-feira, a mulher, suspeita de ser cúmplice do sequestro, foi localizada e detida junto ao local onde tudo aconteceu — estaria, aliás, próximo da entrada do prédio dentro do seu carro, o tal BMW cinzento.

Sequestro de PSP. Mulher apontada por agente como cúmplice no suposto assalto fica em prisão preventiva

Comunicação por parte da PSP de Lisboa ao piquete da Polícia Judiciária foi feita pelas 5h10 do dia 1 de abril, dando conta de uma ocorrência que envolvia um agente da PSP

A partir daí, por se tratar de um homicídio, a PSP garantiu a preservação do local da casa e do carro usado — onde se encontrava a mulher. “O local da ocorrência e a viatura usada foram devidamente preservados e entregues à Polícia Judiciária para a consequente investigação”, explicou na segunda-feira a PSP.

Piquete da PJ acionado às 5h10. Não houve informação sobre ida ao Multibanco

O Observador sabe que a comunicação por parte da PSP de Lisboa ao piquete da Polícia Judiciária foi feita pelas 5h10 do dia 1 de abril, dando conta de uma ocorrência que envolveu um agente da PSP. Segundo essa informação inicial tinha havido um disparo fatal sobre um homem suspeito de roubo.

Segundo transmitido pela PSP à Judiciária, o agente teria sido abordado pelo suspeito, que carregava uma pistola, na via pública quando estava no seu carro particular, em Algés.

Nesta comunicação, porém, não há referência a uma qualquer ida ao multibanco antes de se deslocarem para o apartamento, apenas que o agente foi obrigado a ir até um descampado, onde estaria a mulher, que seria cúmplice. A partir daqui a versão bate certo com a da PSP, que dá conta de que o agente foi obrigado a ir até sua casa, onde conseguiu defender-se com uso da arma de serviço.

IGAI abriu processo para apurar em que circunstâncias ocorreu o disparo e Direção Nacional da PSP abriu processo disciplinar a agente

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Foi ainda comunicado ao serviço de prevenção de homicídios da PJ que a mulher ficou no exterior e que acabou detida pelos agentes da PSP que se deslocaram ao local. Esta quarta-feira a suspeita acabaria por ficar em prisão preventiva, a medida de coação mais gravosa, por estar fortemente indiciada dos crimes de sequestro e roubo.

Quanto ao agente, já voltou ao serviço, privado de arma, e já foram abertos dois processos para apurar a sua conduta. Depois de a Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI), esta quarta-feira foi a Direção Nacional da PSP a anunciar a abertura de um processo disciplinar.

Sequestro de PSP. Inspeção-Geral da Administração Interna abre processo para apurar circunstâncias da morte de suposto assaltante

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