A história da Smart dava para escrever um livro. Nasceu da criatividade de Nicolas Hayek, o mago da relojoaria que criou a Swatch e que tentou aplicar a mesma solução aos automóveis. Procurou aliciar a Volkswagen para o seu carro às cores e painéis intermutáveis, mas a marca alemã não gostou das contas. Valeu-lhe outro gigante da indústria, a Mercedes, que há anos namorava um minicarro revolucionário. E o Smart era isso mesmo. Depois, como a Mercedes não achou o projecto viável, pelo menos tal como o Hayek o concebeu (a começar por uma motorização eléctrica de imediato), o homem dos relógios forçou a saída, realizou um encaixe de capital muito interessante e deixou a Mercedes, ou melhor o grupo Daimler, ‘agarrado’ ao projecto.

Os primeiros anos não foram fáceis. Primeiro, devido ao teste do alce e, depois, porque as vendas diminutas condenaram a Smart a manter-se no vermelho durante anos. Mas a Daimler é um colosso que suporta facilmente estes pequenos desaires e, após muitos anos e muitas gerações, a Smart lá entrou nos lucros.

Agora a coisa complicou-se por motivos estratégicos, pois a decisão de deixar o mercado americano e canadiano exclusivamente para as versões eléctricas limitou as vendas de forma dramática, com os primeiros cinco meses do ano a verem 507 Smart mudarem de mão nos EUA, cerca de 1/3 do habitual.

Aliás, nos quase 2,4 milhões de veículos transaccionados em 2017 pela Daimler, 2.373.527 tinham emblema Mercedes, o que deixa à Smart apenas 136 mil unidades, muito pouco para um modelo que se movimenta num segmento em que as margens são tradicionalmente mínimas. Para melhorar o quadro, a Daimler até chegou a acordo com a Renault nesta última geração para usar a base do seu Twingo, com a marca francesa a ceder igualmente a mecânica e a fabricar o Forfour, fornecendo ainda a plataforma e a mecânica para a Smart produzir a versão Fortwo na sua fábrica em França.

No entanto, talvez por as vendas continuarem abaixo das expectativas, Annette Winkler, que chefiou a Smart desde 2010, acaba de ser substituída por Katrin Adt. Segundo as palavras de Britta Seeger, membro da administração da Daimler e responsável pelas vendas da Mercedes, “Katrin Adt tem anos de experiência internacional, com muita prática de vendas e marketing, pelo que acredito que ela poderá levar a Smart de regresso aos lucros e ao crescimento”.

Muitas destas dúvidas passam pela opção de tornar a Smart uma marca de veículos eléctricos a partir de 2019, sob a submarca do grupo EQ, precisamente aquela que vai ser específica para os veículos com motor eléctrico alimentado por bateria.

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