O chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, disse esta quinta-feira que o crescimento de 4% da economia não se traduziu na redução da pobreza, defendendo a necessidade de políticas que permitam maior participação das populações nos ganhos da economia.

O crescimento da economia nos últimos anos tem sido constante. Ganhou alguma vitalidade, registando uma taxa que ronda os 4%. Esta vitalidade ainda não se está a traduzir numa redução da pobreza, pelo que importa pensar e executar medidas de política que contribuam para uma maior participação dos trabalhadores e dos cidadãos em geral nos ganhos da economia”, disse.

Jorge Carlos Fonseca falava esta quinta-feira durante a sessão solene na Assembleia Nacional para assinalar os 43 anos da Independência de Cabo Verde que, além dos habituais discursos políticos contou com a atuação do músico Tito Paris.

O chefe de Estado considerou “fundamental” que o crescimento se “intensifique para que a distribuição da riqueza gerada contribua efetivamente para a redução das, ainda, acentuadas desigualdades sociais e regionais”.

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“Temos de tudo fazer para que a economia cresça a um ritmo mais consentâneo com as necessidades básicas do país, com destaque para as relacionadas com o emprego”, disse.

Jorge Carlos Fonseca reconheceu “os vários sinais positivos” em Cabo Verde, mas defendeu que é possível “fazer mais e melhor”, nomeadamente no que respeita à insegurança, que “continua a inquietar os cidadãos”, e ao “preocupante problema do abuso sexual de crianças”.

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“Temos de aperfeiçoar as formas de prevenção, mas também de investigação e rápida punição das situações denunciadas”, considerou.

O chefe de Estado expressou também “profunda preocupação” com as crianças desaparecidas em Cabo Verde e apelou às autoridades “para que continuem persistentes na investigação”.

A seca e o mau ano agrícola que o país atravessa mereceu igualmente a atenção do Presidente da República para quem as populações do meio rural “devem continuar a ser a preocupação maior”.

“Com o apoio de todos e a continuidade dos ajustamentos necessários no programa de emergência para mitigar as consequências da seca, devem-se intensificar as ações.

Simultaneamente, é necessário definir perspetivas claras no sentido de se conceber o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, partindo da premissa da grande escassez de água”, sustentou.

Para Jorge Carlos Fonseca, as “duras lições” da conjuntura atual “devem ser aproveitadas para mudanças muito significativas no setor” e que permitam antecipar respostas a situações futuras.

Perante uma plateia marcada por grandes clareiras de lugares vazios, Jorge Carlos Fonseca homenageou os que, há 43 anos, em “circunstâncias particularmente difíceis, deram tudo para que a utopia se tornasse a realidade e a essência da cabo-verdianidade expressa na cultura, na perseverança e na tenacidade, se cristalizasse na edificação de um Estado Independente”.

Elogiou a democracia cabo-verdiana, apontada como exemplo a seguir, mas alertou para o facto de a democracia, por si só, não assegurar o desenvolvimento do país.

“Tenho a obrigação moral e política de alertar os cabo-verdianos dizendo que a democracia é um modelo de regime que, por si só, não tem a virtualidade de assegurar o desenvolvimento do país e constituir solução para todos os problemas de um país pobre, com falta de recursos e num mundo de alta competição entre nações e regiões”, disse.

Defendeu, por isso, a necessidade de “esforços ainda maiores para encontrar soluções mais rápidas e mais eficazes para os principais problemas das pessoas e do país”, ressalvando que “isso não depende só da boa vontade dos governantes”.

“O que temos de fazer é exigir dos governantes que façam o melhor possível, que, no quadro dos constrangimentos do país, deem o máximo de si, de competência, ponderação, tolerância e de entrega à causa pública”, sublinhou.