Por esta altura, há sempre alguém que pergunta: “Onde vais nas férias?” A intenção é boa, mas quando ainda não se fez planos e já se anda a passar mal com aquela certeza de que nesta altura já está tudo alugado, de que já só sobram as opções mais caras e de que qualquer bilhete de avião em época alta vai parecer uma miragem, a resposta custa a sair.

Se está nesta situação, e se já teve de fazer vários sorrisos amarelos aos colegas de trabalho durante as inevitáveis conversas de café sobre as férias, faça uma experiência: pense na possibilidade de não ter de marcar nada, de não ter de fazer malas, de não ter de coordenar horários, e simplesmente ficar em casa a relaxar. É possível que comece a sentir aquela tensão no pescoço a aliviar. As staycations, termo que designa férias sem sair de casa ou da cidade onde se mora, servem para isso mesmo.

Calma, não faz mal nenhum experimentar novas formas de viver as férias. De qualquer forma, os estudos sobre turismo têm revelado que em 2018 o destino-praia já perdeu largamente terreno para o destino-cidade (e até para o destino-aventura), e que os millenials – que agora são também a mais recente geração de veraneantes – trocam sem pensar umas férias de luxo por umas férias-experiência, em que o mais importante é viver algo inesquecível, ter pacotes de actividades personalizados e fazer turismo responsável – ou seja, aproveitando os produtos locais e os negócios familiares do destino escolhido (além, claro, de conseguir um bom hashtag para partilhar tudo nas redes sociais).

A tendência é cada vez mais atirar a toalha ao chão (a toalha de praia, mais concretamente) e avançar para as experiências, para os destinos gastronómicos e para as opções wellness. Ou seja, o mundo das férias vai muito além daquela casa que aluga todos os anos numa cidade costeira a abarrotar ou daquela viagem de avião que a cada novo Verão tem de marcar – e há muito terreno fértil para as staycations.

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Neste caso concreto, ficar em casa não significa ficar de pijama no sofá a ver tudo o que dá na televisão (a não ser que seja exactamente isso que quer fazer), nem ficar deprimido a cantar “All by myself” com uma garrafa de vinho já vazia na mão (mais uma vez, a não ser que seja essa a sua vontade). Significa ter tempo – e mais dinheiro – para fazer aquelas coisas que até quer fazer mais vai adiando, significa aproveitar a sua casa como nunca a aproveitou antes, e significa muitas outras ideias que vale a pena reunir para começar a pôr em prática.

Marcar uma massagem em casa

No resto do ano, parece um luxo, é verdade. Durante as staycations basta seguir a lógica da comparação directa para parecer uma actividade perfeitamente razoável – faça as contas ao que poupou em alojamento, em viagens, em idas a restaurantes, em compras em supermercados com preços inflacionados pela época balnear e, noves fora, marcar uma massagem em casa fica a parecer uma pechincha. Repare que a hipótese que está a ser colocada não é ir passar um dia num SPA, o que também seria uma boa ideia. É mesmo não ter de ir a lado nenhum, não ter de procurar estacionamento: não ter de fazer nada a não ser esperar para que alguém chegue e prepare a massagem. Quem diz uma massagem, diz uma pedicure. O céu é o limite, até porque não vai gastar um tostão com aviões.

Ir àquele restaurante onde nunca se permitiu ir

O ponto de partida é mais ou menos o mesmo – todas aquelas refeições que ia ter de fazer fora em restaurantes mais ou menos decentes só para desenrascar podem reunir-se numa única refeição épica dentro da sua cidade. Já lá passou várias vezes à porta, já se lamentou várias vezes por ser demasiado caro ou demasiado fora de mão, e por isso sabe exactamente de que restaurante se está aqui a falar. Um dos dias das staycations pode ser para ir até lá. É a refeição perfeita e sem sentimentos de culpa orçamentais. Ainda por cima com tempo para marcar, preparar-se com calma, e não ter de ir para lá a correr contra o relógio, qual Alice no País das Maravilhas nos dias atarefados.

Aprender alguma coisa que estava a adiar

Há sempre uma actividade qualquer que sempre se quis fazer mas não há tempo, ou alguma coisa que se quer muito aprender mas as aulas são todas em horários que não se conseguem explicar (e, mesmo que sejam a um sábado, depois de uma semana de trabalho é como se fossem a uma segunda-feira à meia-noite). Seja uma aula de ioga suspenso – há gostos para tudo – ou um workshop para aprender tricô, tanto faz. Elas existem, muitas vezes têm opções avulso, e finalmente arranjou tempo. É aproveitar. Se o resultado for descobrir que não é mesmo possível fazer aquelas redes onde se penduram plantas do tecto nas revistas de decoração, já aprendeu alguma coisa. E poupou o suficiente para comprar uma dessas coisas na loja.

Convidar os amigos para uma festa

Desta vez, não vai ter de passar um pano a correr pelo lavatório da casa de banho enquanto tira a roupa de trabalho porque já devia ter posto o frango no forno há uma hora e só agora é que conseguiu chegar a casa. Chame os amigos, prepare a festa com calma, cozinhe aquele prato demorado e até vai ter tempo para preparar uma playlist. Eles podem chegar mais cedo, eles podem sair mais tarde, eles podem fazer o que quiserem que vai estar tão descontraída que esta só pode ser a melhor festa caseira de sempre. E aproveita para ver caras antigas, que é muito melhor do que estar a ver caras novas demasiado perto do quadrado de areia que conseguiu a custo para estender a sua toalha em Agosto.

Fingir que é turista

Sabe aquele recanto muito bonito da sua cidade onde costuma passar várias vezes? Não sabe porque nunca se vai com atenção, porque normalmente está com pressa, porque ir do ponto A ao ponto B no sítio onde vive nunca é um passeio. Durante as staycations, pode (e deve) ser um calmo, longo e divertido passeio. Os hotéis da sua cidade têm terraços onde nunca ficou a beber um cocktail, têm piscinas onde dá para passar um dia – mesmo aquelas de luxo que não pagaria se não estivesse de férias. Deve haver algum museu perto, ou algum jardim onde nunca estendeu uma toalha de piquenique. E as salas de cinema são tão frescas, e as esplanadas à noite têm um ar tão agradável como se estivesse em Roma ou em Barcelona, e até pode entrar num autocarro daqueles abertos ou ir àquela vila perto que toda a gente diz que é muito bonita. Se for preciso, compre um mapa. Se não for preciso, compre na mesma. É mais divertido.

Aproveitar a casa onde, como se diz no fim de todas as férias, sabe tão bem voltar

A primeira coisa a fazer é, se necessário, deixar que as pessoas no trabalho pensem que está fora. Sim, vai ter wi-fi e acesso ao computador (os de casa, ainda por cima, que se conhece tão bem e não se partilham com mais 50 pessoas), mas ninguém que não queira tem de saber disso. Depois, a única coisa a organizar é qual é o livro que quer ler naquele recanto de leitura que preparou perto da janela mas nunca usou ou quais são as séries em que vai poder mergulhar em binge-watching sem hora para acordar ou sem ter isto ou aquilo para terminar. A casa que conhece vai começar a parecer outra, até porque (não sinta culpa por isso) aproveitou o tempo também para organizar tudo melhor, para pendurar aquele quadro, para copiar as receitas espalhadas para um caderno bonito. Se a família estiver toda em modo staycations, dá para organizar concursos, aprender jogos de tabuleiro, para cada um escolher actividades que todos podem fazer juntos. E, uma vez que já vai estar no sítio onde iria voltar, pode aproveitar tudo até ao último minuto sem ter de calcular o trânsito de fim de quinzena ou dar aquele tempo para desfazer malas e preparar máquinas de roupa. Está tudo feito, relaxe. É como se estivesse em casa… porque está.