“Ambiguidades”, “imprecisões”, “dificuldades de pertinência e rigor” e, pior, conclusões que contêm “distorções negativas” para a banca nacional. A Associação Portuguesa de Bancos (APB) contesta o estudo da Deloitte, divulgado na terça-feira, que comparou os custos suportados pelos consumidores de serviços bancários em Espanha e em outros países europeus, incluindo Portugal (um estudo foi encomendado à Deloitte pela Associação Espanhola de Bancos e pela Confederação Espanhola de Caixas Económicas, as cajas de ahorros). A APB indica que também encomendou um estudo a uma outra “reputada consultora”, cujas conclusões “serão oportunamente apresentadas”.

Em comunicado difundido esta quarta-feira, a APB defende que “as conclusões do estudo são relativas a um conjunto de comissões e de custos de serviços muito diversos, com expressão bastante diferenciada nos diferentes mercados”. Neste contexto, “ao não focalizar a análise num número limitado de serviços de grande relevo para os consumidores e efetivamente comparáveis, o estudo resolve mal as dificuldades de pertinência e rigor no benchmark comparativo sobre comissões”.

Um dos principais problemas do estudo, segundo a APB, é que foi feita uma seleção de bancos para amostra que padece de “limitações essenciais”: “comparam-se onze bancos espanhóis com cerca de três nos outros Estados-Membros e, por outro lado, a tipologia dos bancos selecionada comporta desequilíbrios (a Caixa Geral de Depósitos, maior banco nacional, por exemplo, fica de fora em Portugal) e é apenas considerado um banco digital por país”.

Comissões bancárias. Portugueses pagam o dobro dos espanhóis

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A APB queixa-se de não ter sido bem explicada a metodologia usada no estudo. Um exemplo prático: “a apresentação de um valor global baseado numa média (simples ou ponderada?) do valor das comissões de um grupo alargado de serviços, uns muito relevantes e de intensa utilização, outros muito menos relevantes e/ou de reduzida utilização pelos consumidores, parece ser indutora de uma elevada ambiguidade e imprecisão”.

O estudo refere ainda a tendência para a oferta de pacotes de serviços. No entanto, sempre que são feitas comparações destes pacotes é preciso saber com rigor os serviços que ali estão incluídos e se os mesmo são de facto comparáveis”.

Outro fator “de grande relevância”, segundo a APB, é que em Portugal “a rede Multibanco permite a utilização generalizada e gratuita de uma gama muito mais vasta de serviços que não se encontra habitualmente disponível noutros países da Europa (pagamento de serviços, pagamentos ao Estado, transferências, carregamentos, etc)”. Esta é, na opinião da APB, “uma distorção negativa muito significativa em relação a Portugal”.

Em conclusão, a APB defende que, pelo menos quando se fala em serviços básicos e de utilização generalizada, “Portugal apresenta custos abaixo daqueles que são praticados em Espanha”, pelo que a tese defendida no estudo da Deloitte “não nos parece corresponder à realidade”. “A Associação Portuguesa de Bancos encomendou, em Janeiro deste ano, um estudo comparativo sobre comissões bancárias a uma reputada Consultora, cujas conclusões serão oportunamente apresentadas”, remata a APB.