Gostos à parte, os boxers largos podem ser o modelo de roupa interior masculino mais adequado para quem está a tentar ter um filho.

A CNN cita um estudo recente, publicado na última quarta-feira no jornal médico Human Reproduction, que diz que homens que usam cuecas menos apertadas têm uma maior concentração de espermatozoides que aqueles que preferem modelos mais justos. Ou seja, garantem-se índices de fertilidade mais positivos.

Contudo, apesar do desfecho deste estudo, a verdade é que os mesmos investigadores chegaram à conclusão que as chamadas “slips”, mais justas, garantem um índice mais elevado de hormonas provenientes da estimulação de folículos, coisa que não acontece no outro tipo de roupa interior. Como um dos efeitos desta hormona específica é a estimulação da produção de espermatozoides, os investigadores especulam que estes níveis mais elevados, que obrigam os testículos a trabalhar mais para produzir esperma, podem ser uma forma do nosso corpo compensar uma produção menos elevada de espermatozoides.

“Se a escolha de roupa interior afeta ou não a produção de espermatozoides é um assunto que pode demorar vários anos a estudar”, afirmou Lidia Mínguez-Alarcón, autora principal do estudo em questão e cientista investigadora na Harvard’s T.H. Chan School of Public Health. Mas esta investigação é a primeira a tentar perceber se a escolha de cuecas pode afetar as funções testiculares.

Diagnosticar a infertilidade masculina

No estudo, revelam os autores, foram analisados os seguintes parâmetros: o volume do sémen (quanto é que um homem consegue ejacular durante o orgasmo), contagem de espermatozoides (o número total existente por amostra), concentração de espermatozoides (o número destes corpos por mililitro de sémen), mobilidade dos espermatozoides (a quantidade de esperma em movimento) e a morfologia do esperma (se tem o tamanho e forma corretos).

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A autora do estudo alerta para o facto de que “apesar de a análise da amostra de sémen ser o primeiro passo para diagnosticar a infertilidade masculina, os seus resultados não são definitivos”, acrescentando que ainda assim utiliza esta análise para entender os possíveis efeitos das escolhas de roupa interior.

E como chegaram a estes resultados? Os investigadores falaram com vários homens que estavam à procura de tratamento contra a infertilidade no Hospital Geral de Massachusetts entre 2000 e 2017, com idades compreendidas entre 18 e 56 anos. Ao todo, foram selecionadas 656 participações válidas e recolhidas amostras de sémen e sangue, tendo os homens, posteriormente, respondido a um questionário sobre a sua roupa interior. Nesse questionário, tiveram de escolher entre as seguintes categorias: boxers (roupa interior mais larga), slips (cuecas apertadas ou boxers mais apertados), bikini (slips muito curtos), jockeys (boxers justos até por cima do joelho) ou outros (que incluía também boxers justos e uma mistura de vários tipos de roupa interior).

Mais de metade (345) respondeu que utiliza boxers, tendo 25% mais concentração de esperma, uma contagem de espermatozóides 17% maior, 33% de mais mobilidade e os níveis da hormona folículo-estimulante (FSH) 14% mais baixos do que os que utilizam roupa interior mais justa.

No entanto, não foram encontradas diferenças significativas em relação a danos no ADN ou outras hormonas reprodutivas entre os dois grupos de roupa interior. “Pode não ser possível generalizar as nossas descobertas para a população em geral”, acrescentou a autora, alertando que uma das fraquezas do estudo poderá passar pelo facto de os investigadores não terem informações sobre o estilo de vida, que pode afetar o calor no escroto, como por exemplo o tipo de calças usadas e o tecido da roupa interior, e que poderá ter causado uma diminuição na produção de sémen. 

“Tem sido um conselho padrão dado aos homens em clínicas de fertilidade em todo o mundo, que usem roupa interior folgada e evitem tomar banhos quentes. Este estudo valida alguns desses conselhos de uma maneira muito mais rigorosa e baseada em evidências”, disse Richard Quinton, consultor e professor de endocrinologia na Royal Victoria Infirmary e na Universidade de Newcastle.