Mais de 20 civis e pelo menos 100 elementos das forças de segurança morreram nos últimos quatro dias na cidade de Ghazni, no Afeganistão, na sequência de nova ofensiva de guerrilheiros talibãs que atacaram a cidade em quatro pontos estratégicos. Os números foram revelados pelo governo afegão em conferência de imprensa, esta sexta-feira. Segundo o governo, pelo menos 200 talibãs morreram na sequência dos combates, mas fonte do exército norte-americano que combate em Ghazni apresentou um número diferente à rádio pública dos Estados Unidos da América (NPR): falou em “cerca de 140” talibãs mortos nos últimos dias.

Já esta terça-feira, o governo afegão anunciou ter expulsado os talibãs da cidade, o que foi negado pelo grupo islâmico.

O ataque relâmpago de sexta-feira surpreendeu as forças de segurança afegãs e norte-americanas que defendem Ghazni, cidade que serve de ponte estratégica entre a capital Kabul e Kandahar, devido às estradas de acesso às duas cidades. O ataque foi mais um golpe duro no regime de Ashraf Ghani (o presidente), que depois dos combates destacou mais mil elementos do exército para a cidade.

Segundo relata a BBC, o governo afegão e os seus aliados na NATO insistem que mantêm o controlo da cidade, mas relatos locais sugerem que ainda há guerrilheiros talibãs a andar pela cidade e a controlar edifícios estratégicos do governo. As comunicações estão em baixo, pelo que é difícil obter relato fidedignos do que passa em Ghazni. Ainda assim, um homem que fugiu da cidade este domingo disse à estação britânica que “a vida está-se tornar difícil para as pessoas, que não conseguem obter comida nem água”.

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A chegada de uma vítima ao principal hospital de Ghazni, no passado domingo, 12 de agosto. Há relatos de mais de 100 feridos em Ghazni. (Mohammad Anwar Danishyar/AFP/Getty Images)

Numa declaração publicada esta segunda-feira, o coordenador do departamento de Apoio Humanitário da ONU para o Afeganistão, Rik Peeperkorn, afirmou que “há relatos de escassez de medicamentos no principal hospital” da cidade e que “as pessoas não estão a conseguir levar vítimas para serem tratadas em segurança”, devido à vigilância talibã.

De acordo com relatos esporádicos vindos da cidade, muitas famílias ter-se-ão abrigado dentro de casa e não conseguem sair. As redes vitais de telecomunicações e os serviços de eletricidade estão em baixo na cidade, em que vivem 270 mil pessoas. Isso teve impacto nos serviços de abastecimento de água. Também há relatos de escassez de comida”, lê-se ainda.

Um ativista presente em Ghazni, Enayat Nasir, disse que as pessoas estão a enfrentar “fome a sério” e acusou o governo de não se ter preparado para um ataque que se acreditava poder estar iminente há vários dias. “Dissemos que se não controlassem a situação, Ghazni colapsaria em uma semana. Isso aconteceu”, afirmou ainda, citado pela BBC.

Se os talibãs assumirem o controlo em definitivo de Ghazni, poderão vir a dominar um território muito significativo a sul e leste do país. Os ataques de sexta-feira surgiram num momento em que aumenta a pressão para que se inicie um diálogo de paz entre governo e talibãs, depois de representantes do grupo extremista islâmico e de oficiais norte-americanos terem-se reunido secretamente no Quatar e depois de um cessar-fogo de três dias ter sido genericamente respeitado pelas forças em conflito.

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Em 2015, guerrilheiros talibãs invadiram uma prisão na província de Ghazni e “libertaram mais de 350 prisionais”. Cerca de metade desses prisioneiros eram considerados “especialmente perigosos”, aponta a NPR, acrescentando que a ação terá libertado vários “comandantes talibãs locais” que se encontravam detidos. Os conflitos armados no Afeganistão iniciaram-se em 2001 e já causaram a morte de mais de 30 mil pessoas.

Mais ataques em Faryab

Pelo menos 17 soldados afegãos morreram e 19 ficaram feridos durante um ataque das forças talibã na província de Faryab, disse esta terça-feira o porta-voz do Ministério da Defesa do Afeganistão.

Ghafor Ahmad Jawed, porta-voz do Ministério da Defesa disse que os talibã atacaram uma base militar do Exército Nacional do Afeganistão no distrito de Ghormach, província de Fayab, na segunda-feira à noite, depois de um cerco que se prolongou durante três dias.

O chefe da província Mohammad Tahir Rahmani anunciou que o ataque fez 43 baixas, mas não especificou o número de mortos e de feridos na sequência do ataque ao quartel, onde se encontravam cerca de 140 militares.

Milícia anti-talibã na província de Faryab, em 2015. (Wakil Kohsar/AFP/Getty Images)

Segundo Rahmani a base foi tomada após três dias de combates em que as forças governamentais não receberam apoio e acabaram por ficar sem munições, rações de combate e água.

O porta-voz dos talibã, Zabihullah Muhahid, reclamou o ataque acrescentando que 57 soldados afegãos renderam-se e que 17 foram capturados durante a batalha.

Durante os combates, os talibã tomaram posse de pelo menos oito veículos de transporte de tropas (Humvee) do Exército Nacional do Afeganistão que se encontravam na base.