O Facebook (dono, também, da rede social Instagram) e o Twitter baniram recentemente mais de 900 contas, páginas e grupos responsáveis por ataques de cibersegurança e por operações de manipulação e desinformação nas redes sociais, com ligações à Rússia e ao Irão. Se relativamente às contas eliminadas pelo Twitter sabe-se apenas que eram utilizadores de identidade falsa, maioritariamente originários do Irão e que visavam manipular utilizadores, relativamente às páginas e grupos eliminados pelo Facebook sabe-se um pouco mais. Sabe-se, por exemplo, que a operação resultou de uma investigação da empresa de cibersegurança FireEye, que encontrou quatro redes que operavam no Facebook e Instagram.
Ao contrário de anteriores redes de influência e manipulação de utilizadores, as operações agora desmascaradas e atacadas pelo Facebook não visavam apenas influenciar cidadãos americanos — como aconteceu com redes anteriores, com ligações à Rússia e com o objetivo declarado de influenciar votantes das eleições presidenciais norte-americanas –, mas também pessoas na América Latina, Reino Unido e Médio Oriente, segundo revelou o Facebook.
Acreditamos que estas páginas, grupos e contas integravam dois conjuntos de campanhas, uma com origem no Irão e com ligações aos media estatais [iranianos], outra envolvendo um grupo de pessoas que o governo norte-americano e outras pessoas identificaram como tendo ligações com a Rússia”, disse Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, aos jornalistas, citado pelo The New York Times.
Uma das principais redes identificadas na investigação da FireEye chamava-se Liberty Front Press. Era um grupo que dizia ser uma organização independente de media iraniana, mas tinha na verdade uma ligação estreita aos media estatais do país. Geria 72 páginas e contas de Facebook e nove contas de Instagram, e em anos recentes gastou mais de cinco mil euros em publicidade. A rede promovia informação enviesada anti-saudita, anti-israelita e anti-palestianana, difundia apoio a políticas norte-americanas favoráveis ao Irão e atacava as posições de Donald Trump, críticas do regime iraniano e do acordo alcançado por este país com os EUA, antes de se tornar presidente. Foi ainda identificada uma segunda campanha de manipulação relacionada com o Liberty Front Press, que tinha outros objetivos: hackear as contas de utilizadores desta rede social e espalhar malaware, isto é, infeções pelos computadores e outros dispositivos dos utilizadores.
A terceira das quatro campanhas de manipulação identificadas pelo Facebook envolvia uma rede que partilhava informação enviesada e manipulada sobre política no Médio Oriente, Reino Unido e Estados Unidos da América, existindo ainda uma outra operação digital gerida por redes de pessoas já ligadas aos serviços secretos militares e serviços secretos russos (pelo governo norte-americano e outras entidade), que teria o objetivo de influenciar perceções sobre a atividade política da Síria e Ucrânia.
We've identified suspected Iranian influence operation campaigns targeting audiences in US, UK, Middle East & Latin America leveraging inauthentic news sites & social media platforms to promote political narratives in line w/ Iranian interests.
>> Read: https://t.co/DKaVPU1V4O pic.twitter.com/FfOkINg2ME
— FireEye (@FireEye) August 22, 2018
Comentando o envolvimento dos media estatais iranianos na promoção de informações enviesadas em redes sociais, através de páginas que se afirmavam independentes, o diretor de uma empresa que investiga e estuda este tipo de campanhas (New Knowledge), Renee DiResta, afirmou ao The New York Times que “isto reforça a ideia de que há uma guerra de informação neste momento” e que “o nosso ecossistema social é vulnerável à manipulação de um conjunto de adversários variados”.
Em conversa com jornalistas, citada pelo portal norte-americano The Verge, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, disse: “Tratavam-se de redes de contas que enganavam as pessoas relativamente a quem eram e relativamente ao que faziam. Banimos este tipo de comportamento porque para nós a autenticidade importa. As pessoas têm de poder confiar nas pessoas e páginas com quem estabelecem ligação no Facebook”.
Recentemente, a Microsoft detetou grupos com ligações aos serviços militares e serviços secretos russos que operavam na Internet fazendo-se passar por republicanos críticos de Donald Trump. O objetivo seria identificar alvos e infetar utilizadores que partilhassem essa posição crítica do presidente dos Estados Unidos da América, através de diferentes vírus, tendo a empresa levantado a possibilidade do grupo russo em questão, Strontium, ter como objetivo influenciar futuras eleições norte-americanas.