A designação parece complicada: Resposta Sensorial Autónoma do Meridiano (ASMR, na sigla inglesa). Mas, para quem a conhece e utiliza, é só uma (boa) sensação difícil de explicar. Trata-se de uma resposta sensorial a um estímulo visual ou auditivo que é muitas vezes descrita como uma sensação de cócegas no couro cabeludo e nuca que desce pelas costas e ajuda a relaxar, sendo comparado a um “orgasmo auditivo ou mental”.

Este fenómeno — que carece ainda de explicação científica — está a ganhar popularidade entre os utilizadores do YouTube e das redes sociais, multiplicando-se os canais dedicados ao tema. Sussurros, sons metálicos, o manuseamento de objetos do quotidiano, alguém a comer, os sons de uma ida ao dentista, de alguém a escovar o cabelo ou de unhas a arranhar um pepino são apenas alguns exemplos de vídeos de ASMR que podem ser encontrados na plataforma, com sons de baixa frequência capazes de despertar emoções intensas.

No entanto, há aindapouca investigação cientifica sobre o tema, que até 2010 não tinha uma designação. “Antes de a comunidade online existir, muitos dos que experimentaram ASMR dizem que achavam que eram os únicos a ter esta sensação”, disse ao The Guardian Emma L. Barratt, co-autora do primeiro estudo sobre o tema. “Acho que a falta de provas de que a ASMR é vivida por um grupo tão grande de pessoas pode ser o motivo pelo qual, no passado, tem sido ignorado ou reduzido a uma versão estranha de arrepios.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A investigação de Emma L. Barratt, sob a orientação de Nick Davis (ambos da Universidade de Swansea, no Reino Unido), foi a primeira a estudar o tema em 2015. “A ASMR é interessante para mim, enquanto psicólogo, porque é um pouco ‘esquisita'”, explica Davis. “As sensações relatadas pelas pessoas são muito difíceis de descrever, o que é estranho porque normalmente as pessoas são bastante boas a descrever sensações corporais. Assim, nós queríamos descobrir se todaas as pessoas experimentam a ASMR da mesma forma e se são estimuladas pelos mesmos tipos de coisas.”

O estudo — que observou 500 entusiastas de ASMR — concluiu que o som usado como estímulo depende muito do utilizador. Para a esmagadora maioria, os estímulos são uma forma de relaxar e, para mais de dois terços, é uma estratégia para conseguir dormir melhor. Barratt e Davis concluíram também que esta prática é um fetiche sexual para apenas para 5% dos inquiridos.

“De facto, um enorme número de pessoas é estimulada por sussurros, o que sugere que a sensação está relacionada com partilhar intimidade com alguém de uma forma não sexual. Muito poucas pessoas relataram uma motivação sexual para a ASMR. O ponto central é mesmo a pessoa sentir-se relaxada e vulnerável com outra”, refere Davis. Por este motivo, uma parte dos utilizadores não vê com bons olhos a crescente popularidade do fenómeno nas redes sociais, pois passou a ser alvo de gozo e comentários depreciativos no mundo digital.

A crescente popularidade do fenómeno está também associada ao facto de várias personalidades conhecidas já terem experimentado a ASMR. Margot Robbie, Jake Gyllenhaal, Eva Longoria, Kate Hudson e Janet Jackson estão entre as famosas que já aderiram a esta moda, tendo sido desafiadas em entrevistas em vídeo.

Esta popularidade é um motivo de preocupação para os cientistas que continuam a estudar o tema. Dado o estado embrionário da pesquisa, um grupo de investigadores da Universidade de Sheffield, em Inglaterra, alerta para o perigo de a ASMR poder ser divulgada como uma forma de pseudociência.

Tem de haver um equilíbrio cuidadoso entre ceticismo e abertura de espírito quando se investiga a ASMR”, advertiram os investigadores. “Claro que existe também o perigo de os vídeos ASMR serem usados por pessoas que poderão tentar e usá-los para promover pseudociência ou benefícios para a saúde mental (sem fundamentação científica), e inadvertidamente espalhar desinformação sobre a ASMR, o que iria como é óbvio manchar a reputação de qualquer investigação genuína que esteja a ser trabalhada”.