Moreira, Miguel, João Pereira, Argel, Ricardo Rocha, Alex, Petit, Tiago, Sokota e Miki Féher: eram estes os eleitos para o onze titular do Benfica de José Antonio Camacho na partida da quarta jornada da Liga frente ao Belenenses, na época 2003/04. Ah, e Luisão — o atual capitão das águias estreou-se no clube da Luz há exatamente 15 anos e é o único resistente de um Benfica que muito mudou em década e meia.
Foi a 14 de setembro de 2003, num dérbi lisboeta, que o brasileiro proveniente do Cruzeiro vestiu pela primeira vez a camisola encarnada. Benfica e Belenenses terminariam a partida empatados a três bolas, com uma ponta final de loucos: João Pereira e Féher colocaram as águias na frente, Sané reduziu aos 81′, bisou aos 90′ e viu Leonardo apontar mais um para o conjunto de Belém; pelo meio, aos 86, o gigante Luisão apontava o terceiro golo do Benfica, o primeiro de 47 marcados ao serviço do clube da Luz.
O Estádio Nacional do Jamor foi o palco do encontro que funcionou como casa emprestada do Benfica, que estava a construir o seu atual recinto. Do outro lado da barricada, no adversário Belenenses, jogava uma cara bem conhecida de Luisão e dos adeptos benfiquistas: o lateral esquerdo Eliseu. O internacional português, na altura, treinado por Manuel José, cumpria a sua segunda época como sénior na formação do Restelo, antes de rumar a Espanha e Itália, para, em 2014/15, regressar a Portugal para representar o Benfica.
Quando Eliseu chegou à Luz, o menino de 22 anos que se estreou no Jamor tinha 33, usava a braçadeira de capitão, assumia-se como principal referência defensiva dos encarnados e conquistara os adeptos pelos anos de dedicação ao clube. Daí até hoje, o posto de capitão mantém-se, assim como o carinho dos benfiquistas e o reconhecimento de Luís Filipe Vieira, que, aos 37 anos, lhe renovou contrato por mais uma época (até 2019); só o lugar no onze se perdeu, com Luisão a esperar ainda pelos primeiros minutos oficiais na presente temporada.
O central brasileiro chegou à Luz a 23 de agosto de 2003, ainda pela mão de Manuel Vilarinho, mas foi com Vieira que se tornou um símbolo do clube. As conquistas do presidente encarnado misturam-se com as do central brasileiro, numa simbiose de títulos que devolveu os encarnados a um caminho ascendente, do qual andavam arredados há algum tempo. Para se ter uma ideia, a dupla Luisão/Vieira chegou em 2003, ganhou a Taça de Portugal na primeira época, foi campeã nacional na seguinte e vencedora da Supertaça já em 2005; o último título conquistado pelo Benfica antes da transferência do central tinha sido em 1995/96 (Taça de Portugal), com o último Campeonato a remontar a 1993/94.
De lá para cá, foram seis títulos de campeão nacional, três Taças de Portugal, sete Taças da Liga e quatro Supertaças — um total de 20 títulos ao serviço do Benfica, sendo o jogador mais titulado com a camisola encarnada. E este dado estatístico assume maior relevância se repararmos que as águias têm 79 títulos nacionais em mais de 100 anos de história, sendo que mais de 25% foram ganhos nos 15 anos de Luisão.
O brasileiro é, aliás, o segundo jogador de sempre com mais jogos pelo Benfica: são 538 partidas oficiais, apenas atrás das 578 de Nené, e, de longe, o estrangeiro com mais encontros, com Maxi Pereira, o segundo não português com mais jogos, a 205 partidas de distância. A simbólica marca dos 500 jogos foi alcançada na Liga dos Campeões, a 14 de fevereiro de 2017, frente ao Dortmund.
Em quinze anos, muito mudou no Benfica, desde logo os treinadores que se sentaram no banco. Luisão apanhou sete, a saber: José Antonio Camacho (uma Taça de Portugal), Giovanni Trapattoni (um Campeonato), Ronald Koeman (uma Supertaça), Fernando Santos, Quique Flores (uma Taça da Liga), Jorge Jesus (três Campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e cinco Taças da Liga) e Rui Vitória (dois Campeonatos, uma Taça de Portugal, duas Supertaças e uma Taça da Liga).
Da equipa que entrou em campo frente ao Belenenses, em setembro de 2003, só Luisão permanece nos quadros da Luz. Em década e meia do brasileiro no Benfica, mudaram plantéis, técnicos e até mesmo mentalidades, com as águias adormecidas a acordarem novamente para os títulos; só o brasileiro ficou, acompanhado de Vieira, e das conquistas entretanto alcançadas pela dupla.