“Anteriormente conhecido como Kanye West. Eu sou YE.” Foi desta forma que, no sábado passado, o rapper norte-americano anunciou ao mundo, via redes sociais, o seu novo nome. Já não seria uma notícia pequena para um só fim de semana, mas está longe de ter sido única associada ao artista: Kanye (ou YE) participou também no programa Saturday Night Live (SNL) onde, depois das atuações, discursou a favor do presidente dos Estados Unidos — o que lhe valeu apupos vindos diretamente da audiência — e, já no domingo, publicou uma fotografia com um boné com o slogan da campanha de Trump (“Make America Great Again”), defendendo que a 13º emenda da Constituição dos Estados Unidos da América, que aboliu a escravatura, deveria ser, ela própria, “abolida”.
the being formally known as Kanye West
I am YE
— ye (@kanyewest) September 29, 2018
Por partes. O nome “Ye” é um diminutivo de Kanye e também o título do seu mais recente álbum, lançado em junho deste ano. Há ainda outra explicação: em junho, o rapper explicou à estação de rádio Real 92.3, numa entrevista que visava promover o novo disco, que Ye era a palavra usada com mais frequência na Bíblia. “Na Bíblia significa ‘tu’. Então, eu sou tu, eu sou nós. Passei de ser Kanye, que significa o único, para ser apenas YE — um reflexo do nosso bem, do nosso mal, da nossa confusão, de tudo. Sou um reflexo de quem somos”, disse, citado pela Sky News. Mudar o nome aos 41 anos poderá ser, no mínimo, confuso, sobretudo quando se é uma estrela à escala internacional. Talvez por isso a Vulture tenha escrito: “Kanye West Is Just YE Now Because Sure, Fine, Whatever”.
No mesmo artigo da Vulture, lia-se que era preciso esperar pelo SNL para ver se Adam Driver introduzia o artista como Kanye West ou como Ye. O certo é que, após a performance, o novo nome tornou-se secundário: depois de atuar, o artista fez um discurso de apoio a Donald Trump: “Muitas vezes falo com uma pessoa branca sobre isto e ela pergunta ‘Como é que podes gostar do Trump, ele é racista!’. Se estivesse preocupado com o racismo, ter-me-ia mudado da América há muito tempo. Não tomamos as nossas decisões apenas com base no racismo. (…) Se alguém me inspira e eu conecto com essa pessoa, não preciso de acreditar em todas as suas políticas”.
https://twitter.com/2Cool2Bloggg/status/1046273060259729408?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1046273060259729408&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.eonline.com%2Fbr%2Fnews%2F972770%2Fkanye-west-troca-de-nome-e-e-vaiado-ao-fazer-discurso-a-favor-de-trump
https://twitter.com/GABRlELinHELL/status/1046417566435020800
O comediante Chris Rock foi uma das pessoas que filmaram, em direto, as atuações e o discurso do rapper. No Instagram, numa das “stories” publicadas, é possível ouvir o artista a rir, ao mesmo tempo que diz “Oh meu Deus”. Também com base em vídeos referentes à última edição do SNL, é possível ouvir Ye a dizer perante a audiência que, nos bastidores do programa, houve quem pedisse ao rapper para não usar o chapéu com a mensagem “Make America Great Again”.
Tudo isto aconteceu no sábado, alguma coisa haveria de sobrar para domingo, dia em que Ye publicou uma fotografia no Twitter com a seguinte mensagem: “Isto representa o bem e a América a tornar-se completa outra vez. Não vamos mais terceirizar para outros países. Construímos fábricas aqui, na América, e criamos empregos. Proporcionaremos empregos a todos os que estão livres de prisões à medida que abolimos a 13ª emenda. Mensagem enviada com amor”. A 13º emenda da Constituição dos EUA aboliu oficialmente a escravatura e a servidão involuntária (à exceção, no último caso, de punição por crime cometido). Durante a tarde, o artista, que foi criticado pelo comentário, voltou a falar do assunto: “Não abolir, mas vamos alterar a 13º emenda”, sem explicar como nem em que sentido.
this represents good and America becoming whole again. We will no longer outsource to other countries. We build factories here in America and create jobs. We will provide jobs for all who are free from prisons as we abolish the 13th amendment. Message sent with love pic.twitter.com/a15WqI8zgu
— ye (@kanyewest) September 30, 2018
not abolish but. let’s amend the 13th amendment
We apply everyone’s opinions to our platform
— ye (@kanyewest) September 30, 2018
the 13th Amendment is slavery in disguise meaning it never ended We are the solution that heals
— ye (@kanyewest) September 30, 2018
Entretanto, o ator Chris Evans, mais conhecido por interpretar a personagem “Capitão América”, dirigiu duras críticas ao rapper, afirmando que não há nada mais “enlouquecedor” do que argumentar com uma pessoa “que não sabe de história, não lê livros e emoldura a sua miopia como uma virtude”. “O nível de conjecturas sem desculpa que encontrei recentemente não são apenas frustrantes, mas regressivas, sem precedentes e absolutamente aterrorizantes”, continuou.
There’s nothing more maddening than debating someone who doesn’t know history, doesn’t read books, and frames their myopia as virtue. The level of unapologetic conjecture I’ve encountered lately isn’t just frustrating, it’s retrogressive, unprecedented and absolutely terrifying. https://t.co/4jCFwB4T5U
— Chris Evans (@ChrisEvans) September 30, 2018
Esta não é a primeira vez que os comentários do rapper causam polémica. Numa entrevista ao TMZ, em maio deste ano, o artista sugeriu que 400 anos de escravidão foram “uma escolha”: “Quando ouvimos dizer que a escravatura durou 400 anos. Quatrocentos anos? Soa a uma escolha”. Mais tarde, após uma onda de polémica, o artista defendeu-se, também através do Twitter, explicando que se referia “a uma prisão mental”.
A pergunta “O que se passa com Kanye West?” não é nova. Também em maio, um artigo do britânico The Guardian levava o título “O que aconteceu à estrela mais complexa do rap?”.