Uma semana depois de três a quatro dias de um pesadelo que começou em Munique e só terminou durante uma aparente insónia de Luís Filipe Vieira, o Benfica chegava este sábado ao Bonfim num momento que, provavelmente, nem os adeptos mais otimistas teriam imaginado depois daquela noite europeia na Alemanha. Frente ao V. Setúbal, os encarnados podiam chegar à terceira vitória consecutiva e começar — finalmente — a afastar fantasmas. Mas se Lito Vidigal, treinador sadino, acredita “as intranquilidades não demoram a passar” nas equipas ditas “grandes”, Rui Vitória era mais cauteloso e garantia que nem o triunfo em Setúbal colocaria um ponto final na crise.“Ninguém sai de um estado menos positivo com um estalar de dedos”, explicava o técnico do Benfica.

Em Setúbal, Rui Vitória voltava a dar a titularidade a Zivkovic e regressava àquele que tem sido o habitual onze dos encarnados — com Gedson, Pizzi, Rafa e Jonas –, depois de ter alterado quase metade da equipa a meio da semana, para o jogo da Taça da Liga com o Paços de Ferreira. Krovinovic, médio croata que voltou a fazer 90 minutos precisamente no jogo com o Paços, ficava de fora de convocatória para realizar gestão de esforço e juntava-se a Ebuehi e Salvio no lote de indisponíveis. Do outro lado, destaque para a inclusão de Hildeberto no onze inicial: o médio fez toda a formação no Benfica e passou mesmo pela equipa B dos encarnados antes de rumar a Inglaterra e à Polónia, e reencontrava no jogo deste sábado antigos colegas de balneário, como Rúben Dias e André Almeida.

À entrada para o renovado relvado do Bonfim, o Benfica já sabia que o FC Porto tinha vencido o Portimonense esta sexta-feira e que, já este sábado, o Sp. Braga tinha ido a Viseu ganhar ao Tondela. Ora, desta forma, os encarnados viam-se empiricamente obrigados a ganhar para não deixar fugir os adversários diretos e pressionar o Sporting, que só entra em campo este domingo. A vitória valia a manutenção do quarto lugar e os acessíveis quatro pontos de distância para o líder, dois para o Sporting (caso os leões vençam o Desp. Aves) e um para os arsenalistas. Já a equipa de Lito Vidigal, que depois de um arranque de temporada intermitente se encontra agora num bom momento e assinala já o melhor registo dos últimos 12 anos, estava pressionada pela vitória do Belenenses SAD frente ao Desp. Aves e precisava de conquistar pontos para voltar ao sétimo lugar.

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Ficha de jogo

V. Setúbal-Benfica, 0-1

12.ª jornada da Primeira Liga NOS

Estádio do Bonfim, em Setúbal

Árbitro: Carlos Xistra (AF Castelo Branco)

V. Setúbal: Cristiano, Mano, Dankler, Vasco Fernandes, Nuno Pinto (Zequinha, 77′), Semedo (André Pedrosa, 66′) e Mikel, Éber Bessa, Jhonder, Berto (Rúben Micael, 45′), Mendy

Suplentes não utilizados: Joel Pereira, Artur Jorge, Nuno Valente, Valdu Té

Treinador: Lito Vidigal

Benfica: Vlachodimos, André Almeida, Ruben Dias, Jardel, Grimaldo, Pizzi (Gabriel, 73′), Fejsa, Gedson Fernandes, Zivkovic (Alfa Semedo, 90′), Jonas (Seferovic, 80′), Rafa

Suplentes não utilizados: Svilar, Cervi, Castillo, João Félix

Treinador: Rui Vitória

Golos: Jonas (17′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Cristiano (11′), Pizzi (16′), André Almeida (40′), Jonas (43′), Mano (43′), Nuno Pinto (73′)

O Benfica entrou aparentemente calmo, sem o nervosismo que já vinha a ser habitual em jogos anteriores, e rapidamente se percebeu que o caudal ofensivo iria pender sempre para o lado esquerdo, com o tridente Grimaldo-Gedson-Zivkovic a tomar as rédeas do ataque. O V. Setúbal, ainda assim, não se restringiu ao seu meio-campo defensivo e mostrava ser capaz de desequilibrar, principalmente pelos pés de Mendy, que, embora demasiado intempestivo e a falar mais do que a jogar futebol, continua a ser a unidade que maior valor acrescenta aos sadinos. Os contra-ataques da equipa de Lito Vidigal, sempre encadeados a partir de perdas de bola em zonas proibidas por parte dos jogadores do Benfica, apanharam muitas vezes Rúben Dias e Jardel desprevenidos – assim como os lances de bola parada, onde a bola era sempre colocada bem no coração da área de Vlachodimos à procura de um desvio e só raras vezes os centrais encarnados conseguiram controlar a situação de forma inequívoca.

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O ataque do Benfica, embora bem oleado e sem o envolvimento de Pizzi, que passou completamente o lado do jogo na primeira parte, não conseguia fazer a bola chegar com qualidade aos últimos 30 metros do relvado e era ainda incapaz de criar situações de golo. Na primeira — à exceção de um livre indireto que Jonas atirou contra a barreira depois de Cristiano agarrar a bola fora de área –, marcou. Grimaldo, como não podia deixar de ser, tabelou com Zivkovic, como não podia deixar de ser, e descobriu Gedson no corredor, como não podia deixar de ser. O médio português, que depois de ter perdido a titularidade para Gabriel durante alguns jogos parece ter voltado a ser opção inicial de Rui Vitória, cruzou forte e de pé esquerdo para o coração da área, onde estava Jonas. O brasileiro, completamente sozinho, rematou à meia volta, bateu Cristiano e marcou pelo quarto jogo consecutivo. Depois de colocar o Benfica em vantagem no Bonfim, Jonas não celebrou sozinho e apressou-se a procurar Gedson para o felicitar e agradecer pela assistência: o real agradecimento teria de ser feito a Gedson, a Zivkovic e a Grimaldo, que juntos orquestraram uma jogada de ataque praticamente perfeita.

Depois do golo, para lá de um remate perigoso de Hildeberto, o V. Setúbal não conseguiu realmente reagir à desvantagem e pouco mais fez do que transições ofensivas inconsequentes e que nunca encontravam Cádiz, a referência ofensiva sadina, que jogou 45 minutos quase perdido e de costas para o jogo. O Benfica, sem nunca asfixiar nem encostar o V. Setúbal às cordas, controlava o jogo com bola e podia ter engordado a vantagem por duas vezes, uma por Grimaldo, que voltou a combinar com Zivkovic e atirou forte e rasteiro ao lado da baliza de Cristiano, e outra por intermédio do próprio sérvio, que aproveitou uma bola perdida à entrada da área para atirar de primeira ao poste. Na ida para o intervalo, o jogo tinha mais Benfica, um golo e 24 faltas: Carlos Xistra teve pouca mão no jogo e interrompeu a partida, em média, de dois em dois minutos.

Lito Vidigal tirou Hildeberto ao intervalo e colocou o habitualmente titular Rúben Micael, numa tentativa de ganhar o meio-campo, espaço onde o jogo estava a ser discutido na maioria do tempo. Sem nunca ter o jogo na mão – e com recorrentes maus passes, erros desnecessários e lapsos de atenção –, o Benfica manteve as linhas relativamente elevadas até aos 60 minutos, altura em que deixou de conseguir pressionar alto e abriu espaço entre os setores, dando origem a um jogo mais partido que permitia ao V. Setúbal lançar Cádiz em vertiginosas cavalgadas pelo meio-campo defensivo dos encarnados. O avançado, que assinou uma boa segunda parte, deu sempre muito trabalho a Jardel mas mostrou-se incapaz de lutar sozinho contra os centrais do Benfica.

André Almeida e Grimaldo deixaram de subir pelas alas, Zivkovic preocupou-se mais com as dobras em terrenos interiores e Pizzi permaneceu ausente. A memória da presença de Fejsa no jogo deste sábado é residual — o que significa que realizou uma boa exibição e não comprometeu — e só Gedson, no meio-campo do Benfica, continuou a tentar construir de forma criativa. Lá mais à frente, Jonas recuou para a posição de um falso ’10’ e chegou a oferecer o segundo golo a Rafa em duas ocasiões. O jogo foi adormecendo à medida que se aproximou do minuto 90 e a qualidade do segundo tempo foi inquestionavelmente inferior à do primeiro, já que o Benfica nunca se mostrou muito interessado em arriscar para aumentar a vantagem (como mostram as alterações de Rui Vitória, que colocou Gabriel em jogo quando poderia ter lançado o mais imprevisível Alfa Semedo) nem o V. Setúbal se mostrou capaz de ir à procura, pelo menos, de um ponto (exceto numa oportunidade clara já em cima do minuto 90, que só não foi golo graças a uma grande defesa de Vlachodimos).

O Benfica ganhou em Setúbal sem ter realizado uma grande exibição e poderia ter sido surpreendido se também os sadinos tivessem apresentado um nível exibicional superior. Pizzi permanece distante e inconsequente mas é bem substituído pelo trio Grimaldo-Gedson-Zivkovic, que estão totalmente entrosados e, quando em sintonia, tornam o corredor esquerdo do jogo do Benfica o grande viveiro de lances de perigo. Os encarnados conquistaram a terceira vitória consecutiva, mantiveram a distância para os adversários da frente, marcaram sete golos nos últimos três jogos e não sofreram nenhum. Rui Vitória pode ainda não ter estalado os dedos, mas está perto de o fazer.