Dois irmãos, um rapaz e uma rapariga, são o segundo caso alguma vez identificado de gémeos nascidos da fertilização de um único óvulo por dois espermatozoides. A ciência chama-lhes gémeos sesquizigóticos, são extremamente raros por o óvulo de onde nascerem terem tido inicialmente três pares de cromossomas em vez de dois,  e não costumam sobreviver ao longo da gravidez. O primeiro caso tinha sido encontrado em 2007 nos Estados Unidos. Estes gémeos nasceram em 2014 em Brisbane, Austrália, revela um comunicado de imprensa da Universidade de Queensland.

Aos olhos da comunidade científica, estes gémeos não são nem idênticos, nem falsos. Ficam no limbo e, por isso, são antes gémeos semi-idênticos. Dois irmãos são gémeos idênticos quando um óvulo é fertilizado por um único espermatozoide: as crianças partilham 100% da informação genética. E são gémeos falsos quando dois óvulos são fertilizados por um espermatozoide cada um: nesse caso, os irmãos partilham apenas 50% da informação genética.

Mas o caso dos gémeos semi-idênticos é muito particular. Depois da fertilização, os cromossomas dos espermatozoides e do óvulo misturam-se e dão origem a três conjuntos genéticos. Dois deles têm informação genética vinda da mãe e do pai, mas o terceiro é composto por cromossomas vindos dos dois espermatozoides e não têm qualquer material genético da mãe. Por norma, casos destes não vão avante e o organismo elimina o embrião. Neste caso, no entanto, isso não aconteceu: o conjunto que tinha apenas a informação genética do pai morreu. E os outros dois continuaram a desenvolver-se, dando origem a dois irmãos gémeos saudáveis, agora com quatro anos. Algumas das células que compõem o organismo dos gémeos contêm os cromossomas do primeiro espermatozóide, enquanto outras são compostas pelos cromossomas do segundo espermatozoide.

Embora este seja o segundo caso de gémeos sesquizigóticos conhecido pela comunidade científica, é o primeiro identificado ainda durante a gravidez. Os outros gémeos, um rapaz e uma rapariga encontrados em 2007, só foram detetados quando um dos irmãos foi examinado por ter genitália ambígua — com características físicas de ambos os sexos. Ao fazerem análises genéticas, os médicos descobriram que as duas crianças tinham a mesma informação genética vinda da mãe, mas só partilhavam cerca de metade do ADN herdado do pai.

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Já no caso mais recente, a gravidez de sesquizigóticos foi encontrada logo no início. Nicholas Fisk, o médico que acompanhou o caso  no Royal Brisbane and Women’s Hospital (Austrália), explicou em comunicado de imprensa como é que isso aconteceu: “A ecografia da mãe às seis semanas mostrou uma placenta única e o posicionamento dos sacos amnióticos indicou que ela estava à espera de gémeos idênticos. No entanto, um novo exame às 14 semanas mostrou que eram do sexo masculino e feminino, o que não é possível para gémeos idênticos”.

A possibilidade de sobrevivência de gémeos nestas condições é extremamente rara porque “três conjuntos de cromossomas são tipicamente incompatíveis com a vida”, acrescentou o médico Michael Gabbett, que também acompanhou esta gravidez. “No caso dos gémeos sesquizigóticos de Brisbane, o óvulo fertilizado dividiu-se em três partes iguais com três pares de cromossomas, mas evoluiu para grupos de células que se dividiram em dois, dando origem aos gémeos”.

Após a descoberta deste segundo caso, Nicholas Fisk e Michael Gabbett decidiram consultar as bases de dados médicas de todo o mundo para saber se havia mais casos de gémeos sesquizigóticos além dos reportados. Mas não encontraram mais nenhum além deste e do caso de 2007. “Sabemos que este é um caso excecional de gémeos semi-idênticos. E a raridade significa que não há necessidade de fazer testes genéticos de rotina”, concluíram.