O presidente da Câmara de Alcácer do Sal criticou esta quarta-feira o Governo pela “falta de respostas” para enfrentar a seca na bacia hidrográfica do Sado, afirmando que o grupo de trabalho, criado em 2018, não produziu efeito.

“É uma situação extraordinariamente preocupante que exige de todos nós medidas para mitigar e acelerar respostas, que há muito temos defendido e o Governo não tem tomado as medidas suficientes para resolver este problema ou para atenuar as consequências das alterações climáticas”, disse à agência Lusa Vítor Proença (CDU).

Com os níveis da albufeira de Pego do Altar, em Alcácer do Sal, no distrito de Setúbal, abaixo dos 50% e perante esta “dura realidade”, o autarca comunista reclama “medidas e ações”, porque, segundo diz, “se não chover, não há resposta” para enfrentar os efeitos da seca.

“As barragens são alimentadas pela água da chuva e se não chove não há água para os agricultores. O arroz de Alcácer do Sal representa 30% da produção nacional, o que significa que o país perderá, assim como os agricultores, a economia local, tudo aquilo que o arroz movimenta, mas também as pastagens, o gado e outras culturas”, alertou.

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O autarca recorda que o ano passado, para atenuar os efeitos da seca que atinge a bacia hidrográfica do rio Sado, foi constituído um grupo de trabalho “que só recentemente entrou em funcionamento”.

“Em abril do ano passado reunimos com o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, e só nove meses depois e devido à insistência da câmara municipal é que aceleradamente se veio a constituir o grupo de trabalho que é coordenado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA)”, criticou.

O grupo de trabalho defende “a ligação de Alqueva às barragens do Vale do Gaio e de Pego do Altar”, uma vez que “existem soluções técnicas” que a EDIA [Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva] já ponderou”.

“Tem havido uma desvalorização muito grande em relação a esta matéria, designadamente a ligação de Alqueva a estas duas barragens [Pego do Altar e Vale do Gaio], que não é nada de extraordinário e que tem de ser feito”, apelou.

O Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado (APARROZ), de Alcácer do Sal, já estimou “uma quebra entre 20 e 25%” da área de cultivo de arroz, devido à seca.

“O nível de água nas barragens de Pego do Altar e Vale do Gaio, no concelho de Alcácer do Sal, está a cerca de 50% da sua capacidade, o que nos leva a prever, aqui nesta zona, uma quebra de 20 a 25% da área de cultivo normal”, explicou à agência Lusa o diretor do APARROZ, João Reis Mendes.

Com 7.500 hectares de arroz para cultivar, o dirigente da APARROZ indicou que, devido à falta de chuva no último inverno para “garantir o abastecimento das barragens”, vai ser necessário “fazer um rateio da água” para rega.

Com uma “produção média anual de seis toneladas por hectare” e com “um preço médio de 280 euros por tonelada”, o cultivo do arroz é uma das principais atividades económicas de Alcácer do Sal, que, quando explorados os sete mil hectares, pode chegar a valer cerca de “10 milhões de euros”, segundo os produtores.