“Mirai”

Mais uma brilhante, enternecedora e divertida animação de longa-metragem saída das mãos do premiadíssimo realizador japonês Mamori Hosoda, o autor de “A Rapariga que Saltava Através do Tempo” e “O Rapaz e o Monstro”. Kun, um menino de quatro anos, vive feliz e contente com os pais e um cão, mas a chegada de uma irmã mais nova, Mirai, enche-o de ciúmes e de raiva por já não ser mais o centro das atenções da sua família. O jardim mágico de sua casa vai fazê-lo viajar para trás e para a frente no tempo, encontrar a irmã já crescida e ver-se a si próprio tal como será no futuro, e aceitar finalmente Mirai e a sua situação de irmão mais velho. Combinando com requinte efeitos digitais e animação tradicional, uma atenção de miniaturista ao pormenor (ver a casa onde Kun, Mirai e os pais moram), muito sentido de humor e um profundo conhecimento da psicologia infantil, Hosoda realiza um filme deslumbrante, delicado e sensibilíssimo sobre o valor e a importância da família e da sua continuidade no tempo.

“A Pereira Brava”

Os apreciadores do cinema contemplativo e de longos silêncios do turco Nuri Bilge Ceylan repararão que se fala bastante mais em “A Pereira Brava” do que é costume nos filmes do realizador de “Climas” e “Era uma Vez na Anatólia”, mas daí não vem mal nenhum à fita. Nela, Sinan, recém-formado na universidade em Istambul, volta à vila natal e confronta-se com a tacanhez do seu quotidiano, ao mesmo tempo que procura editar o seu primeiro livro, definir um rumo para a vida e lidar com o pai, um professor primário outrora respeitado mas agora cheio de dívidas de jogo, que envergonham e comprometem a mãe e a irmã do rapaz. Mais uma vez, Ceylan passeia a sua mestria cinematográfica, o seu admirável sentido plástico e o seu gosto pela reflexão sobre os problemas, dilemas, conflitos e tensões da existência humana através das personagens, num cinema que é tanto de pura beleza visual como de genuína preocupação e inquietação intelectual. Uma raridade, nos tempos que correm.

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“Dumbo”

Chega agora a vez de Tim Burton filmar, em imagem real e com efeitos digitais, uma nova versão de uma animação de longa-metragem clássica de Walt Disney. O filme escolhido foi “Dumbo”, feito por Disney em 1941, uma história de animais falantes e antropomorfizados passada num circo, em que a vedeta é um pequeno elefante que voa graças às suas enormes orelhas. A versão de Burton substitui os animais por humanos: os que rodeiam Dumbo para o proteger e lhe fazer bem, ou para o explorar e magoar, e entre os principais intérpretes do filme, que contracenam com o elefantezinho voador criado pelos efeitos digitais, estão Colin Farrell, Danny DeVito, Michael Keaton, Eva Green e os pequenos Nico Parker e Finley Hobbins. Embora mantendo-se leal à essência da história do filme de Walt Disney, e ao seu tema e aos seus valores, Tim Burton passa-a pelo filtro da sua sensibilidade e da sua identidade visual. “Dumbo” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.