O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM) disse à Lusa que o serviço meteorológico moçambicano fez “um bom trabalho” na previsão e alerta do ciclone Idai, mas que os meios para evacuar as áreas de risco foram insuficientes.
Na sede da ONU, em Nova Iorque, Petteri Taalas afirmou que o “serviço meteorológico moçambicano estava a fazer um bom trabalho” por ter emitido uma previsão correta sobre o ciclone Idai, que afetou Moçambique em 14 de março.
“A boa notícia é que a previsão foi emitida e o serviço meteorológico moçambicano estava a fazer um bom trabalho”, disse Petteri Taalas, elogiando assim o Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique.
O secretário-geral da OMM estabeleceu uma comparação entre o ciclone Idai, em Moçambique e o furacão Harvey no Estado do Texas (centro sul dos Estados Unidos), em agosto de 2017, ambos classificados como de categoria 4, numa escala de 1 a 5.
O número de vítimas mortais no Texas foi de 82, enquanto em Moçambique, os balanços mais recentes apontam para 468 mortos.
“Em ambos os casos existiram avisos”, disse o especialista, mas a população de Moçambique não tinha meios para se retirar das áreas, acrescentou.
“Os meios para retirar milhões de pessoas, em Moçambique, não existiam”, explicou Petteri Taalas, enquanto que no Texas as pessoas “podiam pegar nos seus veículos privados e sair das áreas de risco”.
Segundo o dirigente, a OMM pretende aumentar a cooperação com Moçambique e com outros países menos desenvolvidos, trabalhando na área da prevenção e da previsão antecipada de catástrofes.
Nesse sentido, a Organização Meteorológica Mundial “serve de plataforma” para a troca de recursos entre os países mais desenvolvidos e os menos desenvolvidos.
O especialista considerou que “é difícil dizer se [o ciclone Idai] esteve relacionado com alterações climáticas” e com a ação humana de longa duração sobre o ambiente, já que o ciclone se formou com a junção de elementos que têm mudado ao longo dos anos.
Petteri Taalas sublinhou que as alterações climáticas são responsáveis pelo aumento de temperatura do ar e das águas dos oceanos em todo o mundo, sendo que este aumento “dá mais energia aos furacões, ciclones e tufões”.
Como consequência da subida da temperatura, continuou o investigador, existe maior humidade na atmosfera devido à evaporação, fator que dá “mais força ao problema das inundações e cheias”.
O secretário-geral da OMM disse que há uma “maior quantidade de tempestades tropicais mais devastadoras”, por causa de “oceanos quentes”.
“É muito provável que tenha havido uma componente de alterações climáticas por trás do evento”, concluiu Petteri Taalas, mas só no futuro será possível dizer com exatidão qual foi a contribuição dessas alterações para o fenómeno, com novos sistemas meteorológicos que estão a ser experimentados na Alemanha e Austrália.