Se ainda não viu o último episódio, nada tema: neste texto não há spoilers, só a revelação das estratégias que a HBO adotou para os evitar durante a rodagem da oitava e última temporada da série mais mediática do momento — “Face of Angels”, ou em português “Cara dos Anjos”.
De acordo com a atriz Sophie Turner foi esse o nome, “ao calhas”, que os estúdios decidiram atribuir ao grand finale da série assinada por David Benioff e D. B. Weiss com base no universo e nos livros criados por George R. Martin. Em vez de Game of Thrones, a série passava a ser “Face of Angels”. Cada um dos atores recebeu também um nome de código que não podia contar a ninguém, para que nenhum dos envolvidos na gigantesca máquina pudesse saber de antemão que personagens participavam em que cenas ou até quem se mantinha vivo e a contar para o enredo (se bem que, dado o historial da série, a morte possa efetivamente não significar nada).
Lady Sansa Stark, à Digital Spy, não chegou a revelar qual o nome de código que lhe calhou em sorte. Em vez disso contou que todos os visitantes dos estúdios eram obrigados a cobrir as câmaras de telemóveis e afins com fita adesiva preta, para não poderem tirar fotografias. Já o cantor e ator Joe Jonas, seu marido e uma das visitas mais frequentes no set de filmagens, teve de assinar um acordo de não divulgação, para prevenir legalmente qualquer deslize e já a contar com as indiscrições da mulher. “É difícil para mim, sou uma boca de trapos! Tenho a certeza de que numa festa já devo ter dito alguma coisa a alguém… provavelmente à minha mãe!”, chegou a confessar Turner, que aparentemente tem pelo menos uma coisa em comum com a sua personagem, que também não guardou o segredo que Jon Snow lhe confidenciou.
O secretismo em torno da última temporada de Game of Thrones foi tal que, revelou por seu turno Nikolaj Coster-Waldau, o infame Jaime Lannister, também para evitar fugas foram eliminados os guiões em papel. Para além de terem de ler tudo em tablets, através de uma app específica, os atores só tinham 24 horas para o fazerem antes de cada uma das cenas. Depois disso, os textos desapareciam para que nunca mais lhes conseguissem aceder. “Eles são muito, muito rígidos. Este ano atingiram um nível de loucura”, contou o Kingslayer à Elite Daily. “É como a Missão Impossível. «Isto vai auto-destruir-se».”
Ainda dentro da própria produção, foram tomadas outras precauções: os figurantes só podiam estar presentes mesmo nas cenas em que participavam, sendo conduzidos para fora dos estúdios logo a seguir, ou, se fossem expostos a conteúdos mais sensíveis, tinham de assinar contratos semelhantes ao de Joe Jonas.
Para protegerem os últimos seis episódios da série dos inimigos para lá da Muralha, não se sabe ainda se foram gravadas cenas falsas, ou se foram criadas diversões como aconteceu na sexta temporada, quando a atriz Sibel Kekilli, a prostituta Shae por quem Tyrion era apaixonado, reapareceu nos estúdios apesar de já estar morta desde a quarta temporada. “Tinha ido visitá-los quando percebemos que estavam lá alguns paparazzi, então [D. B Weiss e David Benioff] disseram-me, «Sibel, fazes-nos um favor? Vamos pôr-te em personagem para lhes pregarmos uma partida»”, contou a atriz recentemente.
Aquilo que se sabe é que os críticos de TV, que até à quinta temporada recebiam os episódios antes da emissão, continuaram sem ter direito a ver nada antes de tempo. E que, para se protegerem as filmagens fora de portas, foi usada até a mais alta tecnologia anti-drone.
Como estava fora de questão incendiar Dubrovnik só para gravar o quinto episódio, foi construída uma réplica da cidade croata, que faz as vezes de King’s Landing, no parque de estacionamento dos estúdios da série, em Belfast, na Irlanda Norte, contou Benioff num making of citado pelo El País. “Tínhamos um número de drones sem precedentes a sobrevoar o set e a atenção dos paparazzi. E também seguidores da série que tentavam por tudo saber o que ia acontecer no final”, recordou no mesmo programa especial Robbie Boake, responsável pelos exteriores de Game of Thrones. Para que tudo e todos se mantivessem à distância, a cidade falsa foi cercada por uma muralha de cinco pisos de contentores industriais e os céus foram protegidos por dispositivos “assassinos de drones”. “Se um drone sobrevoava os sets, tínhamos uma coisa que mata drones que é muito fixe. Cria um campo em torno deles e os drones caem é muito X-Men”, contou também Sophie Turner.
Pode ter custado bastante aos atores e à equipa de produção, mas pelo menos valeu a pena: até ao último episódio ter sido finalmente emitido, eram 2h da madrugada desta segunda-feira em Portugal, o suspense manteve-se e o final das Crónicas de Gelo e Fogo, já sem livros que o sustentassem ou antecipassem, foi mesmo uma surpresa. Sem spoilers à mistura.