O ex-líder do PSD e comentador da SIC Luís Marques Mendes diz que a “geringonça” será irrepetível no futuro, porque os partidos que a compõem só se entendem “numa coisa: distribuir dinheiro”. No seu espaço habitual de comentário dominical na SIC, Marques Mendes classificou o acordo entre PS, PCP e Bloco de Esquerda como um “casamento de conveniência” que deu jeito a todos os intervenientes nesta legislatura, mas que não se repetirá da mesma forma.

“Eles entendem-se perfeitamente numa coisa: distribuir dinheiro. Em tudo aquilo que já não é dar dinheiro, que já não é dar benesses, eles não se entendem. Nas questões de fundo”, disse Marques Mendes, afirmando que “vai haver cada vez menos dinheiro para distribuir e mais reformas para fazer”. Por isso, uma “geringonça de papel assinado” já não se voltará a repetir. Haverá “entendimentos pontuais”, talvez a “viabilização de um orçamento”.

No entender de Marques Mendes, António Costa está a trabalhar no sentido de alcançar a maioria absoluta, usando vários mecanismos para o fazer: tentando chegar ao eleitorado do centro (por exemplo, esvaziando o PSD nas negociações da Lei de Bases da Saúde); alcançando o eleitorado do PCP e até “imitando o Presidente da República“. “Já tira selfies”, comentou Marques Mendes, sublinhando que Costa quer humanizar a sua imagem.

Marques Mendes comentou também aquilo que considera ser o “caos na saúde” e acusou Mário Centeno de ser o “coveiro” da degradação do Serviço Nacional da Saúde. “Mário Centeno é o grande coveiro desta situação. Merece um elogio porque pôs as contas em ordem, mas merece uma censura porque não foi equilibrada a distribuição de investimento. O problema do SNS é um problema seríssimo e não se resolve como uma nova Lei de Bases da Saúde, resolve-se é com investimento“, disse o ex-líder social-democrata.

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Para Marques Mendes, o encerramento rotativo das urgências para grávidas na Grande Lisboa “não é um caso pontual”, mas sim sintoma de “situações generalizadas” em todo o SNS. “Faltam médicos, faltam enfermeiros, faltam outros profissionais. Isto é antigo”, afirmou, apontando dois fatores que contribuíram para o agravamento do estado do SNS: a lei das 35 horas e as cativações. “Hoje o panorama no SNS é pior do que era no tempo da troika, e já era mau. Quem não tem um seguro de saúde, quem não tem possibilidade de recorrer a um hospital privado, sofre com isto.”

Marques Mendes apontou ainda a ironia da situação, já que médicos e doentes preferem passar para o privado, e é o próprio setor privado que acaba por realizar as operações que o SNS não consegue fazer a tempo. A direita, disse Marques Mendes, fica com a “fama” de ser a favor do setor privado — mas é a esquerda que lhe dá o proveito.

O ex-líder do PSD criticou ainda a forma como António Costa está a gerir a negociação da nova Lei de Bases da Saúde, acusando-o de levar a cabo uma “jogada de esperteza” para chegar ao eleitorado social-democrata. “Por razões de calculismo”, disse Marques Mendes, Costa quer “substituir uma derrota por uma dupla vitória”. Em vez de uma lei chumbada, terá uma lei aprovada e passará a ideia de que que dialoga “à direita e à esquerda“, argumentou Marques Mendes.

“Da forma que as coisas estão a ser feitas, parece que o PSD é uma espécie de pronto socorro. Parece que, quando não consegue resolver o problema à esquerda, António Costa vê no PSD uma espécie de 112, o partido de emergência, o partido de socorro”, considerou.

O comentador da SIC acrescentou ainda que “a Lei de Bases da Saúde não vai trazer nada de novo à saúde, nada de nada”. Será apenas usada por António Costa, assegurou, para dizer que “a saúde está em pantanas e agora finalmente temos um instrumento, uma ferramenta, para a pôr em ordem”.