A Dacia revelou-se uma aposta certeira do agora detido Carlos Ghosn quando, há 20 anos, entendeu que seria possível fazer de um construtor praticamente desconhecido um dos mais relevantes players do mercado europeu. As vendas, em contínuo crescendo, assim o confirmam: subiram 7% em 2018, enquanto as da Renault caíram 5%. Mas a fórmula de sucesso da Dacia vai ser posta à prova, pois a marca romena do Grupo Renault – tal como os restantes construtores de automóveis – tem pela frente metas a cumprir, em termos de emissões. O que implica, necessariamente, electrificação. Logo, um agravamento dos custos que colide com o mais forte argumento de venda da marca: o baixo preço.

Embora o êxito comercial da Dacia se deva, sobretudo, ao facto de oferecer automóveis acessíveis, isso não impedirá o fabricante de alcançar elevadas margens de lucro. Dados concretos a esse respeito não existem, porque a Renault não divulga exercícios em separado, mas grande parte dos analistas estima que o fabricante romeno obtém margens de lucro que chegam a superar as das marcas premium alemãs. Cada Duster, por exemplo, deverá andar na casa dos 10%. E daí que o português Carlos Tavares, actual líder da PSA e ex-número dois da Renault, tenha em tempos descrito a Dacia como “cash cow”. Ou seja, uma espécie de galinha dos ovos de ouro ou uma máquina de fazer dinheiro.

Sucede que, a partir de 2020, a Renault incorre em multas que podem atingir os 450 milhões de euros/ano, caso não cumpra  as novas metas definidas, em termos de emissões. O que significa, nem mais nem menos, do que 17% do lucro estimado para o próximo ano. Neste cenário, à Dacia – que representa perto de um quinto do total das vendas do Grupo Renault – não restará outra alternativa se não a de, também ela, abraçar a electrificação da gama.

Citando o analista da Evercore ISI em Londres Arndt Ellinghorst, a Bloomberg antecipa que o cumprimento das metas ambientais irá custar à Dacia cerca de 670 milhões de euros. O que significará um incremento médio do preço por unidade produzida de 1270€. A perspectiva é que esse agravamento não se fará repercutir no consumidor, mas sim na margem de lucro do construtor.

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