Reportagem na Madeira

É um autêntico toca a reunir. Alberto João Jardim entrou com força na reta final da campanha do PSD-Madeira para apelar ao voto útil no seu partido de sempre. No último comício do partido antes das eleições regionais de domingo, Miguel Albuquerque e o histórico líder madeirense surgiram lado-a-lado, de pazes feitas, para pedirem uma vitória expressiva dos sociais-democratas. O ex-presidente do governo regional dominou o comício do início ao fim. Assim que a banda parou de tocar para dar início à fase dos discursos Alberto João Jardim disse ao que vinha. “Então vamos a isto: porrada de cima a baixo!”. Minutos depois estaria a pedir “juízo” a quem pondera votar nos adversários. “Estão loucos ou quê?”, questionou. “É um suicídio!

Logo na primeira fase agarrou a audiência, que fez automaticamente silêncio: “Hoje não venho aqui fazer um discurso de comício. Hoje quero ter uma conversa com todo o povo madeirense”, disse no mesmo tom que utilizaria um pai que quisesse chamar a atenção dos seus filhos. “Estou aqui por coerência e por convicção“, explicou para não alimentar dúvidas sobre o relacionamento que mantém com o seu sucessor.

Lembrando “o que era a Madeira” antes de ter chegado ao poder e salientando “aquilo em que se tornou” reivindicou o capital dessa transformação para si e para o PSD. Um PSD autenticamente social-democrata. “Jogámos no equilíbrio e vamos continuar a jogar. Jogamos na social-democracia porque sabemos que é aí que está o equilíbrio. Não queremos o capitalismo de antes nem o socialismo-comunismo que nos ameaça“, proclamou.

A cada tirada mais forte, militantes, apoiantes e JSD cantavam músicas de campanha do PSD. Eram dirigidas a Miguel Albuquerque, ao partido mas também e ao próprio Alberto João Jardim, que não se inibiu de saltar quando lhe pediram ou de cantar partes da letra ao microfone quando se animava. Afinal, são canções e ambientes que conhece bem, onde se encontra visivelmente confortável.

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Alberto João Jardim pediu o voto dos “indecisos”, dos que “querem correr riscos” e dos “ressentidos do PSD”. MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Depois de lembrar a transformação da região nos últimos 40 anos e dela colher os devidos louros — “fomos nós, PSD, quem garantiu tudo isso” –, passou ao ataque. “Há ainda pessoas que se dizem indecisas, que dizem que querem correr riscos ou que se focam em intrigas pessoais ultrapassadas que dizem respeito à vida interna do PSD. É com elas que quero ter uma conversa”.

E prosseguiu: “Estão indecisas em relação a quê? Querem entregar isto aos comunistas  do PCP, do BE e do JPP?”. Alvo um abatido. “Aos querem correr riscos eu pergunto: para quê? Não se lembram do que passamos em 1974 e 1975?”. Alvo número dois idem. “E para a malta do PSD que está ressentida”, disse antes de fazer uma calculada pausa dramática para de seguida continuar: “Não é hora de ressentimentos, é hora do um por todos e todos por um“. Alvo três, o porta-aviões desta história, abatido.

Recusou tocar no cenário de derrota mas lá deixou escapar uma frase enigmática, garantindo que se as coisas não correrem bem ao PSD no domingo será “o primeiro a estar na linha da frente a lutar pelas reivindicações que forem justas”.

Faltava a parte da prometida “porrada”. E lá chegou. Acusou António Costa de querer “cortar a autonomia” do arquipélago, de pretender “acabar com a zona franca” e de desejar “aumentar os impostos”. Atacou o primeiro-ministro por ter estado na Madeira mas “não ter uma palavra para os indecisos”. “Estão indecisos? Querem correr riscos? É uma loucura!”. No fim, tentou resumir tudo numa frase: “Não estraguem tudo agora, a luta continua”.

“Vamos entregar isto aos comunistas, para acabarem com a nossa vida?”

Na reta final da campanha, Miguel Albuquerque voltou a insistit na necessidade de o PSD ter uma “vitória expressiva”. MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

A plateia estava rendida e Miguel Albuquerque, que falou de seguida, não conseguiu atingir os melhores momentos da intervenção do seu antecessor. Aquele era o comício de Alberto João Jardim e o presidente do PSD-Madeira sabia que dificilmente lhe roubaria o protagonismo.  Talvez por isso não tenha feito um discurso propriamente galvanizador, repetindo ideias e argumentos que tem vindo a utilizar nos últimos comícios.

O presidente do governo regional da Madeira pediu uma “votação expressiva” no PSD, acusou o PS e o seu “candidato sorridente” de “embustes e foguetório” e  tentou colar o BE e o PCP à Venezuela — “eles que vão para lá e deixem-nos em paz”, pediu. As bandeiras agitavam-se e os aplausos seguiam-se, mas o entusiasmo tinha esmorecido. Atrás de Albuquerque, Alberto João Jardim estava irrequieto, ora conversando com jotinhas ora brincando com bandeiras, e ia roubando alguma da atenção da audiência.

Miguel Albuquerque ia tentando replicar o estilo de Jardim mas sem o mesmo efeito. “O que seria de nós se voltássemos para a bandalheira de 1975 que muitos de nós sentimos na carne? Vamos entregar isto aos comunistas, para acabarem com a nossa vida?”, questionou.

Terminou agradecendo todo o apoio e mostrando-se orgulhoso do seu mandato. “Aconteça o que acontecer no domingo sou um homem que hoje pode andar na rua sem que ninguém me diga que não cumpri os meus compromissos”, concluiu antes de se gritarem os vivas e os cânticos da praxe.