Wines by Heart

Os atrasos foram consideráveis por conta da burocracia — eram precisas muitas licenças –, mas desde logo os quatro sócios brasileiros da Wines by Heart tomaram o gosto àquele espaço em particular, situado numa rua paralela à Avenida da Liberdade, numa zona turística “mais nobre e de fácil estacionamento”. A demora fê-los avançar primeiro com o projeto de distribuição de vinhos, inicialmente projetado para daqui a três anos. Hoje vendem rótulos de 10 países e de 40 produtores que chegam, inclusive, a 14 restaurantes portugueses com estrelas Michelin.

Mas a Wines by Heart, pensada desde 2016 e de portas abertas há menos de dois meses, é em primeiro lugar uma garrafeira. Só depois um wine bar e restaurante. A primeira coisa que se vê quando entramos no espaço são, aliás, várias prateleiras que acomodam até 900 referências nacionais e estrangeiras. E se existe carta de vinho a copo, com 80 rótulos que vão dos 6 aos 175 euros, carta de vinhos à garrafa nem vê-la. Essa listagem é a própria garrafeira. Quem tem dúvidas sobre o quer pergunta à sommelier da casa. “A nossa ideia é que as pessoas bebam grandes vinhos à mesa, o que é difícil por causa das margens de preço. Aqui, qualquer vinho da garrafeira pode ser trazido para a mesa. Existe uma taxa de rolha única de 15 euros. Se um vinho custar 1000 euros, fica a 1015 euros”, explica Guilherme Corrêa, um dos sócios, ao Observador.

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Se a garrafeira é sem fronteiras, o mesmo se pode dizer da comida a cargo de Rodrigo Osório, a qual é feita a pensar no vinho. À semelhança dos sócios fundadores, o chef deixou o Brasil por causa da Wines by Heart — enquanto o projeto não arrancou, estagiou nos restaurantes Prado e Belcanto, ambos na capital. Tudo o que chega à mesa pela sua mão tem uma história para contar, garantem-nos, inclusive as “croquetas espanholas” e o toucinho marinado “lardo di Colonnata”. Em dia de visita do Observador casou-se um Riesling biodinâmico, da família alemã Wittmann, com carapau fumado a baixa temperatura, acompanhado por kefir caseiro e compota de cebola; um tinto de Beaujolais, da casta Gamay (lê-se “gamê”), com “terrina típica de um bistrô francês”, e ainda um tinto do Líbano do Chateau Musar para o entrecôte.

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Garrafeira: das 10h às 23h, de segunda a quarta-feira, e das 10h às 23h30, de quinta a sábado. Wine Bar: das 12h30 às 23h, de segunda a quarta, e das 12h30 às 23h30, de quinta a sábado. Encerrado aos domingos. Rua Rosa Araújo nº 35, Lisboa. Tel.: 213 540 772

Vino Vero

O sucesso do primeiro wine bar em Veneza, aberto há cinco anos, foi motivo suficiente para que os sócios tentassem reproduzir o conceito em Lisboa, cidade onde podiam encontrar a tão desejada qualidade de vida. Assim, a 16 de maio de 2019 abria oficialmente o Vino Vero numa pequena rua no bairro da Graça, trazendo consigo vinhos “artesanais”, de pouca intervenção, oriundos de diferentes países: Itália e Portugal, naturalmente, mas também Espanha, Grécia ou Áustria. “A ideia é criar uma viagem por diferentes terroirs da Europa”, assegura Giulia Capaccioli ao Observador. O marido dela é um dos fundadores do projeto, bem como o irmão deste e a respetiva mulher. É por isso que Giulia gosta de repetir que o Vino Vero é um “family affair”.

O que se faz em Veneza faz-se na Graça. No espaço decorado a tons esverdeados estão mais de 200 referências expostas em estruturas de metal que ocupam parte das paredes disponíveis. Todos os vinhos são servidos a copo (de 3,50 a 8,50 euros), à exceção de alguns rótulos mais caros. O Vino Vero é também uma garrafeira, pelo que é possível adquirir as garrafas para abri-las em casa a bel-prazer. E se os vinhos são aqueles cuja intervenção é mínima, na cozinha aposta-se em produtos locais trabalhados “the italian way”, explica Giulia. O menu varia de dois em dois dias, dependendo do que é fresco — por vezes, há risotto com burrata ou pão brioche com sardinha marinada –, mas na ementa nunca falham os tradicionais enchidos e queijos.

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Das 12h30 às 00h, todos os dias à exceção de terça-feira, cujo horário funciona das 18h às 00h. Travessa do Monte 30, Lisboa. Tel.: 218 863 115. 

Black Sheep

Parte do problema era não conseguir vender os vinhos portugueses nos Estados Unidos. Carinho por eles era coisa que não faltava a Brian Patterson, mas o mercado competitivo norte-americano e a categoria “muito, muito, pequena” dos rótulos lusos tornavam a tarefa difícil. Ninguém conhecia as castas ou as regiões, e englobar estes vinhos no portefólio de empresas distribuidoras era tarefa quase impossível. Mas Brian acreditava que eles eram “the nex big thing”, sobretudo depois da primeira viagem a Portugal, em 2009, quando percorreu o país de uma ponta a outra sem saber o que realmente esperar. Alugou um carro, fez-se à estrada e bateu à porta de produtores que, assegura, receberam-no particularmente bem. Dez anos depois sabe que foi essa viagem que pôs tudo em marcha e que o fez congeminar o plano que eventualmente levou-o a mudar-se para Lisboa na companhia da mulher.

Em março de 2017, a capital lusa tornou-se na nova morada a tempo inteiro. O plano inicial era fazer em Portugal o que não tinha conseguido fazer no país de origem, isto é, levar os rótulos portugueses para o mercado do outro lado do Atlântico. Mas se lá não funcionou, cá também não, com Brian a admitir ao Observador que não teve o tipo de resposta que ambicionava. Por esta altura, o casal já estava mais do que apostado em fazer vida em Lisboa, pelo que a prioridade foi encontrar uma solução viável. Chegou a pensar em abrir um restaurante, trabalhou para uma produtora portuguesa de grande escala e acabou por ficar responsável daquele que talvez seja o bar de vinhos mais pequeno da cidade.

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O Black Sheep (“ovelha negra” em português), situado na Praça das Flores, no Príncipe Real, resultou de uma pergunta repetida vezes sem conta, feita a amigos próximos: “Conhecem um wine bar na cidade só com vinhos de pequenos produtores portugueses?”. A resposta — também ela repetida vezes sem conta — agradou-o e há sensivelmente quatro meses o Black Sheep, que também é garrafeira, abriu as portas para dar a conhecer cerca de 120 referências que refletem a máxima da casa: vinhos feitos com a menor intervenção possível. Nas prateleiras do pequeno bar estão rótulos como Casa de Mouraz, António Madeira, Quinta da Palmirinha, Quinta da Serradinha, Casal Figueira, Quinta da Costa do Pinhão, entre outros. Destes, há cerca de 15 vinhos a copo  (de 3,50 a 6,50 euros) — incluindo, brancos, tintos, vinhos laranja e até espumantes –, cuja lista varia semanalmente. Como o bar é pequeno há falta de espaço para acomodar todos os vinhos ambicionados, pelo que a lista de compras permanece pejada de propostas por adquirir. Aos vinhos juntam-se tábuas mistas de enchidos e de queijos, entre outras propostas servidas em doses pequenas.

Das 18h às 00h, segunda-feira, quinta-feira e domingo; das 18h às 01h, sextas e sábados; encerrado às terças e quartas. Praça das Flores 62, Lisboa. Tel.: 935 738 749

Bago du Vin

De diferente, o Bago du Vin tem a vista privilegiada para o mar e, mais ao fundo, a baía de Cascais. O wine bar do InterContinental Cascais-Estoril, hotel de cinco estrelas, está voltado para o paredão que, sobranceiro às praias, une S. João do Estoril a Cascais. À semelhança de quem procura a unidade hoteleira, o bar aposta em vinhos nacionais e internacionais, perfazendo um total de 100 referências, sendo que apenas 20 são servidas a copo. O sistema a copo tem duas tiragens, uma muito pequena que permite ao cliente provar o vinho — e assim ficar a saber se gosta ou não do que lhe é servido — e outra correspondente à dosagem dita “normal” (dos 6 aos 20 euros, nos brancos, e dos 6 aos 50 euros, nos tintos).

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Curioso também é a câmara com queijos e enchidos, na qual qualquer pessoa pode entrar para escolher o que quer degustar. À equipa do Bago du Vin compete, depois, não só cortar os queijos e enchidos à medida — todos eles oriundos de produções pequenas, garantem-nos –, mas também harmonizá-los com os vinhos disponíveis.

A operar a 100% desde março, o bar em si é pequeno e a esplanada é, sem dúvida, o grande chamariz. Em dia de visita ao Bago du Vin, à mesa virada para o mar chegaram diferentes harmonizações: Dona Berta, um branco do Douro, monocasta rabigato de vinhas velhas, com queijo VOC  (de vaca, ovelha e cabra, da Beira Interior); Invisível, vinho branco feito da uva tinta aragonês, do Alentejo, com queijo Nisa, também daquela região; e ainda o tinto Quinta do Todão, 2013, com castas típicas durienses (touriga nacional, touriga franca e tinta roriz) para fazer companhia ao presunto 5j, com 72 meses de cura.

Das 12h00 às 00h, todos os dias. Avenida Marginal 8023, Monte Estoril. Tel.: 213 818 706