João Tamura

19h10, Capitólio (Bastidores)

Numa época em que os rappers e produtores musicais de hip-hop se multiplicam como cogumelos, é bom ver surgir artistas de corpo inteiro, gente com personalidade própria, que basta ouvir os primeiros segundos de um tema para nos reter a atenção. O lisboeta João Tamura é um desses autores divergentes que ainda nos fazem ficar atentos a cada palavra. Chamar-lhe rapper é correto, mas as suas rimas parecem mais de uma espécie de poeta urbano que, talvez por gostar de música, faz hip-hop em vez de publicar os seus versos, em que analisa minuciosamente o exterior e o interior, as dores, derrotas, prazeres e  sonhos da vida. Com vários temas lançados anteriormente, revelou recentemente o primeiro capítulo do seu álbum de estreia, Singapura. O Acto I já pode ser ouvido na internet e é um belo mote para começar a corrida às capelinhas da Avenida da Liberdade neste festival itinerante.

Luís Severo e Convidados

20h10, Tivoli BBVA

Há dois anos, na sala e também no festival a que agora vai regressar, Luís Severo confirmou que 2017 era o seu ano de afirmação definitiva no cançonetismo nacional. O Super Bock em Stock ainda se chamava Mexefest e tinha outro patrocinador, mas a atuação de Severo no Teatro Tivoli BBVA, num ano em que deu muitos concertos, foi boa o suficiente para que o músico gravasse o espetáculo e o utilizasse para um álbum ao vivo chamado Pianinho. Dois anos depois, o mote já não é o disco homónimo (e o segundo de Severo) que boa parte da crítica nacional considerou um dos melhores de 2017, mas o álbum sucessor que lançou este ano, O Sol Voltou, menos alegre e mais sóbrio, menos urgente e mais sereno. Também estão prometidos “convidados” e à rádio Observador o músico revelou tratar-se de um “trio de cordas, formado por harpa, contrabaixo e violoncelo”. Só é pena que a atenção que este concerto merece e exige colida com as hipóteses de ver o americano-sudanês Sinkane, que começa a atuar 20 minutos depois noutra sala, e Angelia Salvi, cujo concerto começa às 20h15.

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Michael Kiwanuka

22h, Coliseu dos Recreios

No seu país, a crítica quase se ajoelhou perante o seu mais recente álbum. O The Guardian, por exemplo, chamou-lhe “um dos melhores álbuns desta década” e disse que o disco tem qualidades sonhadoras e próprias de uma grande revelação artística que lembram “o What’s Going On do Marvin Gaye e o Screamadelica dos Primal Scream”. É provável que haja aqui algum exagero, mas é verdade que Kiwanuka, o terceiro álbum do cantor e compositor homónimo, mantém os níveis de qualidade trazidos pelo disco anterior, Love & Hate, de 2016. Michael Kiwanuka já não é apenas um bom cantor com algum jeito para as canções que dá nas vistas no Youtube, é um cantor na linhagem da boa escola soul que mostra os seus dotes vocais acompanhado por arranjos musicais elaborados, de extremo bom-gosto, com influência do rock, folk e o que mais apanhar pelo caminho. É, também, alguém que se especializou em fazer discos coesos, bons do início ao fim, puzzles em que as peças encaixam todas umas nas outras. A passagem por Portugal é uma boa notícia, o Coliseu dos Recreios a sala certa para um festival que vive de revelações recentes e promessas de futuro. Se o jantar for despachado em poucos minutos, ainda será possível assistir ao talento nacional da promissora Marinho (a partir das 21h15, na sala Ermelinda Freitas) ou ouvir as novas canções pop de Murta (21h10, Cinema São Jorge).

Nilüfer Yanya

23h45, Cinema São Jorge

O que antecede a madrugada pedia um final de primeira noite, no Coliseu dos Recreios, um bocadinho mais apoteótico do que um DJ set dos Friedly Fires (a partir das 0h30). Felizmente, porém, será possível passar as doze badaladas a ouvir esta londrina, com ascendência irlandesa-caribenha (do lado da mãe) e turca (do lado do pai). Nilüfer Yanya tem sangue na guelra e uma voz forte — e usa tudo isso para uma música que junta sintetizadores brilhantes, guitarras rasgadas, percussões dançantes, sopros ocasionais (oiça-se “Melt”) e melodias pop. Oxalá possamos ouvir “In Your Head”, uma canção que dá vontade de virar uma cidade ao contrário ou coisa que o valha, e dançar com a doçura falsamente cândida de “Baby Blu”, ambos temas do seu primeiro álbum, Miss Universe, editado este ano. O futuro está a passar por Yanya.