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Bruno e os melhores 775 euros que um clube pode gastar para ficar cem palavras (a crónica do Sporting-PSV)

Este artigo tem mais de 4 anos

Bruno Fernandes renovou contrato e falou-se de números. Do salário. De cláusulas. Mas há mais números, como os da goleada do Sporting ao PSV (4-0): em 127 jogos, marcou ou deu a marcar... 100 golos.

Bruno Fernandes conseguiu pela primeira vez marcar dois golos e fazer duas assistências no mesmo jogo frente ao PSV
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Bruno Fernandes conseguiu pela primeira vez marcar dois golos e fazer duas assistências no mesmo jogo frente ao PSV

NurPhoto via Getty Images

Bruno Fernandes conseguiu pela primeira vez marcar dois golos e fazer duas assistências no mesmo jogo frente ao PSV

NurPhoto via Getty Images

De um lado, Tiago Ilori. Do outro, Bruma. Recuando à temporada 2012/13, a pior de sempre do Sporting a nível de Campeonato (sétimo lugar, ficando pela segunda vez na história fora das competições europeias), os então jovens da formação leonina foram duas das poucas boas notícias de uma época atribulada com eleições pelo meio, tendo sido lançados por necessidade na equipa principal mas tendo ficado por mérito entre os melhores. No final, ambos forçaram a saída. Ilori assinou pelo Liverpool, onde não fez um único jogo na Premier League em quatro anos de ligação contratual, andou emprestado a Granada, Bordéus, Aston Villa e Reading, voltou a Alvalade. Bruma, que foi para o Galatasaray, esteve cedido ao Gaziantepspor e à Real Sociedad, parecia estar a crescer de vez no RB Leipzig mas perdeu brilho no PSV. A dupla arriscou e pouco petiscou. Mas também há exemplos contrários.

https://observador.pt/2019/11/28/sporting-psv-leoes-podem-garantir-apuramento-para-a-proxima-fase-da-liga-em-caso-de-vitoria/

Nessa mesma época, Bruno Fernandes arriscou sair da formação do Boavista para uma aventura em Itália, onde se estrearia pelo Novara (curiosamente, jogando com Seferovic). Depois, entre Udinese e Sampdória, foi ganhando cabedal. Físico, tático, goleador. E sempre que era chamado à Seleção Sub-21, todos pensavam o que andava a fazer um jogador assim em solo transalpino sem nunca ter jogado na Primeira Liga. Por indicação de Jorge Jesus, o Sporting pagou 8,5 milhões de euros por 90% do passe do médio. Hoje, dois anos e meio depois, percebe-se que o agora capitão é o maior negócio da década do clube. E a renovação esta semana conta o resto.

Muito se falou do aumento salarial que Bruno Fernandes recebeu. E que é factual: mantendo a ligação contratual até 2023 e a cláusula de rescisão nos 100 milhões de euros, passou de 1,2 milhões líquidos por ano para dois milhões de euros limpos por ano (quatro milhões para o Sporting, contando com os restantes encargos). Mais: além de ter abdicado de cinco milhões de euros a que teria direito após a recusa de uma proposta do Tottenham acima dos 35 milhões, deixou cair essa alínea no novo vínculo. Mas há outros números que justificam o novo vencimento além da influência que tem na equipa. Em particular, dois. Em duas temporadas e meia em Alvalade, o jogador fez 10.969 em jogos oficiais, o que perfaz um total de 775 euros por minuto atendendo ao valor pago pelo seu passe (8,5 milhões). Em paralelo, e sendo um médio, leva um contributo direto em 100 golos marcados pelo Sporting nesse lapso de tempo, entre remates certeiros (59) e assistências (41). Esta noite, marcou dois e deu outros tantos a marcar, sendo a principal figura na goleada do conjunto verde e branco ao PSV (4-0).

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Luiz Phellype inaugurou o marcador, Bruno Fernandes bisou e Sporting conseguiu o melhor resultado da época

RODRIGO ANTUNES/LUSA

Ficha de jogo

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Sporting-PSV, 4-0

5.ª jornada do grupo D da Liga Europa

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Orel Grinfeld (Israel)

Sporting: Luís Maximiano; Rosier, Ilori, Mathieu (Luís Neto, 73′), Acuña; Doumbia, Wendel (Rafael Camacho, 80′), Bruno Fernandes; Vietto, Luiz Phellype (Jesé Rodríguez, 67′) e Bolasie

Suplentes não utilizados: Diogo Sousa, Borja, Eduardo e Pedro Mendes

Treinador: Jorge Silas

PSV: Unnerstall; Dumfries, Viergever, Baumgartl, Sadilek; Ihattaren, Rosario (Gakpo, 46′), Hendrix, Bruma (Pereiro, 46′); Malen e Bergwijn (Thomas, 79′)

Suplentes não utilizados: Zoet, Schwaab, Erick Gutiérrez e Mitroglou

Treinador: Mark Van Bommel

Golos: Luiz Phellype (9′), Bruno Fernandes (16′ e 64′, g.p.) e Mathieu (43′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Bruno Fernandes (22′), Rosario (32′), Bolasie (34′) e Tiago Ilori (84′)

Com Luís Maximiano a assumir a baliza em vez do lesionado Renan, naquela que foi a estreia mais nova desde Rui Patrício na posição, Silas trocou o recuperado Mathieu pelo condicionado Coates, voltou a ter à disposição Acuña para lateral e assinou de vez o certificado de redenção para Wendel, depois de ter estado afastado alguns encontros por motivos disciplinares (estando mesmo a treinar nos Sub-23). Na frente, jogaram Bolasie e Luiz Phellype em simultâneo, no apoio andou também Vietto. Mas foi o coletivo que mais se destacou em 45 minutos de sonho que deram a sétima vantagem leonina de três golos na Europa ao intervalo. E foi através desse coletivo transfigurado que mais brilhou aquele que salva o coletivo mesmo quando joga poucochinho: Bruno Fernandes.

O PSV, treinado por um antigo jogador que quando estava no ativo era conhecido por deixar marca nas equipas e também nos adversários (Van Bommel), deixou tudo menos marca em Alvalade. Aliás, à exceção de um período a meio da metade inicial em que conseguiu ligar algumas transições, nunca passou da mediania perante o acumular de erros defensivos e de posicionamentos que deu à mobilidade leonina na frente o espaço para se destacar. Bruno Fernandes, no seguimento de uma jogada pela direita, ganhou espaço no corredor central, tentou um primeiro remate mas Unnerstall defendeu bem para canto (7′). Dois minutos depois, num lance com tanto de simples como de eficaz, nada conseguiu fazer: lançamento lateral de Acuña na esquerda, cruzamento de primeira do capitão verde e branco e desvio de cabeça de Luiz Phellype ao primeiro poste a inaugurar o marcador (9′).

Bruno Fernandes faz a diferença no presente mas, recuando uns meses, percebe-se também que consegue ainda adivinhar o futuro. Basta recordar uma entrevista à SportTV onde revelou que tinha por hábito corrigir a forma de abordar os lances de Luiz Phellype quando chegou do P. Ferreira, dizendo que deveria aparecer mais vezes ali na zona do primeiro poste para se antecipar à defesa contrária. O avançado brasileiro seguiu esse conselho e, logo na primeira oportunidade, marcou. Mas Bruno Fernandes, o visionário, também sabe ler como ninguém o jogo que tem pela frente e foi dessa forma que aumentou a vantagem leonina, ganhando espaço pelo corredor central, vendo a defesa holandesa a recuar sem sair à bola e a rematar de fora da área sem hipóteses para o 2-0 (16′). Ao todo, o médio leva já 17 golos de meia distância desde que chegou a Alvalade, em apenas dois anos e meio.

Um quarto de hora de jogo, um quarto de hora de sonho na presente época do Sporting, incluindo na era Silas. Nos minutos seguintes, mesmo sem grandes oportunidades para o PSV apesar de duas boas saídas rápidas de Bruma, os leões baixaram o ritmo, não tiveram tanta capacidade para chegar à frente como no arranque da partida e ainda correram mesmo o risco de perder Bruno Fernandes que, já com amarelo (que o afasta do último jogo do grupo, com o LASK), teve uma falta a roçar o segundo cartão. O jogo perdeu motivos de interesse até os leões engatarem de novo o estilo rápido, móvel e a explorar os laterais em fase ofensiva que voltou a trazer problemas ao conjunto holandês. E foi no seguimento de um lance onde só por milagre não houve golo com Doumbia de baliza aberta a falhar a bola que surgiu o 3-0: canto na direita de Bruno Fernandes puxado ao segundo poste e remate de pé esquerdo de Mathieu ao segundo poste, a fuzilar por completo o desamparado Unnerstall (43′).

Van Bommel tentou mexer alguma coisa ao intervalo, lançando em campo Gapko e Pereiro para os lugares do já amarelado Rosario e Bruma. E até podia ter reentrado no jogo, com Luís Maximiano a fazer uma grande defesa a remate de Hendrix logo aos 47′. No entanto, esse seria um dos poucos sinais de perigo dos holandeses, que tiveram sempre mais bola do que os leões mas nunca perceberam muito bem o que fazer com ela. Em contrapartida, esse foi o segredo do conjunto de Silas: é certo que o técnico gosta de ver equipas com mais posse, mais passes e mais domínio territorial, mas também percebeu da melhor forma que a melhor forma de ferir os visitantes era apostar na verticalidade da equipa e nas saídas rápidas. Tão rápidas como a de Acuña na última meia hora.

Já depois de um remate de Vietto à entrada da área que saiu por cima por querer puxar tanto ao ângulo, o outro argentino em campo acelerou com a primeira no meio-campo e acabou em quinta na área, onde acabou derrubado num lance sem dúvidas ou necessidades de recurso ao VAR. Bruno Fernandes, com a maior calma do mundo, agarrou na bola, colocou-a na marca e enganou o guarda-redes holandês (falhou apenas um penálti desde que chegou a Alvalade), chegando ao contributo para 100 golos do Sporting entre 59 marcados e 41 assistências.

Depois, deu para lançar Jesé Rodríguez num ataque mais móvel ao lado de Bolasie. E deu para poupar Mathieu, que voltou para fazer uma exibição monstruosa (que provou mais uma vez a importância que consegue ter aos 36 anos quando está bem fisicamente). E ainda deu para oferecer um “prémio” para Wendel, substituído para os aplausos em novo jogo como suplente utilizado de Rafael Camacho. Quando acelerava um bocado mais, era fácil chegar com perigo à baliza do PSV mas, tão ou mais importante para os leões, a garantia de manter a estabilidade defensiva e terminar de novo o encontro sem sofrer golos acabou por imperar, também com sucesso. O Sporting já está na próxima fase da Liga Europa, discutindo agora o primeiro lugar do grupo frente ao LASK na última ronda (bastante um empate para assegurar o topo da classificação) depois da melhor exibição da época.

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