A Marinha brasileira indicou esta quinta-feira que, até ao momento, ainda não possui provas que identifiquem o responsável pelo derrame de petróleo que atingiu o litoral do país há cerca de três meses, acrescentando que tem apenas indícios.

“Todos os esforços estão a ser feitos. No momento, nós temos indícios apenas, não temos ainda provas”, afirmou hoje o almirante da Marinha brasileira Leonardo Puntel, durante uma audiência pública na Comissão Temporária Externa do Senado, que acompanha a situação do derrame petrolífero, que é já o maior desastre ambiental registado no litoral do país sul-americano.

As manchas de petróleo bruto que desde o final de agosto se arrastam pelo litoral nordeste do Brasil alcançaram no final do mês passado, com pequenos fragmentos, praias do estado do Rio de Janeiro, duas semanas após terem chegado também ao litoral de Espírito Santo, no sudeste brasileiro. Segundo o mais recente balanço do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), divulgado na quarta-feira, foi detetada a presença de fragmentos de petróleo em quase 800 pontos do litoral.

Segundo estudos do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, o perfil químico da substância encontrada nos mares do Brasil é compatível com petróleo bruto. Outros estudos laboratoriais levados a cabo pela petrolífera estatal brasileira, Petrobras, concluíram que o crude encontrado foi extraído de três poços venezuelanos, mas, ao fim de três meses, as autoridades brasileiras ainda não conseguiram confirmar quando, nem onde, ocorreu o derrame.

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O almirante Puntel informou esta quinta-feira que as investigação apontam para que o derrame possa ter acontecido a cerca de 400 milhas a leste da Paraíba, o primeiro estado a ser atingido pelas manchas, mas ainda sem certezas. Alguns navios de armadores gregos e alemães estão numa lista de várias embarcações suspeitas de terem causado o derrame quando transportavam o crude venezuelano junto à costa brasileira. Contudo, as investigações não permitiram conclusões.

Leonardo Puntel frisou que as autoridades brasileiras têm abertos três inquéritos para averiguação do responsável pelo crime ambiental em causa. “A maior probabilidade é que o derrame tenha acontecido no trânsito de um navio tanque, mas isso ainda está a ser estudado”, afirmou o almirante.

Para ajudar no combate ao desastre ambiental, a Marinha lançou a “Operação Amazónia Azul” que, segundo Leonardo Puntel, mobilizou, num mês de atuação, o transporte e desembarque de 900 militares e de 1.264 toneladas de equipamentos e materiais para reforçar as ações contra a poluição. Foi efetuada limpeza e inspeção em praias, estuários, manguezais [ecossistema costeiro e húmido presente em zonas tropicais e subtropicais], recifes e corais com o emprego de 64 mergulhadores. A Marinha indicou ainda a recolha de 8,4 toneladas de resíduos.

Em relação a ações futuras, a Marinha prevê iniciar no dia 20 deste mês a segunda fase da operação, que consistirá na continuação da monitorização das praias, e em janeiro entrará a terceira fase. O impacto da contaminação para a saúde humana e a economia das cidades do litoral do Brasil ainda é incalculável.

Voluntários e funcionários de vários organismos públicos trabalham na recolha da substância, mas, segundo o Senado brasileiro, alguns dos voluntários apresentaram problemas de saúde após terem contacto físico com o petróleo bruto. A fauna e flora do litoral brasileiro foram também atingidas pelo crude, que provocou a morte de várias espécies.