A Procuradoria Geral da República mandou investigar a queixa de Ana Gomes relativa às suspeitas de branqueamento de capitais por parte de Isabel dos Santos. Em dezembro, a antiga eurodeputada revelou que tinha feito chegar à PGR “elementos concretos” sobre um alegado esquema de lavagem de dinheiro da empresária angolana. Ao Observador, a PGR confirma que recebeu a queixa e que a reencaminhou para o DCIAP.

Confirma-se a receção de queixa apresentada por Ana Gomes. A mesma foi remetida ao DCIAP para investigação”, diz o gabinete de imprensa.

A revelação de que tinha enviado à PGR, à Autoridade Tributária e às instâncias europeias “elementos concretos” contra Isabel dos Santos foi feita numa audiência do julgamento de uma processo por difamação, que a empresária angolana apresentou contra a ex-eurodeputada, depois de Ana Gomes ter dito no Twitter que Isabel dos Santos “‘lava’ que se farta”.

Forneci elementos à senhora Procuradora. Tenho muitos outros elementos que demonstram que há todo um esquema de empréstimos feito por Isabel dos Santos e seus familiares”, assegurou, adiantando que “entretanto” recebeu “informação altamente preocupante”.

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Na queixa, a que o Jornal Económico teve acesso, Ana Gomes denuncia operações financeiras de Isabel dos Santos relacionadas com a compra da Efacec, transferências de cerca de 100 milhões de euros para empresas de consultoria no Dubai, alegadamente feitas em nome da Sonangol, e o envolvimento do EuroBic, detido, em parte pela empresária angolana, num alegado esquema de empréstimos para ocultar a origem do dinheiro.

Sabendo que o recurso a empréstimos é artifício corrente na criminalidade BCFT [branqueamento de capitais e financiamento de terrorismo] para ofuscar a proveniência de fluxos de capitais, venho solicitar a V.Exas [Procuradora Geral da República e diretora da Autoridade Tributária] que determinem investigações judiciais e tributárias à origem dos fundos” alegadamente usados por Isabel dos Santos, em 2015, quando “adquiriu a empresa Efacec”, lê-se na queixa citada pelo Jornal Económico.

Em entrevista ao Observador, já depois das declarações da antiga eurodeputada sobre a queixa, Isabel dos Santos desmentiu que Ana Gomes tivesse qualquer elemento concreto contra ela, acusando-a de ter uma “política negativa”, muito por causa da proximidade com o ativista angolano Rafael Marques, muito crítico da família do antigo presidente, José Eduardo dos Santos. “As próprias provas — ou supostas provas — que ela dizia trazer, no fundo não passavam de cartas que ela própria tinha escrito, com uma quantidade de alegações falsas”, garantiu Isabel dos Santos, acrescentando que “a prova que ela trazia, que era prova que ela dizia ser um relatório do Banco de Portugal, dizia exatamente o contrário”.

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Antes, em comunicado e a propósito do início do julgamento, já tinha justificado o processo por difamação com os “comentários falsos e lamentáveis” da antiga eurodeputada. “Durante muito tempo, na qualidade de eurodeputada, gozou de imunidade pelo que anteriormente não foi possível tomar nenhuma atitude em relação às falsas acusações e mentiras por ela proferidas. Ao deixar de ser eurodeputada, surgiu pela primeira vez a possibilidade de ir à Justiça reclamar pelo meu bom nome”, afirmou.

Além desta investigação, agora, em Portugal, Isabel dos Santos está a ser investigada em Angola, num processo que levou ao arresto das suas participações em empresas e contas bancárias. O Ministério Público angolano diz que a empresária — a par do seu marido, Sindika Dokolo, e do gestor português Mário Leite da Silva — lesou o Estado de Angola em mais de mil milhões de euros, em negócios relacionados com a Sonangol e a compra e venda de diamantes.

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