Os maiores riscos que o mundo vai enfrentar em 2020 são os “confrontos económicos”, a  “polarização política interna”, as “ondas de calor extremas”, a “destruição de ecossistemas de recursos naturais” e os “ataques cibernéticos a infraestruturas”. As conclusões são do Global Risks Report para 2020, publicado esta quarta-feira pelo Fórum Económico Mundial.

O relatório, produzido pelo Fórum em parceria com a Marsh & McLennan Companies e o Zurich Insurance Group, reúne as avaliações de mais de 750 especialistas e decisores mundiais, que classificam as suas maiores preocupações em termos de probabilidade e de impacto.

De acordo com o relatório, em 2020 haverá um “aumento das divisões nacionais e internacionais e a desaceleração da economia”. “A turbulência geopolítica está a conduzir-nos para um mundo unilateral ‘instável’, de rivalidade entre grandes potências, numa altura em que os líderes mundiais se devem focar urgentemente em trabalhar em conjunto na resolução de riscos partilhados”.

E entre esses riscos comuns para o futuro estão, sobretudo, os riscos ambientais e climáticos. Quando há dez anos, o Fórum Económico Mundial publicou o Global Risks Report para 2010 nenhum dos cinco maiores riscos de longo prazo apontados pelas centenas de especialistas e decisores consultados estava relacionado com o ambiente ou com alterações climáticas.

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Pelo contrário, apontavam para um eventual colapso no preço das ações, para a desaceleração económica da China (que até está a acontecer), doenças crónicas ou para crises fiscais como os maiores riscos com que nos iríamos deparar em 2020.

Dez anos depois — depois de um 2019 marcado pelo fenómeno da ativista sueca Greta Thunberg e com os fogos na Austrália ainda por controlar por completo — o cenário inverteu-se. No Global Risk Report para 2020, divulgado esta quarta-feira, os cinco principais riscos de longo prazo são todos relacionados com ambiente e alterações climáticas. E é a primeira vez na história do relatório que isso acontece.

O Global Risk Report deste ano aponta para os seguintes riscos para a próxima década:

  1.  Eventos climáticos extremos com grandes danos ao património, às infraestruturas e perda de vidas humanas.

2. Fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas por governos e empresas.

3. Desastres e danos ambientais provocados pelo homem, incluindo crime ambiental, como o derramamento de petróleo e a contaminação radioativa.

4. Perda significativa da biodiversidade e colapso de ecossistemas (terrestre ou marinho) com consequências irreversíveis para o ambiente, resultando em recursos severamente esgotados para a humanidade, assim como para as indústrias.

5. Grandes catástrofes naturais como terramotos, tsunamis, erupções vulcânicas e tempestades geomagnéticas.

A lista anterior estava organizada em termos de probabilidade, mas mesmo em termos de impacto o risco mais apontado é ambiental (“Fracasso na mitigação das alterações climáticas”), acima mesmo das “Armas de Destruição em Massa”.

O presidente do Fórum Económico Mundial, o norueguês Borge Brende, resume bem este ponto no prefácio do relatório. “Notamos com grave preocupação as consequências da contínua degradação ambiental, incluindo o ritmo recorde de declínio das espécies animais. Os inquiridos no nosso relatório de perceção de riscos globais também estão a fazer soar o alarme, colocando os temas relacionados com o ambiente e as alterações climáticas no top-5 em termos de probabilidade – a primeira vez na história que uma categoria ocupou os cinco primeiros lugares”.

O panorama político está polarizado, o nível das águas do mar está a aumentar e os incêndios climáticos prosseguem. Este é o ano em que os líderes mundiais devem trabalhar com todos os setores da sociedade no sentido de reparar e revitalizar os nossos sistemas de cooperação, não só para benefícios a curto prazo, mas também para combater os nossos riscos mais enraizados”, conclui.

John Drzik, presidente da Marsh & McLennan Insights, aponta, por outro lado, que as empresas estão a sentir “uma pressão crescente por parte dos investidores, reguladores, clientes e colaboradores para que demonstrem a sua resiliência à crescente volatilidade climática”.

“Os avanços científicos mostram que os riscos climáticos já podem ser modelados com enorme precisão e incorporados na gestão de risco e nos planos de negócio. Eventos de grande relevância, como os recentes incêndios florestais na Austrália e na Califórnia, estão a pressionar mais as empresas a tomarem medidas relacionadas com o risco climático, num momento em que também se deparam com grandes desafios cibernéticos e geopolíticos”, salienta.

Riscos a curto-prazo (percentagem dos inquiridos que consideram que o risco irá aumentar em 2020):

1. Confrontos económicos = 78,5%

2. Polarização política interna = 78,4%

3. Ondas de calor extremas = 77,1%

4. Destruição de ecossistemas de recursos naturais = 76,2%

5. Ataques cibernéticos: infraestruturas = 76,1%

Estes são os riscos no top 5 por probabilidade nos próximos 10 anos:

1. Eventos climáticos extremos (exemplo: inundações, tempestades, etc.)

2. Fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas

3. Grandes catástrofes naturais (exemplo: sismos, tsunamis, erupções vulcânicas, tempestades geomagnéticas)

4. Perda significativa da biodiversidade e colapso dos ecossistemas

5. Desastres e danos ambientais provocados pelo homem

Estes são os riscos no top 5 por severidade de impacto nos próximos 10 anos:

1. Fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas

2. Armas de destruição em massa

3. Perda significativa da biodiversidade e colapso dos ecossistemas

4. Eventos climáticos extremos (exemplo: inundações, tempestades, etc.)

5. Crises de escassez de água

Estes são os riscos globais no top dos mais fortemente interligados:

1. Eventos climáticos extremos + fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas

2. Ataques cibernéticos em grande escala + colapso de infraestruturas de informação críticas e de redes

3. Nível elevado de desemprego estrutural ou subemprego + consequências adversas de avanços tecnológicos

4. Perda significativa da biodiversidade e colapso dos ecossistemas + fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas

5. Crises alimentares + eventos climáticos extremos