O secretário-geral da UGT não é candidato a um novo mandato na central sindical, alegando que o “desgaste tem sido tremendo”, que é visto como força de bloqueio, sendo necessário fazer “todos os esforços” para preparar um candidato.

“Não quero continuar”, “já está decidido e a UGT já sabe disso”, anunciou o atual secretário-geral da UGT, Carlos Silva, numa entrevista no programa “Gente que conta”, do Porto Canal, que será transmitida no domingo à noite.

Carlos Silva, que assumiu a liderança da central sindical numa primeira eleição, em 2013, e se recandidatou em 2017, justificou a decisão de não avançar para um terceiro mandato com o desgaste e com a falta de apoio que sente dentro do PS para tal. As difíceis relações entre o secretário-geral da UGT e os governos de António Costa foram um dos temas abordados nesta investigação do Observador sobre a central sindical.

O mal-estar nasceu ainda antes da aliança à esquerda que viabilizou o primeiro Executivo de António Costa. Carlos Silva mostrou-se publicamente contra a geringonça, declarações que levaram a central sindical a demarcar-se do seu secretário-geral.

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“O desgaste tem sido tremendo. Sinto que hoje, mesmo ao nível do PS, não tenho o necessário apoio, nem a necessária compreensão para me poder recandidatar. Não vale a pena continuar a chover no molhado”, afirmou, para sublinhar que sente que é visto como “uma força de bloqueio”, pelo que não pretende continuar. Ainda sobre este tema precisou, por isso, a necessidade de todos fazerem esforços no sentido de preparar uma candidatura “de um camarada” da” tendência sindical socialista da UGT”, que assuma em 2021 o comando da central. Carlos Silva foi reeleito em 2017, tendo sucedido em 2013 a João Proença que esteve muitos anos à frente da central sindical.

Na entrevista conduzida por Paulo Baldaia, Carlos Silva criticou o facto de o Governo ter decidido convocar os sindicatos para novas negociações sobre os aumentos salariais na função pública para uma data posterior à da votação final global do Orçamento do Estado para 2020 (OE2020).

A votação final global do OE2020 está marcada para dia 6 de fevereiro, tendo, na sexta-feira a ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, anunciado no parlamento que tinha convocado os sindicatos da função pública para uma nova reunião no dia 10 de fevereiro.

“Nós gostaríamos que a reunião tivesse lugar antes do dia 6 de fevereiro. O facto de o Governo vir dar nota que vai convocar a Fesap [Federação dos Sindicatos da Administração Pública] e outras estruturas sindicais para dia 10 significa que vai apresentar um facto consumado”, precisou Carlos Silva.

Na entrevista Carlos Silva criticou a atitude do primeiro-ministro para com a central sindical, afirmando que este tem relegado a UGT para segundo plano, apontando como exemplo um pedido de reunião urgente que fez a semana passada e que foi delegado na ministra do Trabalho.

Nesta entrevista, o secretário-geral da UGT acusa ainda o Governo do PS de “ostensivamente” ignorar os sindicatos nesta negociação dos aumentos salariais da função pública e considera que a atualização de 0,3% “é uma ofensa” e “humilhante”, pelo que a UGT apoiará com “todas as forças” a greve geral da função pública que está marcada para 31 de janeiro. “A negociação faz parte do comportamento democrático”, referiu, para precisar que os governos, nomeadamente um Governo de esquerda como é o do PS, “tem obrigação de se sentar à mesa com os sindicatos”, porque “sem negociação o que há é imposição e a imposição não joga com democracia”.

Apesar de achar que é “errado” fazer a reunião depois da aprovação final do OE202, Carlos Silva afirmou que os sindicatos da UGT estarão presentes. “A UGT e os seus sindicatos nunca ficarão com o ónus de rejeitar uma reunião, um entendimento com qualquer Governo, mesmo que seja depois do Orçamento”, afirmou.