“Estar no banco onde Isabel dos Santos é acionista não tem necessariamente de manchar a reputação de quem aqui tem procurado fazer um bom trabalho.” A frase é de Teixeira dos Santos, o presidente do EuroBic, o banco que tem estado no centro das suspeitas levantadas pelo Luanda Leaks sobre os negócios da empresária angolana.

Estar num banco onde ela [Isabel dos Santos] é acionista não tem necessariamente de manchar a reputação de quem aqui tem procurado fazer um bom trabalho”, disse ainda.

O ex-ministro das Finanças, que é presidente do EuroBic desde 2016, deu à RTP as primeiras declarações depois de ter rebentado o caso que envolve o banco e as transferências feitas a partir de Lisboa e que foram aliás um dos temas sobre os quais deu explicações. E começou por lembrar que a “Engª Isabel dos Santos era elogiada e muito venerada”. Mas apesar de não sentir que a sua reputação ou credibilidade tenham sido manchadas, quando lhe perguntam se voltaria a aceitar o convite para presidir ao banco, Teixeira dos Santos é categórico: “Certamente que não”.

O presidente do EuroBic garante ainda que as transferências feitas da conta da Sonangol, de mais de 100 milhões de euros, para uma empresa no Dubai, alegadamente com ligações a Isabel dos Santos, não foram reportados ao Banco de Portugal na atura porque não tinham de ser.

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Assegura ainda que essas ordens foram dadas por pessoas legitimadas dentro da Sonangol — Isabel dos Santos era uma delas, mas havia outras — e eram “inteiramente legítimas”. As transferências foram ordenadas antes de saber que a angolana tinha sido exonerada pelo Presidente João Lourenço do seu cargo na petrolífera angolana. Acrescenta que o departamento de compliance do banco fez perguntas, sem especificar a quem, e lhe foi garantido que não haveria ligação entre a destinatária das transferências, a empresa a Matter Business Solutions e Isabel dos Santos, daí ter sido pedida uma auditoria à operação.

“Estas operações foram posteriormente devidamente escrutinadas pelo serviço de compliance deste banco que analisou a documentação de suporte desta operação”, apontou

Assinala ainda que a Sonangol nunca interrogou o banco sobre estas operações, “nem nunca pôs em causa os movimentos que constam desse extrato”. Ora foi o presidente que sucedeu a Isabel dos Santos, Carlos Saturnino, que levantou a suspeita de pagamentos feitos a consultoras com ligações à sua antecessora. O Banco de Portugal está a investigar essas operações depois de conhecidas e já impôs medidas de isolamento entre o EuroBic e a sua maior acionista. Isabel dos Santos anunciou entretanto que colocou a sua participação à venda.

Sobre a decisão da Sonangol de abrir uma conta num banco onde a sua então presidente era acionista, Teixeira dos Santos remete a responsabilidade para a petrolífera que escolheu o EuroBic.

Questionado sobre se ficou surpreendido com a divulgação do Luanda Leaks, Teixeira dos Santos admitiu que sim. “Não esperava que quem de facto andou a elogiar e a enaltecer a Engª Isabel dos Santos agora veicule as notícias destas natureza”.

O ex-ministro das Finanças adiantou ainda que não há, para já, comprador para a participação de Isabel dos Santos, mas “há manifestações de interesse, há contactos”. “Estamos todos empenhados para encontrar uma solução para que se concretize aquilo que já é o afastamento da Engª Isabel dos Santos do banco”, disse.

Teixeira dos Santos fez ainda questão de lembrar que não foi ele que vendeu o BPN: “Quando o banco foi vendido, eu já não era ministro”. Explicou que foi convidado para o EuroBic “cinco anos depois de ter deixado de ser ministro”. “Creio que atravessei um período de nojo suficientemente longo”, disse, afastando a hipótese de ter havido um conflito de interesses.