Quando a Tesla fez saber que pretendia instalar uma Gigafactory na Europa, a generalidade dos países, Portugal incluído, iniciou uma espécie de “concurso de beleza” para tentar atrair o investimento do fabricante norte-americano de veículos eléctricos, que acabaria por sorrir à Alemanha. Ainda antes que um processo similar arranque formalmente na América Latina, eis que o Brasil dá o pontapé de saída.

O desejo de atrair uma Gigafactory para a América do Sul, e especificamente para o Brasil, causou alguma estranheza. Entre outros motivos porque, segundo a Clean Energy Americas, não só o parque de veículos eléctricos é irrisório, tal como o plano de incentivos para promover o seu consumo, como havia apenas 26 pontos de carga públicos naquele país, em 2018, e a Tesla nem sequer possui representação no Brasil.

Contudo, a abundante presença de lítio na região poderia tornar-se interessante para a Tesla, especialmente enquanto fabricante de baterias, o que só por si poderia tornar mais atractivo o investimento no país. Isto e o facto de, ao dar o primeiro passo, o Brasil transmitir igualmente uma grande abertura para a concessão de facilidades e incentivos para captar o interesse do fabricante.

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De acordo com o Automotive Business, a vontade do Governo brasileiro em atrair o investimento da Tesla arrancou a 12 de Fevereiro, durante uma reunião no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) brasileiro. Então, perante o ministro Marco Pontes, o director do Desenvolvimento Económico, Tecnologia e Inovação da prefeitura de Criciúma, Claiton Pacheco Galdino, informou ter participado “numa missão em Silicon Valley, nos EUA, onde soube que a Tesla vai construir fábricas na China e Europa” e “que o Brasil deveria integrar essa lista, caso surgisse interesse na América Latina”. Entusiasmado com a ideia, o ministro Marco Pontes decidiu abraçar o projecto e comprometeu-se a um contacto inicial com a embaixada dos EUA no Brasil, para “saber o que é necessário e que tipo de política adoptar” para atingir os seus objectivos.

As negociações tornaram-se públicas depois de os responsáveis brasileiros terem envolvido Anderson Pacheco, engenheiro da Tesla que era amigo e colega de faculdade de Galdino, quando ambos viviam em Criciúma. Quando o ministro Marco Pontes soube da amizade entre os dois, solicitou a Galdino que organizasse uma conversa com o técnico da Tesla. Como este se encontrava a viajar para a Alemanha, o contacto decorreu por videoconferência.

Outro elemento importante nesta aproximação à Tesla é o deputado Daniel Freitas, muito próximo de Marcos Pontes e um dos responsáveis pelas facilidades concedidas à comercialização de veículos eléctricos introduzidas em 2019, favorecendo sobretudo os modelos eléctricos ou híbridos de produção local. Daniel Freitas terá elaborado com Marco Pontes a estratégia para atrair para o Brasil “uma fábrica americana de altíssimo padrão tecnológico”. Mas, segundo o deputado, não necessariamente a Tesla.

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