O Dia Mundial da Vida Selvagem é assinalado esta terça-feira no Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros (PNSAC) com a inauguração do ponto de água da Cova dos Coelhos, um “oásis no meio da serra”, na freguesia de Alcanede (Santarém).

Criado em 2004, o ponto de água situa-se num planalto, “onde a disponibilidade hídrica é mínima”, revelando-se “muito relevante” para a conservação da vida selvagem existente nesta área do PNSAC/Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que é gerida pelo Baldio do Vale da Trave, disse à Lusa um dos dirigentes desta associação.

A degradação do local, criado pelo PNSAC numa antiga pedreira de calçada, sobretudo devido ao aparecimento de javalis na zona, tornou-o inoperacional, disse Luís Ferreira, do Conselho Diretivo do Baldio do Vale da Trave. A recuperação deste ponto de água, que serve de bebedouro para animais e de apoio para o combate aos incêndios rurais e à pastorícia, foi financiada pela Lusical, empresa do grupo Lhoist, que explora pedreiras na zona e tem desenvolvido iniciativas no âmbito das suas responsabilidades ambiental e social.

Luís Ferreira disse à Lusa ter sido surpreendido pela adesão à cerimónia que esta terça-feira se realiza para assinalar a entrada em funcionamento do ponto de água, com a participação de cerca de 60 pessoas, em representação das entidades envolvidas na parceria, mas também de empresas e de associações do setor das pedreiras e de caçadores, corporações de bombeiros e juntas de freguesia, numa demonstração de que “estão envolvidos num processo associado à conservação da natureza”.

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O ponto de água da Cova do Coelho surge como “um oásis no meio da serra”, disse, acrescentando que a intervenção agora realizada permitiu criar uma lagoa secundária para a “chafurda” dos javalis, vedando-lhes o acesso à lagoa principal, na qual foram criadas rampas que, em caso de queda, permitem a saída dos animais. Luís Ferreira referiu o papel das medidas de compensação exigidas às pedreiras que ampliam as áreas de exploração – têm vindo a permitir a recuperação de áreas degradadas, alargadas mais recentemente a projetos de cariz ambiental.

No caso do ponto de água da Cova do Coelho, a Lusical surge como mecenas num investimento que rondou os 40.000 euros, o que representa “cinco a seis vezes mais do que gastaria numa recuperação normal”, numa parceria com o PNSAC, que desenvolveu o projeto, e o Conselho Diretivo do Baldio do Vale da Trave, responsável pela gestão dos terrenos comunitários, num compromisso “com a preservação dos valores naturais que encerram”.

Num outro projeto, de uma empresa que precisa de compensar um azinhal no âmbito da expansão da área de exploração, o Baldio do Vale da Trave vai ceder 32 hectares para as medidas de compensação, próximo do Algar do Pena, valorizando a área. “Há um ponto de viragem no setor da pedra. Hoje a compatibilização da atividade está associada a este tipo de medidas”, declarou Luís Ferreira

O Conselho Diretivo do Baldio do Vale da Trave gere cerca de 600 hectares de terrenos baldios, constituindo as pedreiras aí instaladas uma das fontes de rendimento que a assembleia de compartes canaliza para a requalificação da aldeia “para atrair novos residentes”. Luís Ferreira disse à Lusa que a aldeia, com cerca de 120 habitantes, não tem conseguido fixar os jovens, mas assistiu nos últimos tempos à fixação de cinco casais.

A assembleia de compartes do baldio dos lugares de Vale da Trave, Casal de Além, Covão dos Porcos e Vale de Mar criou, há mais de uma década, a marca “Terra das Ervanárias”, em referência à tradição de uso das plantas que nascem espontaneamente na zona, apostando no aproveitamento dos recursos endógenos para promover o desenvolvimento local. O próximo passo vai ser a criação, numa casa recentemente adquirida, da sede, com a musealização das atividades económicas sazonais da aldeia.

O Dia Mundial da Vida Selvagem das Nações Unidas assinala-se em 3 de março para celebrar a diversidade de animais e plantas selvagens do planeta, sendo “ocasião para refletir sobre a infinidade de benefícios que estas espécies nos proporcionam, e contribuir para a diminuição das ameaças que enfrentam”.