A transmissão do coronavírus que provoca a doença Covid-19 da mãe para o filho é possível durante a gravidez, ainda que rara, sugere um novo estudo de cientistas chineses esta quinta-feira divulgado.

A equipa chinesa seguiu 33 grávidas na cidade de Wuhan, onde o coronavírus SARS-CoV-2 foi detetado em dezembro, e verificou que apenas três bebés nasceram com Covid-19.

Os resultados do estudo, divulgados na publicação científica JAMA Pediatrics, contrariam conclusões de trabalhos anteriores que apontavam que o novo coronavírus era intransmissível das mães para os filhos durante a gravidez.

“Um vez que os procedimentos rigorosos de controlo e de prevenção da infeção foram adotados durante o parto, é provável que as estirpes de SARS-CoV-2 [detetadas] no trato respiratório superior [que inclui nariz, faringe, laringe e traqueia] e no ânus dos recém-nascidos seja de origem materna”, referem os cientistas no estudo esta quinta-feira divulgado.

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Os três bebés, que recuperaram da Covid-19, são todos meninos e nasceram por cesariana, uma vez que as mães tinham pneumonia devido ao coronavírus.

Um dos bebés nasceu prematuro, às 31 semanas de gestação, e teve de ser reanimado. Sofreu uma pneumonia, uma septicemia e dificuldades respiratórias. O recém-nascido curou-se da Covid-19 graças a tratamentos nos cuidados intensivos, que incluíram ventilação, antibióticos e cafeína. Ao fim de sete dias, os testes deram negativo.

Os outros dois bebés tiveram febre, sendo que um deles também teve pneumonia. Ambos estiveram em cuidados intensivos e as análises deram resultado negativo passados seis dias de vida.

Especialistas chineses já tinham dado eco de um caso de transmissão da Covid-19 da mãe para o filho durante a gravidez, depois de o bebé ter acusado a presença do novo coronavírus 30 horas após o nascimento.

É crucial testar todas as mulheres grávidas e aplicar medidas rigorosas de controlo de infeção, de quarentena das mulheres grávidas e vigilância dos recém-nascidos”, defende o novo estudo hoje publicado.

Em Portugal, as grávidas e os recém-nascidos surgem em segundo lugar na cadeia de pessoas prioritárias para fazer testes de despistagem à Covid-19 em caso de sintomas, de acordo com uma norma da Direção-Geral da Saúde (DGS) que entrou esta quinta-feira em vigor para a fase da mitigação da pandemia, a terceira e a mais grave de resposta à doença provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, na origem de infeções respiratórias como pneumonia.​​​​​​

A cadeia prioritária de testes à Covid-19 só será seguida quando não é possível avaliar todas as pessoas com suspeita de infeção, isto é, com sintomas como febre, tosse persistente ou agravada e dificuldade respiratória.

Portugal, em estado de emergência até 2 de abril, regista 60 mortes e 3.544 infeções por covid-19, segundo o balanço feito esta quinta-feira pela DGS. Das pessoas infetadas, 191 estão internadas, 61 das quais em unidades de cuidados intensivos hospitalares, havendo 43 doentes recuperados desde que a infeção foi confirmada no país, em 2 de março.