Desde o início da retoma da Liga que Vítor Oliveira, treinador do Gil Vicente e um dos mais experientes técnicos portugueses, tem sido o principal crítico do recomeço da competição. Tudo começou com as excecionais cinco substituições, que só ficaram decididas a menos de 24 horas do primeiro jogo depois de três meses de interrupção, e prolongou-se com a dificuldades físicas de algumas equipas, depois da derrota dos gilistas na Madeira.
“Estamos a assistir a uma retoma com jogos muitos fracos, por várias vezes. E, se não formos todos a ajudar para que isto melhore, isto piora cada vez mais e acabamos por ter uma parte final do Campeonato lamentável, com maus jogos e daqueles que, apesar de as pessoas verem em casa, perdem um pouco o gosto de ver”, disse Vítor Oliveira depois do jogo com o Marítimo, partida em que acabou por ser expulso por protestos e também deixou muitas críticas à arbitragem. A verdade é que, reclamações à parte, o Gil Vicente levava três derrotas em três partidas depois do recomeço da Liga, um registo que em nada encaixa com a boa temporada que a equipa de Barcelos, recém-promovida, vinha a realizar.
Charles, de Charlot a estrela de cinema num penálti (a crónica do Marítimo-Gil Vicente)
Este domingo, o novo desafio do Gil Vicente era uma receção ao Desp. Aves, último classificado — um último classificado que, ainda assim, forçou o FC Porto a um empate a zeros na última jornada. Com Vítor Oliveira, castigado, nas bancadas, os gilistas entraram em campo com o regresso de Rúben Ribeiro ao onze inicial, depois de ter sido titular no primeiro jogo da retoma mas ter perdido lugar nos dois encontros seguintes. O Gil começou a partida com a clara intenção de tomar conta das ocorrências, logo a partir do apito inicial, inaugurando o marcador logo à passagem dos primeiros 10 minutos: na sequência de um canto na direita e depois de um desvio de cabeça à entrada da área, Henrique Gomes apareceu na zona da marca de penálti a encostar (10′).
Kraev voltou a marcar logo dois minutos depois, ainda que o golo tenha sido anulado por fora de jogo do búlgaro (12′), mas era notória a diferença entre a equipa de Barcelos e a da Vila das Aves. Mohammadi e Sandro Lima foram os protagonistas das duas oportunidades do conjunto de Nuno Manta Santos, em situações consecutivas, mas a partir daí o Gil Vicente embrenhou-se ainda mais no movimento ofensivo e deixou de permitir que o Desp. Aves avançasse no terreno. Rúben Ribeiro obrigou Fábio a uma grande defesa, com um cabeceamento ao segundo poste (21′), e só precisou de um lance semelhante para coroar a boa exibição que vinha a realizar.
Cruzamento de Alex Pinto na direita e Rúben Ribeiro, ao segundo poste, totalmente sozinho e nas costas da defesa, atirou num salto de peixe para aumentar a vantagem (36′). O médio ex-Sporting, que não foi opção de Vítor Oliveira nas duas jornadas anteriores, ia sendo o elemento ‘mais’ do Gil Vicente na partida e o principal desequilibrador da equipa de Barcelos, tanto nos movimentos a partir da esquerda para a faixa central como na presença na grande área. Na ida para o intervalo, os gilistas estavam a vencer por dois golos de vantagem e tinham a tranquilidade de, pela primeira vez desde o início da retoma, olharem para uma partida com a quase certeza da vitória.
No início da segunda parte, Nuno Manta Santos lançou Banjaqui e Rúben Macedo e a verdade é que o Desp. Aves dominou grande parte do segundo tempo, com mais posse de bola e recorrentes aproximações à baliza de Denis. O Gil Vicente só saía em contra-ataque, resguardando a vantagem através de linhas compactas e muito próximas no próprio meio-campo, os avenses ainda viram um golo de Mohammadi ser anulado pelo VAR por fora de jogo (84′), Samuel Lino fez o terceiro no último minuto (90′) e os gilistas acabaram por conseguir blindar a vitória, apesar de se terem retirado da discussão mais ativa da partida a partir da hora de jogo.
Ao quarto jogo da retoma, o Gil Vicente conseguiu finalmente ganhar — e deixar de perder — e chegou a uns importantes 33 pontos, cimentando uma posição a meio da tabela. Vítor Oliveira tinha perdido ajuda depois da derrota na Madeira, a equipa de Barcelos estava a obter resultados que não encaixavam com as boas exibições mas conseguiu espantar os fantasmas na Vila das Aves. E muito tem de agradecer a Rúben Ribeiro, que depois de duas jornadas sem ser opção mostrou a Vítor Oliveira que é um dos elementos mais criativos da equipa e pode ser solução não só na fase de construção como na presença na grande área.