Não é habitual, mas o Lucid Air promete romper com o tradicional, razão pela qual, ainda antes de ser lançado, a marca decidiu anunciar qual a autonomia com o que sedan eléctrico deverá ser homologado pela EPA: nem mais nem menos do que 517 milhas, o correspondente a 832 km. A estimativa resulta de um teste independente, levado a cabo pela EV North America.

O número é duplamente impressionante porque, por um lado, bate o até aqui campeão da autonomia, o Tesla Model S Long Range, que na sua versão mais recente foi homologado pela EPA com 402 milhas, o equivalente a 647 km; e, por outro lado, surpreende pela folgada margem face à concorrência, na medida em que o padrão norte-americano de homologação de consumos e de emissões é mais exigente (e próximo da realidade) do que o método europeu WLTP. Dado o habitual desfasamento entre os dois protocolos, é de esperar que no ciclo de certificação do Velho Continente, o Air venha a reclamar para cima de 850 quilómetros de autonomia. Um recorde que, a confirmar-se, aporta novo ímpeto à mobilidade eléctrica por concretizar uma meta que, há não muito tempo, parecia inalcançável.

Atendendo ao actual estádio de evolução das baterias de iões de lítio, a dúvida que se coloca é que acumulador montará o sedan eléctrico da Lucid. Não há qualquer confirmação até ao momento, mas os rumores apontam para uma capacidade na ordem dos 130 kWh. E, se assim for, estaremos perante uma capacidade 30% superior à do Model S Long Range, que recorre a uma bateria com 100 kWh. Certo é que a química foi desenvolvida com a LG Chem e o ex-Tesla Peter Rawlinson, que é o CEO da Lucid Motors, sempre insistiu que o “truque” não está na capacidade do acumulador, mas sim na eficiência, assumindo como alvo 8 km por 1 kWh. Isto apesar de, aparentemente, estar de momento com uma eficiência de 6,44 km/kWh, similar à do Model S Long Range, que equivale a um consumo de 15,45 kWh/100 km, segundo o método EPA.

Peter Rawlinson foi o engenheiro por detrás do Model S. Agora surge à frente do rival da Tesla

Recorde-se que as raízes da Lucid Motors remontam a 2007, altura em que foi criada a Atieva, uma empresa especializada no desenvolvimento da tecnologia de baterias para veículos eléctricos. Quando, em 2016, passou a chamar-se Lucid Motors e apresentou o concept do Air, a Atieva não desapareceu. Pelo contrário, foi convertida numa área independente da companhia que, desde 2018, fornece as baterias para os carros que disputam o campeonato de Fórmula E. O contrato vigora até 2022, com as vantagens daí inerentes em termos de know-how.

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Contudo, até agora, tem sido a Tesla a dar cartas neste domínio e a marca norte-americana sabe que a Lucid sempre posicionou o Air como um rival do Model S, berlina que tem sido alvo de pequenas actualizações desde 2016. Sucede que a concorrência dá sinais de começar a apertar e Elon Musk não deverá querer perder a vantagem que tem tido. Além de se saber que a versão Plaid (tipo AMG da Mercedes) está a ser desenvolvida, aproxima-se também uma data que alimenta grande expectativa, 22 de Setembro, dia em que se realiza o Battery Day. O evento é um dos mais aguardados no calendário da Tesla desde a revelação da Cibertruck, acreditando-se que aí serão anunciados progressos na química e/ou no software de gestão das baterias. Fala-se, inclusivamente, numa bateria para 1 milhão de milhas, isto é, com uma longevidade de 1,6 milhões de quilómetros, bem como um alcance na ordem dos 1000 km com uma carga completa – fasquia até agora almejada apenas por eléctricos a fuel cell.

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Independentemente dos eventuais avanços que a Tesla tenha em carteira, o Lucid Air parece ter o mérito de ir para a frente, ao contrário de outros projectos anunciados com pompa e circunstância (basta lembrar o flop do Faraday Future FF91). É certo que a startup norte-americana demorou mais do que o previsto a dar andamento ao Air, mas recebeu o investimento necessário para já estar a finalizar a construção da fábrica, no Arizona, onde irá ser produzido o eléctrico de luxo.

Ao apresentar o concept do Air, a Lucid Motors mencionou duas versões, sendo a menos potente alimentada por uma bateria de 100 kWh e a mais possante a tal que recorre a um acumulador de 130 kWh. Neste último caso, foi prometida uma potência acima do milhar de cavalos e uma aceleração de 0 a 100 km/h em 2,5 segundos. O velocímetro, sem limitador, apontará a agulha para cima dos 378 km/h que o Air Alpha atingiu numa oval de alta velocidade. Isto a cumprir-se a palavra do fabricante que, na altura, tratou de garantir que esta não seria “a velocidade máxima definitiva para o Lucid Air de produção”. Resta-nos aguardar, mas já falta pouco para sabermos quais serão (realmente) os trunfos que o sedan de luxo vai esgrimir. Até lá, reveja abaixo o impressionante registo do “Tesla killer”, que será igualmente o “killer” dos restantes fabricantes de veículos eléctricos, a confirmar-se os dados agora anunciados: