“Reunião com carácter de urgência”. A pressão interna e o no universo catalão depois da pesada goleada sofrida pelo Barcelona teve vários episódios, das tarjas colocadas em torno do centro de estágio aos pedidos para marcação de eleições antecipadas. Josep Maria Bartomeu reuniu a Junta Diretiva, dispensou o treinador Quique Setién, veio apelar ao saudosismo blaugrana com a aposta no herói de Wembley Ronald Koeman para sucessor (deixando cair o preferido, Mauricio Pochettino), prometeu uma revolução completa no plantel e agendou novo sufrágio mas só para março de 2021. Menos de 24 horas depois, mais um flic flac à retaguarda e nova mudança anunciada.

Se no comunicado de segunda-feira onde estavam anunciadas as medidas supracitadas era abordada “uma ampla reestruturação da equipa principal levada a cabo através do consenso entre a atual secretaria técnica do clube e o novo treinador, que será anunciado nos próximos dias”, dizendo sem nomes que Ramon Planes e Éric Abidal iam definir com Ronald Koeman as muitas alterações no plantel, 20 horas depois houve nova missiva onde se dizia que “Barcelona e Éric Abidal chegaram a um acordo para a rescisão do contrato que unia ambas as partes”, com o clube a agradecer “o profissionalismo, o compromisso, a dedicação e o trato próximo”. A decisão assentava no trabalho realizado? Talvez. Mas para a imprensa espanhola poderá haver outra razão: o futuro de Lionel Messi.

O argentino e capitão nunca teve uma relação fácil com o antigo companheiro de equipa nesta nova função e houve mesmo um choque público depois da saída de Ernesto Valverde do comando dos catalães. “Via os jogos e não olhava para o resultado mas sim para a forma como se jogava, para a tática, para o trabalho dos jogadores, que não jogavam muito. Foco-me nesses detalhes. Muitos jogadores não estavam satisfeitos nem trabalhavam muito e também havia um problema de comunicação interna. A relação entre o treinador e o balneário foi sempre boa mas há coisas que enquanto ex-jogador consigo entender. Comuniquei ao clube aquilo que pensava”, disse o francês. “No caso dos jogadores, daquilo que se passa no relvado, para além de que somos os primeiros a reconhecer quando não estamos bem. No caso dos responsáveis, devem assumir as suas responsabilidades e sobretudo assumir as decisões que tomam. Por último, quando se fala de jogadores era bom dar nomes porque caso contrário estamos a sujar todos e a alimentar coisas que se dizem e que não estão certas”, respondeu o argentino.

A ferida nunca ficou sarada e, na manhã desta quarta-feira, já depois da saída de Abidal, Ramon Planes subiu na hierarquia e assumiu a liderança da equipa técnica para estancar os rumores que se começavam a levantar. Poucos minutos depois, a confirmação do sucessor de Quique Setién: Koeman, o Tintin que foi referência da defesa do Dream Team de Cruyff e que marcou o golo na vitória de 1992 na Taça dos Clubes Campeões Europeu em Wembley frente à Sampadória, rescindiu com a seleção holandesa e tornou-se oficialmente treinador do Barcelona.

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“Se tudo correr bem, Koeman será o treinador. Apostamos nele porque o conhecemos muito bem, porque sabemos como é e como pensa, porque sabemos como jogam as suas equipas. Falei com ele e disse-me que Messi será o pilar do seu projeto. Definiu Messi como número 1 do mundo e por isso é intransferível e ele sabe disso. Acredito que vai continuar connosco para a próxima época”, destacou Bartomeu esta terça-feira numa entrevista à Barça TV onde nomeou a lista de oito jogadores que irão ficar garantidamente para a próxima época: o guarda-redes Ter Stegen, os defesas Nelson Semedo e Lenglet, o médio Frenkie de Jong e os avançados Messi, Ansu Fati, Griezmann e Ousmane Dembélé (a que se junta, espera-se, o já contratado Pjanic, antigo médio da Juventus).

Ou seja, e na visão de Bartomeu, pesos pesados como Gerard Piqué, Jordi Alba, Sergio Busquets, Luis Suárez, Arturo Vidal ou Rakitic encontram-se todos na linha de saída, o que também faz com que Lionel Messi, que está de férias com Alba e Suárez e ainda não abordou publicamente o descalabro da equipa frente ao Bayern desde o final do encontro, possa ter outros planos que não aqueles que Bartomeu perspetiva. De acordo com o jornal Marca, há três cenários em cima da mesa: mudar-se para o PSG, sair para o Manchester City ou… renovar contrato. Para a publicação, o argentino tem noção de que será necessário fazer uma reforma profunda na equipa (que até deveria ter começado antes) e que, por norma, esses momentos não trazem títulos. Aos 33 anos, não terá tempo para isso.

A hipótese de permanecer está longe de ficar descartada, sendo que, apesar das negociações que se arrastam há vários meses, não só Messi não renovou ainda o contrato que termina em 2021 como tem uma cláusula que lhe permite sair desde que seja anunciado numa determinada janela temporal. Caso não chegue a esse acordo, até porque a relação com Bartomeu também está longe de ser pacífica como se foi percebendo em vários episódios ao longo da temporada onde teve de assumir posições mais duras enquanto capitão na defesa do plantel, existem duas possibilidades para rumar a breve prazo: o PSG, onde poderia reencontrar o amigo Neymar e formar com Mbappé e o brasileiro um tridente fortíssimo para atacar a Champions; ou o Manchester City, onde Guardiola acaba de renovar e onde poderia encontrar, caso prolongasse vínculo, o amigo e compatriota Sergio Agüero.