Nasceu na Cidade Condal, é um dos empresários hoteleiros de maior prestígio em Espanha, lidera o consórcio Turismo de Barcelona, está ligado também às áreas mais institucionais da Real Federação Espanhola de Futebol mas tornou-se sobretudo conhecido pela forte ligação aos blaugrana. Ao longo de mais de duas décadas foi vice do clube, a 23 de julho de 2000 assumiu a presidência com 54% dos votos. Hoje há quem recorde Joan Gaspart como um dos melhores números 2 da história centenária do Barça mas também um dos piores números 1 de sempre, a que não é alheio o presente envenenado que recebeu logo após a eleição – Florentino Pérez cumpriu a promessa no sufrágio do Real Madrid, pagou a cláusula de rescisão e Figo mudou-se para a capital espanhola.

Duas décadas depois, ainda hoje o nome de Gaspart é associado a uma das saídas mais duras na história do clube. 20 anos depois, foi um dos nomes mais procurados para comentar uma saída que promete ser tão ou mais dura na história do clube – e ainda mais se assinar por um clube-estado como Neymar, como PSG ou Manchester City. Por isso, o antigo líder pede a todo o custo para que tudo seja feito para aguentar o argentino; caso contrário, também deixa outro conselho: que não exista qualquer tipo de perdão aos 700 milhões de euros de cláusula.

“Peço por favor de joelhos, em nome de milhões de aficionados, para que Leo Messi fique. Não sei se Bartomeu ou Koeman se colocaram de joelhos para evitar isso. Se não houver outra saída, há um contrato, existem condições estabelecidas e que não perdoem um único euro. Pedindo de joelhos para ficar, se quiser ir só com os 700 milhões da cláusula”, disse à Mediaset. “Não pode ir, que vá em 2021. Vi o contrato e é muito claro: a cláusula acabava em junho e não há marcha atrás. Prefiro que vá no próximo ano por zero do que saia agora por menos de 700 milhões. Aqui quem manda é o clube, não é o jogador. O clube pagou aos jogadores. E isto não é uma questão de dinheiro, aqui existe um contrato assinado e para ser cumprido”, acrescentou depois à rádio Marca.

“Uau, outro momento histórico”, comentou entretanto Luís Figo, numa frase nas redes sociais que voltou a colocar na memória dos adeptos catalães a traumática saída para o rival. Aqui não será o caso, até porque o Real Madrid está a trabalhar numa redução de custos para adequar a folha salarial à quebra de receitas que existiu por causa da pandemia, mas abre uma outra disputa já discutida na manifestação da noite desta terça-feira em Camp Nou e que pode chegar a uma moção de censura: terá Josep Maria Bartomeu condições para ficar na liderança do clube? Para Joan Gaspart, sim, até porque o Barcelona tem de ser sempre maior do que qualquer jogador; para Juan Laporta, outro antigo presidente e que quer voltar ao poder, não, até porque é outro episódio da delapidação do clube a nível desportivo, económicos e patrimonial. Bartomeu recusou a ideia de sair pelo seu próprio pé, o que é justificado também por alguns órgãos pelos estatutos do clube e pelo assumir de parte da dívida de um elenco diretivo quando sai com as contas negativas com uma margem 10% ou mais acima do que estava orçamentado.

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Ninguém é capaz de apontar algo certo no futuro. Onde irá jogar Messi? Como ficará a situação de Bartomeu? Como deverá o Barcelona reagir à perda do capitão e jogador mais influente na história do clube? Ainda assim, houve um dado novo no dia em que Francisco Trincão, extremo português do Sp. Braga que acaba de ser chamado pela primeira vez à Seleção, foi oficialmente apresentado como reforço dos catalães: o argentino não pretende voltar aos treinos marcados para o início da próxima semana, estando disponível para um braço de ferro.

“Messi comunicou-nos que não irá comparecer aos treinos. Estamos a falar com o jogador e estamos a tentar arranjar a melhor solução para o clube e também para o próprio Messi. É preciso ter um respeito enorme pelo Messi e pela sua história no clube. Este casamento trouxe muita alegria a todos. Estamos a conversar e queremos arranjar a melhor solução possível. Queremos um Barça vencedor com Messi, que é um vencedor, e não estamos a contemplar a sua saída”, comentou Ramons Plantes, elemento que foi promovido a secretário técnico (que assume o papel de diretor desportivo) na passada semana por troca com Abidal, ex-jogador do clube e companheiro do argentino que teria abandonado Camp Nou para “dar” mais um argumento ao esquerdino para ficar.

A luta pelo argentino, essa, parece continuar fechada a duas grandes hipóteses. Josep Maria Minguella, antigo dirigente do Barcelona que teve um papel fundamental ao assinar o primeiro contrato do argentino com o clube quando tinha apenas 11 anos e num guardanapo de um restaurante, assegurou à Cadena Cope que “Messi já tem uma equipa e essa equipa é o Inter”. “Em Itália pagam menos impostos e estão a tentar revitalizar o futebol, com vantagens nos contratos publicitários dos futebolistas. Em relação ao Barcelona, recordo uma coisa: Bartomeu disse que os jogadores teriam de sair do clube com honra e na semana seguinte despediu um jogador pelo telefone [Luis Suárez, numa chamada feita por Koeman]”, acrescentou. Todavia, na Argentina e em Inglaterra, as notícias vão noutro sentido com uma proposta do Manchester City por três épocas que seriam prolongáveis por mais duas depois jogando na franquia da equipa nos EUA. Bartomeu, esse, pediu uma reunião ao jogador… já hoje.